Outro dia escrevi um artigo sobre o amor. Depois, escrevi outro sobre sexo.
Os dois artigos mexeram com a cabeça de pessoas que encontro na rua e que me agarram, dizendo: "Mas... afinal, o que é o amor?" E esperam, de olho muito aberto, uma resposta "profunda". Sei apenas que há um amor mais comum, do dia-a-dia, que é nosso velho conhecido, um amor datado, um amor que muda com as décadas, o amor prático que rege o "eu te amo" ou "não te amo". Eu, branco, classe média, brasileiro, já vi esse amor mudar muito. Quando eu era jovem, nos anos 60/70, o amor era um desejo romântico, um sonho político, contra o sistema, amor da liberdade, a busca de um "desregramento dos sentidos". Depois, nos anos 80/90 foi ficando um amor de consumo, um amor de mercado, uma progressiva apropriação indébita do "outro". O ritmo do tempo acelerou o amor, o dinheiro contabilizou o amor, matando seu mistério impalpável. Hoje, temos controle, sabemos por que "amamos", temos medo de nos perder no amor e fracassar na produção. A cultura americana está criando um "desencantamento" insuportável na vida social. O amor é a recusa desse desencanto. O amor quer o encantamento que os bichos têm, naturalmente.
Por isso, permitam-me hoje ser um falso "profundo" (tratar só de política me mata...) e falar de outro amor, mais metafísico, mais seminal, que transcende as décadas, as modas. Esse amor é como uma demanda da natureza ou, melhor, do nosso exílio da natureza. É um amor quase como um órgão físico que foi perdido. Como escreveu o Ferreira Gullar outro dia, num genial poema publicado sobre a cor azul, que explica indiretamente o que tento falar: o amor é algo "feito um lampejo que surgiu no mundo/ essa cor/ essa mancha/ que a mim chegou/ de detrás de dezenas de milhares de manhãs/ e noites estreladas/ como um puído aceno humano/ mancha azul que carrego comigo como carrego meus cabelos ou uma lesão oculta onde ninguém sabe".
Pois, senhores, esse amor existe dentro de nós como uma fome quase que "celular". Não nasce nem morre das "condições históricas"; é um amor que está entranhado no DNA, no fundo da matéria. É uma pulsão inevitável, quase uma "lesão oculta" dos seres expulsos da natureza. Nós somos o único bicho "de fora", estrangeiro. Os bichos têm esse amor, mas nem sabem.
(Estou sendo "filosófico", mas... tudo bem... não perguntaram?) Esse amor bate em nós como os frêmitos primordiais das células do corpo e como as fusões nucleares das galáxias; esse amor cria em nós a sensação do Ser, que só é perceptível nos breves instantes em que entramos em compasso com o universo. Nosso amor é uma reprodução ampliada da cópula entre o espermatozóide e óvulo se interpenetrando. Por obra do amor, saímos do ventre e queremos voltar, queremos uma "reintegração de posse" de nossa origem celular, indo até a dança primitiva das moléculas. Somos grandes células que querem se re-unir, separados pelo sexo, que as dividiu. ("Sexo" vem de "secare" em latim: separar, cortar.) O amor cria momentos em que temos a sensação de que a "máquina do mundo" ou a máquina da vida se explica, em que tudo parece parar num arrepio, como uma lembrança remota. Como disse Artaud, o louco, sobre a arte (ou o amor) : "A arte não é a imitação da vida. A vida é que é a imitação de algo transcendental com que a arte nos põe em contato." E a arte não é a linguagem do amor? E não falo aqui dos grandes momentos de paixão, dos grandes orgasmos, dos grande beijos - eles podem ser enganosos. Falo de brevíssimos instantes de felicidade sem motivo, de um mistério que subitamente parece revelado. Há, nesse amor, uma clara geometria entre o sentimento e a paisagem, como na poesia de Francis Ponge, quando o cabelo da amada se liga aos pinheiros da floresta ou quando o seu brilho ruivo se une com o sol entre os ramos das árvores ou entre as tranças da mulher amada e tudo parece decifrado. Mas, não se decifra nunca, como a poesia. Como disse alguém: a poesia é um desejo de retorno a uma língua primitiva. O amor também. Melhor dizendo: o amor é essa tentativa de atingir o impossível, se bem que o "impossível" é indesejado hoje em dia; só queremos o controlado, o lógico. O amor anda transgênico, geneticamente modificado, fast love.
