quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Sibá fala das relações entre as articulações políticas nos planos nacional e estadual



RIO BRANCO - Sibá Machado, apesar da sua humilde origem rural, pode ser considerado um intelectual da política acreana. Representante do Acre no Diretório Nacional do PT, O ex-senador está terminando o mestrado. Geógrafo de profissão, ele quer continuar a carreira acadêmica para chegar ao doutorado. Aos 52 anos, Sibá Machado é atualmente assessor político do Governo do Estado e membro titular do Conselho de Administração da empresa que constrói a Hidroelétrica de Girau, no Rio Madeira. Estrategista e dono de um fino faro político, o ex-senador fez uma análise do panorama político acreano nesta entrevista a Nelson Liano Jr.

O tabuleiro estadual do Acre

Para Sibá, falar de política no Acre passa necessariamente pela análise da saída da senadora Marina Silva (PV-AC), de quem ele é suplente, do Partido dos Trabalhadores. “Posso comparar a Marina ao Lula que saiu de uma terra seca, que é o nordeste, para disputar na vida. A Marina saiu do seringal. Os dois têm trajetórias muito parecidas. Assim como os ideais de construção de Brasil e do Acre também são parecidos. Mas no exercício de governo é onde podemos compreender a divergência entre eles. A Marina fez uma crítica de que na sua avaliação o nosso desenvolvimento privilegia os investimentos de infra-estrutura para o crescimento, e não desenvolvimento. Entendo que o Lula tem razão em outro fato, nós só somos governo há oito anos e é muito pouco tempo para corrigir o Brasil desde Pedro Álvares Cabral. É impossível colocar a velocidade de ações que a Marina pediu”, destacou.

No entanto, Sibá, acha que a Marina acabou ajudando, com a sua saída do PT, a FPA. “Para nós do Acre a Marina acabou cumprindo um papel porque a FPA tem 20 anos e os partidos da sua época de fundação estão ainda todos juntos. Nesse caso, a disputa por cargos majoritários têm que expressar as lideranças que surgiram nesse período e solucionar o incomodo dos desejos de outras pessoas que estão em fase de crescimento. Temos um triunvirato maior da política do Estado começando com o Jorge Viana, que ficou como o número um e a Marina ficou como a numero dois. Nesse intervalo foram construídos outros nomes. Diante disso, os partidos querem crescer e estão pedindo vagas no campo majoritário. Ela cumpriu uma missão de militante, inclusive, dentro dos seus preceitos religiosos que tem de deixar a fila da FPA andar abrindo a oportunidade para uma outra pessoa disputar a vaga de Senado,” argumentou.

Marina contra Dilma

O ex-senador também analisou a disputa presidencial entre Dilma Roussef (PT) e Marina Silva (PV). “Não concordo com as críticas que a Marina fez ao Lula. Como membro do PT, também não concordo com as razões apresentadas por ela para sair. Não vejo um partido político que não tenha seus problemas internos. Poderia ter havido mais diálogo. Nesse caso, estou com o Partido dos Trabalhadores. O Brasil estava andando de joelhos em relação a políticas externas, também diante do FMI e não tinha voz ativa em lugar nenhum do mundo. O Mercosul era na verdade fruto muito mais de uma vontade política do que de uma realidade. Agora, nós temos tudo isso corrigido. Uma distribuição de renda, que tanto pregamos, avançamos na reforma agrária, ainda que esteja longe de chegar onde a gente tanto pregou. Mas entre o que era e é hoje muita coisa avançou. Construímos uma liderança indiscutível para o mundo que é o presidente Lula, aquele operário. Vou citar uma frase do Aécio Neves (PSDB), ‘eu não vou discutir o Lula, mas o pós-Lula’. Os quadros do PT poderiam ter apresentado nessa discussão o nome da Marina. Mas não foi lembrado, porque no próprio processo de construção interno ela nunca se colocou aberta a um diálogo nessa direção. Se tivesse dado um toque, a própria militância do PT poderia ter se mobilizado. A Dilma Roussef tem dificuldades. Ela sempre teve. A Dilma foi formada na guerrilha urbana, que era choro e ranger de dentes com fuzil na mão. Diferente da trajetória da Marina, que foi enfrentar a fome e o analfabetismo. Mas a Dilma enfrentou a morte diante dum fuzil. Aprendeu a comandar deixando o coração em casa. Compreendo que ela virou um general e uma administradora. Ela não teve tempo para se construir com o coração na mão. Agora está aprendendo muito com o Lula” argumentou.

