quinta-feira, 23 de abril de 2009

QUEM AJUDA O OUTRO É MAIS FELIZ


HOJE, É TÃO COMUM AS PESSOAS BUSCAREM A FELICIDADE COMPRANDO OU TENDO COISAS. E QUANTAS PROMESSAS SÃO VENDIDAS AOS MONTES PARA SE CONSEGUIR ESSA TAL FELICIDADE: CASA, CARRO, PODER, INFLUÊNCIA, STATUS, BELEZA, DINHEIRO, BENS MATERIAIS...
MAS A FELCIDADE NÃO ESTÁ NAS COISAS, ESTÁ EM NÓS MESMOS. DESPERDIÇAMOS FELICIDADE QUANDO NÃO DANOS AMOR, ATENÇÃO, SOLIDARIEDADE OU PERDÃO. ESSAS SÃO PEQUENAS AÇÕES DE GRANDES SIGNIFICADOS, QUE FAZEM TODA A DIFERENÇA PARA UMA VIDA MAIS FELIZ.
QUER SER FELIZ? PENSE MENOS EM SI E SE DEDIQUE AO OUTRO. SERVIR É O VERDADEIRO SEGREDO DA FELICIDADE. AO AJUDAR O OUTRO, TEMOS PLENA CONSCIÊNCIA DO QUANTO PODEMOS SER ÚTEIS.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

"SUSAN BOYLE"Susan Boyle - Singer - Britains Got Talent 2009 (With Lyrics)


No dia 11 de abril passado, a inglesa Susan Boyle, 47 anos, virgem, feia e gordinha, apresentou-se no programa Britains Got Talent.

Foi ridicularizada quando disse que queria ser uma cantora profissional, vaiada quando disse sua idade, e quando anunciou a música que iria cantar: "I Dreamed a Dream", do musical "Les Miserables".

Então, soltou a voz. O público delirou. Era uma voz de anjo. As pessoas choraram, tentaram cantar junto. Os jurados se remexeram nas cadeiras, o terrível apresentador, que tentara ridicularizá-la, se encolheu e arregalou os olhos.

No fim, foi aplaudida de pé. As pessoas choravam desbragadamente. Uma das juradas pediu desculpas pelo cinismo com que ela foi recebida.

Susan Boyle é pura magia: feia, gorda, virgem aos 47, mas arrebentou com os conceitos de beleza e arte vigentes na mídia.

Começou a sonhar em ser cantora e a estudar aos 12. Quando se apresentou, estava desempregada. Recebeu a maior nota entre todas as pessoas que se apresentaram nos três anos de existência do programa.

Impossível não se emocionar. Veja no Youtube. Espalhe.

A arte não tem cara feia nem bonita, não tem idade. É apenas arte. Talento.

Susan estuda canto há simplesmente 35 anos. Sozinha.

Os empresários disputam um contrato com Susan Boyle desde que ela veio a público dizer que queria ser uma cantora profissional.

◙ Luciano Martins Costa é jornalista

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Novo estatuto retira de índios a condição de inimputáveis




Uma mudança na legislação banca da pelo governo permitirá que a Justiça puna os índios que cometem crimes com o mesmo rigor com que são julgados os demais brasileiros. O texto do novo estatuto dos povos indígenas, que substituirá a legislação de 1973, será fechado no fim deste mês e define que os índios não são inimputáveis e têm plena capacidade para compreender o significado de seus atos. Para condená-los, a Justiça precisará avaliar se o ato praticado está de acordo com os usos e costumes da comunidade indígena a que pertence e se o índio tinha consciência de que cometia uma ilegalidade.

O novo texto corrige uma incongruência da legislação brasileira. O estatuto dos povos indígenas, que vigora desde 1973, diz que o índio é inimputável, ou seja, que não pode ser punido por seus atos porque não teria condições de saber o que é certo ou errado. A Constituição de 1988, por outro lado, diz que os indígenas podem ir à Justiça defender seus interesses. Poderiam, portanto, ser punidos também por seus atos. A divergência entre as normas criou situações antagônicas no Judiciário. Em alguns casos, os índios ficavam impunes; em outros, mesmo sem a perfeita noção de que haviam cometido um crime, eram julgados com o mesmo rigor que o não-índio.

Para evitar decisões que se choquem, o novo texto exigirá a produção de um laudo antropológico que determinará até que ponto aquele índio sabe que a conduta praticada é criminosa e para investigar se o ato está ou não de acordo com os valores culturais de seu povo. Essas informações serão consideradas pelo juiz na hora de dar o veredicto. Se o ato praticado for ao encontro de seus valores culturais e costumes da comunidade a que pertence, o índio não será punido. Caso contrário, será julgado como qualquer brasileiro. Além disso, a Justiça poderá livrar o índio que já tiver sido punido por sua comunidade.