Escrevi outro dia que "o amor vive da incompletude e esse vazio justifica a poesia da entrega. Ser impossível é sua grande beleza. Claro que o amor é também feito de egoísmos, de narcisismos mas, ainda assim, ele busca uma grandeza - mesmo no crime de amor há um terrível sonho de plenitude. Amar exige coragem e hoje somos todos covardes".
Mas, o fundo e inexplicável amor acontece quando você "cessa", por brevíssimos instantes. A possessividade cessa e, por segundos, ela fica compassiva. Deixamos o amado ser o que é e o outro é contemplado em sua total solidão. Vemos um gesto frágil, um cabelo molhado, um rosto dormindo, e isso desperta em nós uma espécie de "compaixão" pelo nosso desamparo.
Esperamos do amor essa sensação de eternidade. Queremos nos enganar e achar que haverá juventude para sempre, queremos que haja sentido para a vida, que o mistério da "falha" humana se revele, queremos esquecer, melhor, queremos "não-saber" que vamos morrer, como só os animais não sabem. O amor é uma ilusão sem a qual não podemos viver. Como os relâmpagos, o amor nos liga entre a Terra e o céu. Mas, como souberam os grandes poetas como Cabral e Donne, a plenitude do amor não nos faz virar "anjos", não. O amor não é da ordem do céu, do espírito. O amor é uma demanda da terra, é o profundo desejo de vivermos sem linguagem, sem fala, como os animais em sua paz absoluta. Queremos atingir esse "absoluto", que está na calma felicidade dos animais.
"A tecnologia digital é a arte de criar necessidades desnecessárias que se tornam absolutamente imprescindíveis." (Joelmir Beting)
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
O mundo de hoje é travesti
Está rolando na internet um texto ridículo sobre "mulheres" atribuído a mim.
Sou uma besta, todos o sabem; mas, não chego a esse relincho lamentável do asno que o escreveu. Diz coisas como: "A mulher tem um cheirinho gostoso, elas sempre encontram um lugarzinho em nosso ombro." Uma bosta, atribuída a mim. Toda hora um idiota me copia e joga na rede. Por isso, vou falar um pouco de mulher, eu que mal as entendo na vida. Não falarei das coxas e seios e bumbuns... Falo de uma aura mais fluida que as percorre.
Gosto do olhar de onça, parado, quando queremos seduzi-las, mesmo sinceramente, pois elas sabem que a sinceridade é volúvel, não perdura. Um sorriso de descrédito lhes baila na boca quando lhe fazemos galanteios, mas acreditam assim mesmo, porque elas querem ser amadas, muito mais que desejadas. Elas estão sempre fora da vida social, mesmo quando estão dentro.
Podem ser as maiores executivas, mas seu corpo lateja sob o tailleur e lá dentro os órgãos estranham a estatística e o negócio. Elas querem ser vestidas pelo amor. O amor para elas é um lugar onde se sentem seguras, protegidas.
O termômetro das mulheres é: "Estou sendo amada ou não? Esse bocejo, seu rosto entediado... será que ele me ama ainda?" A mulher não acredita em nosso amor. Quando tem certeza dele, pára de nos amar. A mulher precisa do homem impalpável, impossível. As mulheres têm uma queda pelo canalha. O canalha é mais amado que o bonzinho. Ela sofre com o canalha, mas isso a justifica e engrandece, pois ela tem uma missão amorosa: quer que o homem a entenda, mas isso está fora de nosso alcance. A mulher pensa por metáforas.
O homem por metonímias. Entenderam? Claro que não. Digo melhor, a mulher compõe quadros mentais que se montam em um conjunto simbólico sem fim, como a arte. O homem quer princípio, meio e fim. Não estou falando da mulher sociológica, nem contemporânea, nem política. Falo de um sétimo órgão que todas têm, de um "ponto g" da alma.