Segunda vaga para o Senado na FPA

Sibá Machado confessa que ainda sonha em ser senador. Mas preferiu não colocar o seu nome na disputa. “Tive, sim, vontade de colocar o meu nome até mesmo por ter passado por lá. O cargo de senador é forte, principalmente, se a gente está num embate político. Vim de lá, mas como sou um dirigente do PT, não precisou ninguém vir falar comigo. Eu mesmo me adiantei. As vagas para o Senado já estão reservadas. Na saída da Marina, como não temos uma liderança na FPA na altura dela, a gente ficou com uma série de outros líderes que se sentem em condições de ocupar esse espaço. A FPA é quem tem que decidir,” salientou.

A lembrança da escolha dos nomes para a eleição de 2002 é uma referência para Sibá. “O Geraldo Mesquita (PMDB-AC) só foi senador por um acaso. Em 2002, quando nós discutíamos os nomes para a disputa do Senado, nós procuramos o Márcio Bittar (PSDB). A reunião interna do PT foi para fazer uma aliança com o Márcio Bittar para a segunda vaga do Senado. Delegamos a Marina Silva para conversar com o Márcio. Ele disse não”, lembrou.

O ex-senador analisa o quadro de pretendentes à vaga. “O PT reivindicar isso a plano estadual é um problema. A direção nacional gostaria que fossem dois candidatos ao Senado do PT. Porque sabe que se a Dilma ganhar vai precisar muito mais do Congresso Nacional do que o Lula precisou. Então, quanto mais parlamentares do PT estiverem no Congresso será melhor para a Dilma. Mas nós sabemos que para a construção da FPA e o respeito aos partidos aliados não pode ser assim. Além disso, sabendo das dificuldades da chapa de federal esse ano, eu nem toquei nesse assunto e nem vou tocar. Entendo apenas que não vejo possibilidade do PT reivindicar as duas vagas. A não ser que ocorra um fenômeno que nos obrigue a tratar do assunto. Senão a decisão vai ficar mesmo para a FPA,” garantiu.

A opção entre Henrique, Fernando e Edvaldo

Sibá prefere não revelar a sua preferência pessoal na escolha do candidato. “O bom é virar consenso. Se os três estão com vontade, não têm problema. Numa escala de prioridade, o PT tem que tentar encerrar o assunto internamente. Se o PT chegar só com o nome do Jorge Viana, um problema já está resolvido, que é o que acho que deve se feito. Mas ouviremos todos os partidos. Nós nunca decidimos candidaturas por votos. Todos os partidos vãos entrar em pé de igualdade. Candidato majoritário que passar por uma votação interna vai representar apenas a vontade de alguns”, analisou.

O perfil ideal

A decisão sobre a segunda candidatura ao Senado pela FPA vai depender também do contexto nacional. “O Diretório do PT está cobrando que as alianças nos estados podem acontecer, mas o critério tem que ser governabilidade no plano nacional. O nome escolhido para a segunda vaga vai ter que obedecer essa perspectiva. No segundo plano é a construção interna. O Henrique era do PT. O PC do B até o início do ano passado participava de um bloquinho no Congresso Nacional, com o PSB e o PDT, que iria indicar um candidato próprio a presidência da República. Mas o bloquinho se desfez. O PDT declarou apoio ao PT e o PC do B vai fazer a mesma coisa. Teremos agora que esperar o posicionamento do Ciro Gomes, do PSB. Mas essa cobrança virá. O perfil que estamos trabalhando no Acre é para um político que possa somar nos próximos 10 anos. Porque é agora que nós vamos entrar no momento delicado da nossa matriz de desenvolvimento que é a organização do setor produtivo. Por isso, posso garantir que, pessoalmente, a amizade que tenho maior com qualquer deles ficará em segundo plano em função da governabilidade,” explicou.

(Reportagem: Portal JuruáOnline - http://www.juruaonline.com.br)