CIDADÃO
O propósito central do novo estatuto é superar a ideia de que o índio pode ser tratado como “um débil mental”, como traduziu um integrante do governo, e colocá-lo no mesmo patamar que qualquer cidadão. “A lei não vai mais tratar o índio como inferior, incapaz, mas como cidadão brasileiro com direitos e deveres, respeitados seus usos e costumes”, disse o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Márcio Meira. “O índio tem a capacidade de entender o que é certo ou errado, mas isso deve ser analisado de uma forma nova pela Justiça”, acrescentou o secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Pedro Abramovay.

De acordo com o texto, que precisa ser aprovado pelo Congresso, cabe somente aos juízes federais decidir sobre as disputas que envolverem direitos indígenas. E, quando forem julgar um índio acusado de algum crime, deverão obrigatoriamente pedir uma perícia antropológica para saber se o acusado tinha ou não consciência de que o ato era ilegal - isso nem sempre é feito hoje. Os índios, por sua vez, terão direito a um intérprete, para que se defendam com mais desenvoltura em sua própria língua.

A proposta pode tirar da Funai a incumbência de defender os índios perante o Judiciário. O Ministério da Justiça entende que, com o fim da tutela, não cabe a um órgão do Executivo fazer a defesa pessoal dos indígenas. Como qualquer brasileiro, os índios seriam representados pela Defensoria Pública e pelo Ministério Público - a saída da Funai encontra resistência entre índios e dentro do próprio órgão e, por isso, esse ponto ainda vai passar por uma discussão mais aprofundada.

DIFÍCIL ATUALIZAÇÃO
Um projeto de atualização do estatuto dos povos indígenas, de autoria do hoje senador Aloizio Mercadante (PT-SP), tramita no Congresso há 18 anos. Em 1994, um texto alternativo foi aprovado, mas um recurso apresentado pelo PSDB acabou por deixá-lo parado na Mesa da Câmara desde então. De lá para cá, vários outros projetos foram apresentados para alterar pontos da legislação, como o tratamento penal dos índios, possibilidade de exploração de recursos minerais e hídricos em terras indígenas e mudanças na forma de demarcação. Nenhum avançou.

A um ano e meio das eleições de 2010, o grande desafio do governo e das organizações indígenas é garantir que o novo esforço por um estatuto atualizado não acabe também parado na Câmara. O presidente da Funai diz acreditar na aprovação do texto, especialmente por ser uma proposta construída em consenso entre governo, líderes indígenas e sociedade civil.

“Nós avaliamos que estamos num momento de amadurecimento. Por muito tempo, o governo ia para um lado, o movimento indígena ia para outro e a sociedade civil ia para um terceiro lugar. Temos hoje um ambiente favorável para recuperar a ideia de um novo estatuto, de um documento que seja de entendimento entre os povos, governo e sociedade civil”, disse Meira.


NOVA VIDA LEGAL

CRIMES
O novo estatuto - O índio é capaz de distinguir o certo do errado e deve ser responsabilizado por crimes que cometa. Os juízes deverão providenciar perícia antropológica. O índio que praticar ato em virtude de seus valores culturais será isento de pena.

Estatuto de 1973 - O estatuto de 1973, que ainda está em vigor, deixa o índio sob a tutela do Estado e determina que os indígenas são inimputáveis. Isso significa, na prática, que não podem ser punidos pelos crimes que eventualmente cometam

Como é hoje - Os juízes não seguem regra predefinida. Alguns pedem que um laudo antropológico para saber se o indígena tem noção do ato que cometeu. Outros o punem como um criminoso qualquer, independentemente dos valores culturais

MINERAÇÃO
O novo estatuto - É permitida a mineração em terras indígenas. Empresas poderão pesquisar e explorar recursos minerais, desde que tenham assentimento dos índios. Para isso, deverão pagar contrapartidas aos povos e compensar eventuais danos

Estatuto de 1973 - Pelo estatuto de 1973, a exploração “das riquezas do solo” cabe somente aos índios. A autorização para exploração de recursos do subsolo estava condicionada ao prévio “entendimento com o órgão de assistência ao índio”

Como é hoje - A exploração de riquezas minerais em terras indígenas por empresas é proibida. A Constituição permite a pesquisa e lavra nessas áreas, mas condiciona a exploração à aprovação de uma lei específica. A legislação nunca foi votada