Mulher não tem critério; pode amar a vida toda um vagabundo que não merece ou deixar de amar instantaneamente um sujeito devoto. Nada mais terrível que a mulher que cessa de te amar. Você vira um corpo sem órgãos, você vira também uma mulher abandonada.
Toda mulher é "Bovary"... e para serem amadas, instilam medo no coração do homem. Carinhosas, mas com perigo no ar. A carinhosa total entedia os machos... ficam claustrofóbicos. O homem só ama profundamente no ciúme. Só o corno conhece o verdadeiro amor. Mas, curioso, a mulher nunca é corna, mesmo abandonada, humilhada, não é corna. O homem corneado, carente, é feio de ver. A mulher enganada ganha ares de heroína, quase uma santidade. É uma fúria de Deus, é uma vingadora, é até suicida. Mas nunca corna. O homem corno é um palhaço. Ninguém tem pena do corno. O ridículo do corno é que ele achava que a possuía. A mulher sabe que não tem nada, ela sabe que é um processo de manutenção permanente. O homem só vira homem quando é corneado.
A mulher não vira nada nunca. Nem nunca é corneada... pois está sempre se sentindo assim. Como no homossexualismo: a lésbica não é viado.
A mulher é poesia. O homem é prosa. Isso não quer dizer que a mulher seja do bem e o homem do mal. Não. Muita vez, seus abismos são venenosos, seu mistério nos mata. A mulher quer ser possuída, mas não só no sexo, tipo "me come todinha". Falam isso no motel, para nos animar. O homem é pornográfico; a mulher é amorosa. A pornografia é só para homens. A mulher quer ser possuída em sua abstração, em sua geografia mutante, a mulher quer ser descoberta pelo homem para ela se conhecer. Ela é uma paisagem que quer ser decifrada pelas mãos e bocas dos exploradores. Ela não sabe quem é. Mas elas também não querem ser opacas, obscuras. Querem descobrir a beleza que cabe a nós revelar-lhes. As mulheres não sabem o que querem; o homem acha que sabe.
O masculino é certo; o feminino é insolúvel. O homem é espiritual e a mulher é corporal. A mulher é metafísica; homem é engenharia. A mulher deseja o impossível; desejar o impossível é sua grande beleza. Ela vive buscando atingir a plenitude e essa luta contra o vazio justifica sua missão de entrega. Mesmo que essa "plenitude" seja um "living" bem decorado ou o perfeito funcionamento do lar. O amor exige coragem. E o homem... é mais covarde. O homem, quando conquista, acha que não tem mais de se esforçar e aí , dança...
A mulher é muito mais exilada das certezas da vida que o homem. Ela é mais profunda que nós. Ela vive mais desamparada e, no entanto, mais segura. A vida e a morte saem de seu ventre. Ela faz parte do grande mistério que nós vemos de fora, com o pauzinho inerme. Ela tem algo de essencial, tem algo a ver com as galáxias. Nós somos um apêndice.
Hoje em dia, as mulheres foram expulsas de seus ninhos de procriação, de sua sexualidade passiva, expectante e jogadas na obrigação do sexo ativo e masculino. A supergostosa é homem. É um travesti ao contrário. Alguns dizem que os homens erigiram seus poderes e instituições apenas para contrariar os poderes originais bem superiores da mulher.
As mulheres sofrem mais com o mal do mundo. Carregam o fardo da dor histórica e social, por serem mais sensíveis e mais fracas. Os homens, por serem fálicos, escamoteiam a depressão e a consciência da morte com obsessões bélicas, financeiras ou políticas. As mulheres agüentam firmes a dor incompreendida. O mundo está tão indeterminado que está ficando feminino, como uma mulher perdida: nunca está onde pensa estar. O mundo determinista se fracionou globalmente, como a mulher. Mas não é o mundo delicado, romântico e fértil da mulher; é um mundo feminino comandado por homens boçais. Talvez seja melhor dizer um mundo travesti. O mundo hoje é travesti.
