quarta-feira, 25 de março de 2009

Frente a Frente


A militância está ávida pelo debate. Esse foi o sentimento que brotou nos dois dias de encontro entre dirigentes do Comitê Estadual do PC do B.

A idéia de chamar a Frente para um debate de balanço da experiência administrativa acumulada, de revisitar princípios e repactuar a aliança foi recebida com entusiasmo. Há um clima de unidade política invejável no interior do partido. A animação política se soma com as conquistas obtidas nos últimos anos. O PC do B protagoniza bem na cena política e quer ir além. Debater as mudanças operadas no cenário político e as limitações vividas no atual quadro da construção da Frente Popular será pauta do debate. Um debate aberto com as forças integrantes da Frente e com a sociedade.

Terminamos a reunião com um sentimento de que 2009 será marcante. Os vinte anos de Frente Popular servirão de recarga para novos saltos e grandes conquistas.

Apostamos nisso.

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Ver Sangue
21 de março de 2009
Leandro Altheman

A sabedoria popular diz que uma pessoa que não possa ver sangue, não poderá ser um bom médico ou enfermeiro. Digo, no entanto, que será um médico muito pior aquele que goste de ver sangue. Afinal de contas, cirurgias delicadas exigem a mão firme, habilidade e conhecimento e uma boa dose de sangue frio. Mas a motivação de um bom médico deve ser a de estancar as hemorragias, e não de abri-las.

Peço desculpas aos profissionais da área de saúde, por me intrometer, indevidamente, nesta tão nobre ocupação. Mas o faço, para traçar um paralelo, com a minha própria profissão, que como na saúde, às vezes também exige uma boa dose de sacerdócio. Afinal, lidamos também com a vida, pois ela é feita não somente de tecidos e células, mas também da história que cada um constrói ao longo de sua vida. E a história que se escreve a cada dia é a humilde ocupação do jornalista.

Esta semana, vi sangue. Escorrendo entre as linhas maledicentes dos sites da capital, lá estava ele, sob a forma das acusações contra o Assessor Especial dos Povos Indígenas Francisco Pianko. As acusações, ainda em fase de apuração, publicadas sem preocupação com a ética, fizeram "sangrar", por assim dizer, não apenas o acusado, mas sua família, que no âmbito indígena começa em casa, mas se estende pelos graus de parentesco sanguíneo ou adquirido através do casamento. Parentesco que se estende até mesmo para além dos limites da aldeia, abraçando outros povos, que é justamente o caso dos Ashaninka, que tem uma relação de parceria e aliança com o Povo Yawanawá.

Assim a "notícia" atingiu num raio muito maior: família, parentes, amigos e até as relações interculturais entre diferentes povos indígenas.

É aqui que entra a deturpação do que deveria ser o "faro jornalístico": certos colegas não podem sentir cheiro de sangue, não por que desmaiem, mas porque lhes aguça o paladar. Se estiver misturado à lama, aí então deve lhes parecer qual irresistível iguaria.

E há ainda, uma boa parcela da imprensa "hemofílica", que se alimenta diariamente deste tipo de "informação".

No entanto, depois de esmiuçado o "pudim de sangue" que foi publicado, não se encontra fatos, mas apenas rastros, que pela imprecisão do cálculo, corta aquilo que deveria salvar. Assim, na bandeira de "combate a pedofilia", se expõem sem provas concretas, a dignidade das jovens Yawanawá, maculando a imagem da própria juventude e de todo um povo indígena.

Penso que em casos como este nosso Código de Ética deveria ser aplicado com mesmo rigor do que a um médico que propositalmente provocasse uma hemorragia com o seu bisturi. Talvez somente aí, quem sabe, certos setores da imprensa possam se dignar a ter a responsabilidade de quem verdadeiramente também lida com a vida.

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