CULTURA
O novo estatuto - Pelo novo estatuto, o Estado deverá preservar, proteger, valorizar, difundir e fazer respeitar a organização social das comunidades indígenas brasileiras, incluindo os costumes, as línguas, as crenças e as tradições das tribos

Estatuto de 1973 - O estatuto de 1973 dizia que era dever do Estado preservar a cultura dos indígenas e “integrá-los, progressiva e harmoniosamente, à comunhão nacional”. Os índios considerados primitivos pelo estatuto deveriam ser civilizados

Como é hoje - A Constituição aprovada em 1988 reconhece aos índios “sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições” e define que o Estado deve proteger as manifestações culturais dos povos indígenas.




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terça-feira, 14 de abril de 2009

‘O Poder Legislativo foi minha universidade’


“Não sei o que as seringueiras e castanheiras fizeram de mal a essa gente que comprou as terras e derrubou tudo”

O Acre perdeu, na semana passada, um dos seus políticos históricos, o ex-vereador e ex-deputado estadual Geraldo Maia. Natural de Cruzeiro do Sul, era apaixonado por sua terra e sua gente, mas, acima de tudo, era um apaixonado pelo Acre e sua história, em especial, a história do Parlamento. Em julho de 2008, há menos de um ano, portanto, o ex-deputado Geraldo Maia gozava de boa saúde e memória quando concedeu uma importante entrevista à Agência Aleac e que o Página 20 reproduziu na edição do dia 14/04/09. O texto original é do jornalista João Maurício Rosa.

O ex-deputado Geraldo Pereira Maia, 77 anos, guarda nas gavetas os papéis que documentam a sua produção parlamentar na Assembleia Legislativa do Acre. São cópias de projetos-de-lei e recortes de jornais que demonstram os tempos idos pelo amarelado de suas páginas. Mas, o que Geraldo gosta de destacar são os projetos para a instalação dos municípios de Plácido de Castro e Mâncio Lima, que já haviam sido criados, sem que fossem efetivamente instalados até 1976. Nascido em Cruzeiro do Sul, Geraldo Maia cresceu na periferia da cidade, onde seu pai, o agricultor cearense Ancelmo Maia de Carvalho, possuía as terras que produziam o sustento da família. Esta intimidade com o meio rural o torna insuspeito para afirmar que o Acre de hoje sofre as consequências do passado extrativista, quando só comprava e não produzia os alimentos que consumia. Hoje, segundo ele, derrubaram as seringueiras e as castanheiras e “só nasce pé de boi”. O ex-deputado lembra que se, ao mesmo tempo em que se instalavam as fazendas, houvesse um trabalho de incentivo para os seringueiros, não teria ocorrido o êxodo para as cidades. “Ninguém quer viver isolado com os filhos doentes”, argumenta. Geraldo Maia não teve oportunidade de fazer curso superior, mas afirma que o Poder Legislativo foi a sua universidade. “Quem quer dedicar-se ao estudo do Direito Administrativo, Constitucional, para quem quer estudar Economia e Política, a vida social e o desenvolvimento sustentável do Estado e dos Municípios, o Poder Legislativo, seja Estadual ou Municipal, é uma faculdade”. Em sua carreira política, foi três vezes vereador por Cruzeiro do Sul e três vezes deputado estadual, além de ter ocupado inúmeros postos importantes de administrações municipais e estadual, como diretor administrativo da Eletroacre. Em sua vida profissional, foi guarda sanitário laboratorista do serviço de hanseníase em Cruzeiro do Sul e enfermeiro do posto de saúde.

Qual é a origem de sua família?
Meu pai nasceu em Russas, no Ceará, e minha mãe é paraibana de Araruna, mas hoje os Pereiras vivem em Serra Grande, na Paraíba. Com 10 anos de idade, em 1914, meu pai veio para o Acre com os pais dele e foram morar numa colocação chamada Cabelo de Cuia, no Alto Juruá, na beira de um igarapé que hoje pertence ao município de Porto Walter. Eu já nasci em 1931 em Cruzeiro do Sul. Meu pai era um agricultor arranjado, tinha o necessário para sustentar a família, e minha mãe era uma dona-de-casa e mãe exemplar. Ela estudou até o quinto ano, o que para a época, por volta de 1920, era muito bom, o equivalente a um segundo grau, talvez.