Sou uma besta, todos o sabem; mas, não chego a esse relincho lamentável do asno que o escreveu. Diz coisas como: "A mulher tem um cheirinho gostoso, elas sempre encontram um lugarzinho em nosso ombro." Uma bosta, atribuída a mim. Toda hora um idiota me copia e joga na rede. Por isso, vou falar um pouco de mulher, eu que mal as entendo na vida. Não falarei das coxas e seios e bumbuns... Falo de uma aura mais fluida que as percorre.
Gosto do olhar de onça, parado, quando queremos seduzi-las, mesmo sinceramente, pois elas sabem que a sinceridade é volúvel, não perdura. Um sorriso de descrédito lhes baila na boca quando lhe fazemos galanteios, mas acreditam assim mesmo, porque elas querem ser amadas, muito mais que desejadas. Elas estão sempre fora da vida social, mesmo quando estão dentro.
Podem ser as maiores executivas, mas seu corpo lateja sob o tailleur e lá dentro os órgãos estranham a estatística e o negócio. Elas querem ser vestidas pelo amor. O amor para elas é um lugar onde se sentem seguras, protegidas.
O termômetro das mulheres é: "Estou sendo amada ou não? Esse bocejo, seu rosto entediado... será que ele me ama ainda?" A mulher não acredita em nosso amor. Quando tem certeza dele, pára de nos amar. A mulher precisa do homem impalpável, impossível. As mulheres têm uma queda pelo canalha. O canalha é mais amado que o bonzinho. Ela sofre com o canalha, mas isso a justifica e engrandece, pois ela tem uma missão amorosa: quer que o homem a entenda, mas isso está fora de nosso alcance. A mulher pensa por metáforas.
O homem por metonímias. Entenderam? Claro que não. Digo melhor, a mulher compõe quadros mentais que se montam em um conjunto simbólico sem fim, como a arte. O homem quer princípio, meio e fim. Não estou falando da mulher sociológica, nem contemporânea, nem política. Falo de um sétimo órgão que todas têm, de um "ponto g" da alma.
Mulher não tem critério; pode amar a vida toda um vagabundo que não merece ou deixar de amar instantaneamente um sujeito devoto. Nada mais terrível que a mulher que cessa de te amar. Você vira um corpo sem órgãos, você vira também uma mulher abandonada.
Toda mulher é "Bovary"... e para serem amadas, instilam medo no coração do homem. Carinhosas, mas com perigo no ar. A carinhosa total entedia os machos... ficam claustrofóbicos. O homem só ama profundamente no ciúme. Só o corno conhece o verdadeiro amor. Mas, curioso, a mulher nunca é corna, mesmo abandonada, humilhada, não é corna. O homem corneado, carente, é feio de ver. A mulher enganada ganha ares de heroína, quase uma santidade. É uma fúria de Deus, é uma vingadora, é até suicida. Mas nunca corna. O homem corno é um palhaço. Ninguém tem pena do corno. O ridículo do corno é que ele achava que a possuía. A mulher sabe que não tem nada, ela sabe que é um processo de manutenção permanente. O homem só vira homem quando é corneado.
A mulher não vira nada nunca. Nem nunca é corneada... pois está sempre se sentindo assim. Como no homossexualismo: a lésbica não é viado.
A mulher é poesia. O homem é prosa. Isso não quer dizer que a mulher seja do bem e o homem do mal. Não. Muita vez, seus abismos são venenosos, seu mistério nos mata. A mulher quer ser possuída, mas não só no sexo, tipo "me come todinha". Falam isso no motel, para nos animar. O homem é pornográfico; a mulher é amorosa. A pornografia é só para homens. A mulher quer ser possuída em sua abstração, em sua geografia mutante, a mulher quer ser descoberta pelo homem para ela se conhecer. Ela é uma paisagem que quer ser decifrada pelas mãos e bocas dos exploradores. Ela não sabe quem é. Mas elas também não querem ser opacas, obscuras. Querem descobrir a beleza que cabe a nós revelar-lhes. As mulheres não sabem o que querem; o homem acha que sabe.
O masculino é certo; o feminino é insolúvel. O homem é espiritual e a mulher é corporal. A mulher é metafísica; homem é engenharia. A mulher deseja o impossível; desejar o impossível é sua grande beleza. Ela vive buscando atingir a plenitude e essa luta contra o vazio justifica sua missão de entrega. Mesmo que essa "plenitude" seja um "living" bem decorado ou o perfeito funcionamento do lar. O amor exige coragem. E o homem... é mais covarde. O homem, quando conquista, acha que não tem mais de se esforçar e aí , dança...
A mulher é muito mais exilada das certezas da vida que o homem. Ela é mais profunda que nós. Ela vive mais desamparada e, no entanto, mais segura. A vida e a morte saem de seu ventre. Ela faz parte do grande mistério que nós vemos de fora, com o pauzinho inerme. Ela tem algo de essencial, tem algo a ver com as galáxias. Nós somos um apêndice.
Hoje em dia, as mulheres foram expulsas de seus ninhos de procriação, de sua sexualidade passiva, expectante e jogadas na obrigação do sexo ativo e masculino. A supergostosa é homem. É um travesti ao contrário. Alguns dizem que os homens erigiram seus poderes e instituições apenas para contrariar os poderes originais bem superiores da mulher.
As mulheres sofrem mais com o mal do mundo. Carregam o fardo da dor histórica e social, por serem mais sensíveis e mais fracas. Os homens, por serem fálicos, escamoteiam a depressão e a consciência da morte com obsessões bélicas, financeiras ou políticas. As mulheres agüentam firmes a dor incompreendida. O mundo está tão indeterminado que está ficando feminino, como uma mulher perdida: nunca está onde pensa estar. O mundo determinista se fracionou globalmente, como a mulher. Mas não é o mundo delicado, romântico e fértil da mulher; é um mundo feminino comandado por homens boçais. Talvez seja melhor dizer um mundo travesti. O mundo hoje é travesti.
A PEDOFILIA NA IGREJA É CONSEQUÊNCIA DO CELIBATO
Os votos de castidade enlouquecem os sacerdotes católicos.
No velho colégio de padres onde estudei, a entrada dos alunos já era um desfile de velada pedofilia. O padre reitor - ahh...tempos antigos de batinas negras, rosários nas mãos, panos roxos nos ombros, tristeza infinita nas clausuras - postava-se imóvel, na porta do colégio, numa pose paternal e severa, com os braços erguidos e as mãos oferecidas para os alunos que chegavam. Passavam por ele duas filas de dezenas de meninos, beijando servilmente suas mãos abençoadas. Havia algo de veadagem naquilo, aquela negra batina imóvel, divina, como um manequim, as mãos beijadas com chilreios e devoção por mais de quinhentos meninos de calças curtas. Eu ainda me lembro do vago cheiro de sabonete e cuspe no dorso cabeludo da
mão do padre. Centenas de meninos de pernas nuas eram pastoreados por tristes noviços e "irmãos leigos". Só se pensava em sexo naquele colégio. Eu via as mães dos alunos, lindas, com seus penteados e decotes imitando a Jane
Russel ou Ava Gardner, fazendo charme para os padres na força de seus verdes anos, enlouquecidos pela castidade obrigatória. E eu me perguntava: "Meu Deus...por que padre não pode casar?" Lembro-me do tremor dos jovens
padres, excitados pelas madames pintadíssimas, indo se trancar em negras clausuras, entregues ao "vício solitário", indo depois bater no peito e chorar sua culpa diante das imagens silenciosas.
E esses mesmos padres nos diziam: "Cada vez que você se masturba, morrem milhões de pessoas que iam nascer. É um genocídio!". E nós, além do pecado, sofríamos a vergonha de ser pequenos "hitlers" de banheiro. Eu pensava: "Por que tanta onda sobre nossos pobres pintinhos, por que essa energia que sinto em minha carne é feia, criminosa?" Vivíamos ajoelhados em confessionários, ouvindo envergonhados a voz e o hálito do triste sacerdote nos sentenciando a dezenas de "ave-marias" e "padre-nossos".