O senhor cresceu na zona urbana?
Não, na zona suburbana. Meu pai tinha um sítio onde hoje está o quartel do Exército em Cruzeiro do Sul, a cinco quilômetros do centro da cidade. Ele plantava de tudo, da macaxeira ao café, a cana-de-açúcar e o feijão com arroz. Eu me lembro que quando tinha uns nove anos ele colheu 12 sacas de café, uns 600 kg, que vendeu tudo no comércio de Cruzeiro. O café era torrado em casa mesmo, numa lata. Abria a lata em bandas, dobrava as bordas, jogava o café e colocava na brasa e ia mexendo. Quando chegava num ponto misturava com açúcar gramixó para dar cor. Quem passa a uma certa distância sente aquele aroma agradável e saudoso. Alguns médicos da época não recomendavam o açúcar para quem sofria de barriga-d’água, mas para muitos o café era um santo remédio. Estava com dor de cabeça, mandava fazer um café amargo... Então minha infância foi assim, não tinha muito tempo para carinho ou para empinar papagaio. Brincava, quando muito, de bola, pião e peteca.

Quando o senhor entrou para a política?
Primeiro, como eleitor, em 1950. Daí comecei a participar de associações, depois me convidaram para entrar no PSD, depois a Arena, depois o PDS, mas atualmente eu era do PMDB. Em 1963 me candidatei a vereador em Cruzeiro do Sul e fui o segundo mais votado. Cumpri três mandatos e me afastei da política durante dois anos. Mas, como os amigos insistiram, eu decidi me candidatar a deputado estadual em 1974. Tive quase dois mil votos e fui reeleito outras duas vezes, cumprindo então três mandatos de deputado estadual.

Como era sua atuação na Aleac?
Meu primeiro projeto foi mudar o regimento interno, depois mudar o nome da sala das sessões, fui presidente de quase todas as comissões, desenvolvi trabalhos de acordo com o que a Constituição me permitia e fui pedir a instalação dos municípios de Mâncio Lima e Plácido de Castro. Nesta época, o governador Geraldo Mesquita me perguntou se não tinha medo de ser cassado, já que era época da revolução. Eu disse que não cometi nenhum ato para perder mandato, pois não estou criando municípios e só estava pedindo sua instalação, o que aconteceu em 1976.
E foi, na minha opinião, sem nenhuma vontade de me engrandecer, a gota d’ água para o desenvolvimento do Estado, pois hoje estes municípios têm infra-estrutura, estradas, não se transporta mais doentes em redes. Acho que estes foram os processos mais importantes do parlamento na época de forma social e administrativa. Também foi minha a indicação para a construção do Colégio Agrícola de Rio Branco. Na verdade, indiquei também a construção de um colégio agrícola em Cruzeiro do Sul, mas não tive sucesso. Eu também fiz um projeto para criar postos médicos nos seringais, para dar melhoria aos seringueiros que estavam deixando as terras e vindo para a cidade. Defendi muito e tive a sorte de o governador Nabor Júnior criar diversos postos médicos e treinar pessoas para dar atendimento ao homem do campo.

Como o senhor acompanhou o êxodo de seringueiros para as cidades?
Faltou a presteza do governo ao homem do campo. Não acompanharam o melhoramento do cotidiano do homem do campo. Ele não quer viver no isolamento com filhos doentes. Hoje ele já tem alguma coisa, tem a aposentadoria do Funrural, do soldado da borracha, mas, antes, viravam pedintes. Eu deposito a culpa por este êxodo à falta de assistência ao homem do subúrbio, do seringal, das colônias. Se você dá uma assistência na sua labuta no cotidiano vai, com certeza, refletir no mercado, vai ter abastecimento que é a cesta que nós compramos. Produz-se bem, compramos o melhor. Se não, vamos comprar sem saber se é melhor, pois é importado e mais caro. E poderíamos ter um produto mais novo, mais fresquinho, mais suave, sem tanto inseticida. Então faltou presteza ao governo para dar qualidade de vida ao homem do campo e hoje o Estado paga estas consequências. Não sei o que as seringueiras e castanheiras fizeram de mal a esta gente que comprou as terras e derrubou tudo. Agora os seringueiros só plantam banana e o resto é pata de boi.

Quais foram as melhores experiências do senhor no Parlamento?
A Aleac para mim foi uma universidade. Éramos nove deputados, depois foi a 15 e 17. Tive a honra e o prazer de conviver com colegas como Raimundo Melo, Alcimar Leitão, Carlos Simão, Alberto Zaire, Carlos Afonso, Wildy Viana, grandes oradores. O Poder Legislativo, seja municipal ou estadual, é uma escola superior para qualquer cidadão que queira se dedicar ao estudo do Direto Administrativo, Constitucional, a vida econômica, social e o desenvolvimento sustentável do seu município, do seu Estado

A “Sarça Ardente” revelada


A palavra páscoa deriva do hebraico "pesach", nome que significa literalmente "passagem". É uma alusão à passagem dos hebreus pelo Mar Vermelho, o que determinou a sua afirmação enquanto povo. Num nível simbólico a travessia do mar Vermelho, simboliza que a orientação divina é capaz de nos fazer ultrapassar o impossível.

No Novo Testamento, conta-se que a ressurreição de Jesus ocorreu durante a comemoração do "pesach" e simbolicamente recebeu o significado de que Ele também havia "passado" através do impossível, ou seja, a própria morte.

Uma história que quase todo mundo conhece, mas que pode ser observada sob um novo ângulo.

A história bíblica conta que Moisés subiu o Monte Sinai e lá, diante de uma "Sarça Ardente", teve as revelações divinas com as quais conduziu o seu povo. "E vendo o Senhor que ele se virara para ver, chamou-o do meio da sarça, e disse: Moisés, Moisés! Respondeu ele: Eis-me aqui". (Exôdo. Cap. 3).

A Bíblia não traz detalhes de como teria sido esta conversa entre Moisés e a "Sarça Ardente"; ou se preferir entre Moisés e Deus, mas de algum modo tendo uma planta como ponte.

Foi em virtude deste acontecimento que Moisés passou a referir-se à Deus, como aquele que habita na sarça o que fez pela primeira vez durante a bênção das tribos de Israel (Deuteronômio 33:16).

O professor israelense Beni Shanon causou protestos no mundo religioso ao sugerir que o profeta Moisés teria ingerido Ayahuasca. O professor teve contato com a bebida em 1991 na Amazônia Brasileira, mais exatamente em Rio Branco, Acre. Exceto pelo fato de que as plantas da ayahuasca não vingam no solo desértico do Oriente Médio, a teoria merece no mínimo destaque, afinal partiu de um israelense (e portanto, em tese descendente do próprio Moisés) e professor da Universidadede Jerusalém.

Pesquisadores do inovador campo da consciência associam que importantes "passagens" da humanidade tenham ocorrido através da liberação do DMT (dimetil-triptamina) no organismo. O DMT é uma substância produzida pelo próprio corpo, o que justifica a denominação de enteógeno (ente=ser) ao invés de alucinógeno.

Jejuns prolongados, determinadas doenças, vigília prolongada entre outras privações seriam capazes de estimular a produção do DMT pelo organismo.

Uma das reações do DMT no organismo seria a percepção ampliada do Universo e a sensação de que os limites humanos, normalmente experimentados no dia-a-dia, seriam apenas produtos de nossas projeções mentais, sem relação intrínseca com a realidade subjacente. Em outras palavras, o universo revelado pelo DMT é aquele onde os milagres são possíveis.

O DMT pode ter também a sua produção estimulada através da ingestão de determinadas plantas.

"Sarça" é uma espécie de nome genérico para um tipo de arbusto espinhoso, da família das acácias. Na verdade, botanicamente, a sarça seria mais aparentada da Jurema, do que da Ayahuasca. Não por acaso, a Jurema, planta espinhosa do sertão nordestino é também utilizada como forma de conexão com o mundo espiritual em rituais indígenas.

A figura utilizada na Bíblia, tendo a sarça "um fogo que não consome", pode parecer um tanto quanto estranho ou deveras milagroso para a maioria das pessoas. Mas não é de fato, tão sobrenatural assim, para quem faz ou fez o uso da Ayahuasca, para citar uma (a nossa, brasileira e amazônica) entre outras centenas de plantas já catalogadas, capazes de elevar a consciência humana.

Depois disso fica difícil acreditar que Deus só tenha se manifestado no Monte Sinai, para o povo Hebreu, e que o restante deste lindo planeta com incontáveis culturas e tradições esteja desprovido da presença divina. Acreditar nisto seria o mesmo que fechar os olhos para a realidade.

Lá diante do povo Yawanawá, a história de Moisés, me veio de outro modo. Lembrei que os hebreus viviam como escravos, trabalhando na terra dos outros, e tendo que esconder sua própria cultura, alheios à história dos seus ancestrais.

Então Moisés subiu a montanha e lá no Monte Sinai, através de uma planta, conversou com Deus e este lhe ordenou que retirasse seu povo da escravidão e o conduzisse pelo deserto até a Terra Prometida, também fez severas recomendações com relação ao culto religioso quer deveria seguir a mesma forma da aliança selada anteriormente com seus ancestrais: Abraão, Isaac e Jacó.

Lá nos Yawanawá, existe um terreiro sagrado, onde cresce uma de suas plantas sagradas. O Mucá. É lá, de joelhos no chão e pés descalços, que as lideranças espirituais da tribo recebem as instruções e orientações para conduzirem suas vidas pessoais e da comunidade. É através de suas plantas sagradas que vêm buscando se re-conectarem com a verdade de seus ancestrais.

Graças à orientação recebida através destas plantas sagradas é que os povos indígenas vão se transformando, de ex-escravos do sistema patronal e de uma cultura e religião alheia à sua própria, em protagonistas de sua própria história. Deixando para traz um passado de opressão e atravessando o Mar Vermelho, realizando no seu dia-a-dia o milagre do impossível: renascendo das suas próprias cinzas.

Um presente que nos foi legado pelos povos indígenas desta região e que hoje é compartilhado por milhares de pessoas em todo mundo e que tem permitido também, que muita gente possa também renascer de suas próprias cinzas, ajudando a abrir os olhos para o verdadeiro milagre que é a vida e o Universo em que vivemos.

Saber contar uma história, é tudo.

Leandro Altheman

A LUTA CONTRA UMA PALAVRA


Moisés Diniz

A deputada Perpétua Almeida convidou a intelectualidade acreana para discutir a mudança do Acordo Ortográfico, entre os países de língua portuguesa, que determina o gentílico acriano para quem nasce no Acre. À primeira vista pareceu uma luta inglória. Depois se agigantou. Descobrimos que lutar contra a adulteração de nossa memória lingüística, mesmo que seja através da legalidade científica, é uma tarefa de todos os acreanos, independente de cátedra, opção política ou credo.

Acho que a luta contra uma palavra é uma guerra mais árdua do que um combate contra um país. Pois, muitas vezes, um país não luta como nação, luta como soldado, como mercenário e sem nenhuma paixão. A luta contra uma palavra não é uma luta qualquer. É como juntar os anjos na terra e os demônios no céu, pois uma palavra pode destruir uma fortaleza, aniquilar uma nação.

Corno! Pedófilo! Ladrão! Dito a muitas vozes já destruiu famílias, cargos públicos, propriedades e biografias. Acriano! Uma palavra é uma serpente de fogo, um vulcão indomável, uma tempestade, um deus do mal. Uma palavra pode mexer com tudo que um homem cultivou, sua história, seus valores, seus afetos. Não brinquem com as palavras. Elas podem ferir muito mais do que uma palmatória de fogo, uma lâmina de sal.

Por isso, não vamos brigar com nós mesmos. Nós escrevemos acreanos há quatro gerações e não temos culpa se o Acordo Ortográfico demorou um século para se efetivar. Não vamos brincar com a palavra que foi escrita por nossos pais. Eles não estão mais aqui para dela cuidar, ficar valente com quem queira adulterá-la, brigar por ela. Eles estão, todavia, pensando e escrevendo por nós.

Nesses dias descobri que o Acre é, de fato, um lugar especial. Surpreendente como o nosso povo discute os assuntos que lhe dizem respeito, mesmo que problemas mais básicos não tenham ainda sido superados. O jovem desempregado, o homem sem casa própria, a mulher na fila do hospital ou o ancião na ponta da rua aonde o asfalto ainda não chegou. Eles estão discutindo a beleza do acreano e o incômodo do acriano, mesmo sabendo que este último é o filho verdadeiro da língua.

Aqueles que andam sempre na rua de baixo, mesmo que assinem um dr antes do nome, vão questionar porque nós não estamos tratando dos problemas básicos do povo, como educação, saúde, emprego, moradia, transporte e saneamento. Vão, talvez, perguntar porque não estamos questionando os parlamentares semi-analfabetos que se elegem ou aqueles que resvalam para a corrupção.

Não perderemos tempo com esse assunto. O Acre é pequeno e todos se conhecem. O que vamos fazer é defender um ponto de vista: a nossa história como povo é mais importante do que a história da língua e esta não pode suprimir a história da palavra, que tem um mundo ao redor, um ritual, com dores humanas e alegrias, sentimentos coletivos e até revoluções.

Eu escrevo puraquê, nos tratados e nos concursos, e falo puraqué na rua. Eu escrevo bacuri e alimento o bacurim, sou picado pela tucandeira e escrevo tocandira, caço uma nambu e escrevo inambu, exconjuro a côa e escrevo acauã, há cem anos, às margens dos igarapés, nas casas de palha e de alvenaria. Eu falo acriano e escrevo acreano. Nós nunca brigamos, nesses cem anos, para que o Brasil ortográfico mudasse essas palavras criadas pela voz rouca de nossos pais.

Acreano é muito mais do que um adjetivo gentílico. Acreano é um personagem indígena, nordestino e revolucionário. Sua idade é de um século, sua pele é queimada pelo sol amazônico, marcada pelos insetos da floresta e suas mãos ainda têm a marca e o odor da pólvora de nossa revolução. Nossa história exige que, mesmo que insistam alguns doutores da ortografia, o mapinguari e a caipora nunca se tornem acrianos. Se o coração humano bate a cada segundo, o personagem acreano tem três bilhões de pulsos, mais cento e dez milhões e quatrocentas mil batidas de um coração.

Por que o Acordo Ortográfico está nos impondo o acriano como adjetivo gentílico? Em linguagem simples dá para compreender o fenômeno morfológico que ocorre com a palavra ‘Acre'. A sílaba tônica é ‘A-cre' e, dessa forma, por ser átono o -e- de ‘Acre', ele não permanece no radical da palavra derivada, havendo a vogal de ligação -i- para acomodar o radical ‘Acr-‘ ao sufixo ‘-ano: ‘acriano'. O fenômeno morfológico que determina o gentílico acriano não levou em conta que o uso consagra a forma, apesar do saber erudito, suas regras morfológicas e a história da língua.

Continuaremos a ter a mais indiscutível deferência a eruditos gramáticos como Antônio Houaiss, Aurélio e Celso Luft que consagraram o uso acriano, junto com a forma acreana. Mas, continuaremos lutando pela manutenção de nossa tradição secular de sermos grafados como acreanos. Imagine quem nasce na Coréia ser chamado de coriano, por causa de uma lei morfológica, que se sustenta numa intrincada engrenagem erudita de sílabas tônicas ou átonas e vogais de ligação.

O filólogo Evanildo Bechara, titular da Academia Brasileira de Letras, diz que, apesar de respeitar nossa resistência cultural, acreano com ‘e' é um erro de história da língua, uma espécie de mentira morfológica. Se acreano é uma mentira morfológica, permaneceremos nela, porque é uma mentira contada por todo o povo, durante cem anos. E mentira que é contada por todo um povo, durante um século, deixa de ser mentira e passa a ser verdade histórica. E a história se torna palavra, como o Verbo que se fez carne ou a palavra que se fez luz.

E não foi acriano que da história e da revolução nasceu. Não foi acriano que surgiu das mãos valentes de Plácido de Castro e nem do seu sangue inocente. O general Pando não sofreu o vexame da derrota para os acrianos e nem o Tratado de Petrópolis deles se ocupou. E acrianos não são os filhos de Chico Mendes. Por que queimar milhares de cartas que chegavam do árido sertão, onde as mulheres amadas de nossos avós suspiravam e diziam: chegará o dia em que partirei e, às margens de um lago na bela terra acreana, eu te amarei.

A evolução lingüística não se faz por decreto, como se pudesse um pai fazer um acordo com outro pai sobre o amor e a paixão dos seus filhos. Ela está sujeita a leis históricas inexoráveis. O tupi foi proibido através da lei e as línguas indígenas foram abandonadas pelas próprias aldeias, a partir da vontade imposta pelo homem branco. Mas, nem a lei e nem a vontade branca mataram a história e a vida das línguas indígenas, sua sonoridade, seus significados milenares e sua afetividade.

O gentílico acreano originou-se do Aquiri (forma pela qual os exploradores da região transcreveram a palavra uwakuru, do dialeto dos índios Apurinãs). E nunca é demais lembrar que, antes dessa terra ser conhecida e explorada pelo homem branco, as coisas do mundo amazônico já possuíam nomes para designar o lugar, como os rios, as planícies, os lagos, os animais, as plantas. O acreano já existia antes do Acre, como uma profecia no imaginário indígena.

A chegada do homem branco deu início a um processo de aniquilamento físico e esfacelamento do universo cultural, de seu mundo lingüístico, e da organização econômica. Por isso, como uma nova esquadra de navios mercantes, a chegada desse novo acordo ortográfico assusta os acreanos e sua secular teimosia morfológica. É que nós temos passado. A árvore genealógica do Acre está viva. Nossos antepassados mais distantes ainda têm os seus nomes gravados em seus túmulos. Nosso passado é tão forte que se mistura ao presente, como o abraço de uma avó e a travessura de um bisneto.

E vamos continuar assim, apaixonados pela água da chuva, o barulho do vento, a dança indígena, a paz das aldeias, o amor ritual, a paixão acreana. É que vai ficar muito ruim a gente escrever uma poesia sobre a revolução acriana e não vai dar para mudar o verso do hino que fala do sol amazônico que ‘enche' o peito de cada acreano.

PCdoB aponta ''fatos novos'' a 37 anos da Guerrilha do Araguaia


A Guerrilha começou em 12 de abril de 1972, com o ataque do Exército à população pobre do sul do Pará, e terminou em 1975, esmagada pelas tropas do Exército, com a captura e execução dos últimos guerrilheiros. A ditadura ordenou que não fossem feitos prisioneiros e proibiu a imprensa de noticiar o ato.

Com a redemocratização, o Araguaia ganhou as manchetes e teve início o movimento pela abertura dos arquivos e a entrega dos corpos dos guerrilheiros. Renato Rabelo adverte que o projeto de submergir a região com a represa da Usina Santa Isabel ''tornaria impossível encontrar os restos mortais dos que ali tombaram''.

Veja a íntegra:

''Exigências democráticas em relação à Guerrilha do Araguaia''

''No dia 12 de abril completa-se 37 anos do início da Guerrilha do Araguaia, principal movimento armado de resistência à ditadura militar, ocorrido nas selvas da Amazônia, no sul no Pará.

Mais de 70 combatentes, com o apoio da população local, sobretudo, dos camponeses pobres, por quase três anos enfrentaram as tropas das Forças Armadas que mobilizaram mais de 12 mil homens para a região. Os guerrilheiros e guerrilheiras lutaram e deram suas vidas para a edificação de um país democrático, soberano e que assegurasse vida digna ao povo.

Naquele período o país vivia sob uma sangrenta ditadura que havia sufocado as liberdades democráticas e reprimia violentamente as formas mais elementares de manifestação. À medida que a ditadura multiplicava seus crimes, crescia na Nação o sentimento e a consciência de que a resistência em prol da democracia deveria se insurgir contra àquelas atrocidades. O PCdoB ecoando está consciência de amplos setores da sociedade, concluiu que a resistência guerrilheira seria um importante instrumento na luta pelas liberdades e pela democracia.

O Partido Comunista do Brasil rende suas homenagens aos combatentes do Araguaia- homens e mulheres que tombaram em combate ou foram covardemente torturados e executados pelos algozes. Por terem lutado ao preço de suas próprias vidas pela causa do Brasil, do povo e da democracia, integram a galeria dos heróis do povo brasileiro.

Transcorridos quase quatro décadas daquela heróica jornada, hoje vivemos uma nova situação. Grandes avanços democráticos, de afirmação da soberania nacional e conquistas sociais foram obtidos. Há, no entanto, uma mácula que torna inconcluso o processo de redemocratização do país. Uma dívida de caráter humanitário que o estado brasileiro sob a direção de forças progressistas não pode deixar de pagar.

Até agora se negou ao povo e à história o conhecimento dos fatos ocorridos num período tão importante para a nação. Os arquivos da ditadura não foram abertos e os corpos dos mortos e desaparecidos no enfrentamento ao regime militar não foram entregues as seus familiares para que pudessem ser sepultados em túmulo honroso.

Fatos novos impõem a retomada do debate sobre o tema.

Há uma sentença proferida pela Juíza da 1ª Vara da Justiça Federal do Distrito Federal, já transitada em julgado. Tal sentença determina, entre outras medidas, a abertura dos arquivos relativos à Guerrilha do Araguaia e a devolução dos corpos dos guerrilheiros a seus familiares.

Para agravar a situação há em discussão o projeto de construção da Usina Hidroelétrica de Santa Izabel que, segundo notícias da imprensa poderá alagar a região da guerrilha, o que tornaria impossível encontrar os restos mortais dos que ali tombaram.

O Partido Comunista do Brasil, por suas convicções e em sintonia com os legítimos direitos e anseios dos familiares dos mortos e desaparecidos na Guerrilha do Araguaia, mais uma vez, exorta o governo federal para que acelere a abertura dos arquivos da ditadura sobre a Guerrilha do Araguaia. De igual modo, com apoio dos democratas brasileiros, conclama o governo da República a atuar com firmeza e agilidade para remover obstáculos que há décadas impedem que os corpos dos guerrilheiros sejam entregues aos seus familiares.

São Paulo, abril de 2009
Renato Rabelo, presidente nacional do PCdoB