Tudo era sexo no colégio; essa palavra terrível estava em toda parte, como uma ameaça vermelha; o diabo nos espreitava até detrás das estátuas de Santa Tereza em êxtase, nas coxas dos anjinhos nus, nos seios fervorosos das beatas acendendo velas.
A pedofilia na igreja é consequência direta do celibato. É óbvio que se a força máxima da vida é esmagada, a igreja vira uma máquina de perversões.
Claro. E de homosexualismo, visível em qualquer internato religioso. Outro dia, o Contardo Calligaris escreveu com precisão que a pedofilia não está só na carne do jovem assediado; a pedofilia é mais geral, abstrata, no prazer do domínio sobre os mais fracos, na pedagogia infantilizante das jovens "ovelhas" - como nos chamam os pastores de Deus - imoladas em sua
inocência.
Eu vi o diabo naquele colégio: rostos angustiados, berros severos e excessivos nas aulas, castigos sádicos, perseguições a uns e carinhos protetores a outros.
Eu mesmo fui assediado por um padre famoso (que muitos colegas meus da época se lembram) que era notório comedor de menininhos; ele fazia mágicas e teatrinhos, para ser popular entre os meninos e, um dia, tentou me beijar num canto da clausura. Criado na malandragem das ruas, fugi em pânico. E falei disso em confissão com outro padre, que mudou de assunto, como se fosse uma impressão minha, como se a pedofilia fosse uma prática necessária à manutenção do celibato, exatamente como os cardeais americanos estão fazendo hoje. O problema da igreja com o sexo leva-a a uma compreensão quebrada da vida, leva-a a aceitar a Aids, a condenar o aborto, o controle social da natalidade e a outros erros maiores - superestruturas desta falência originária, desse vazio fundamental.
Lembro-me da descrição da eternidade no inferno, onde queimaríamos para sempre, sob o garfo dos diabos, condenados por uma reles punhetinha:
"Imaginem que o planeta seja um grande diamante, o metal mais duro do universo. De cem em cem anos, um passarinho vem voando e dá uma bicadinha na Terra. O dia em que toda a Terra for esfarinhada pelas bicadinhas, esse é a duração da eternidade" . E eu sofria, me esvaindo nos banheiros, pensando naquele passarinho que bicava o mundo, enquanto eu acariciava o outro medroso passarinho se preparando para uma vida de traumas e medos.
O prazer era um crime. A partir daí, tudo ficava poluído, manchado de culpa; a alegria virava falta de seriedade, a liberdade era um erro, as meninas eram seres inatingíveis com seus peitinhos e bundinhas. Até hoje, vivo dividido entre as santas e as "impuras"; quantas dores senti na vida pelo cultivo destes ensinamentos, que transformava as mulheres em perigos horrendos, "Liliths" demoníacas, tão ameaçadoras quanto o imenso desejo que tinhamos por elas. A mulher, como Eva, era a origem de todos os males.
Delas saía a vida e a morte, delas saía o prazer pecaminoso, o mal do mundo.
Esta base criminal gera desde a "burka" até o "striptease", numa antítese simétrica.
Hoje piorou. O mundo virou uma incessante paisagem de bundas e seios nus, de pornografia na publicidade, que nos espreita no trânsito, nas ruas, na TV. Já imaginaram esses padres vendo a Feiticeira e a Tiazinha, de terço na mão, trancados em escuras celas, sob o voto de castidade? Essa é a minha idéia de inferno.
Uma das grandes desvantagens da igreja católica diante de outras religiões é o celibato. Daí, em cascata, surgem problemas que justificam a queda do prestígio da igreja na era do espetáculo e da desconstrução de certezas.
Rabinos casam, pastores protestantes casam. Budistas "do it", xintoistas "do it", indis "do it', mesmo muçulmanos "do it". "Let's do it", pobres padres trêmulos de desejo, no meu remoto passado jesuíta e no presente do sexo massificado.
No velho colégio de padres onde estudei, a entrada dos alunos já era um desfile de velada pedofilia. O padre reitor - ahh...tempos antigos de batinas negras, rosários nas mãos, panos roxos nos ombros, tristeza infinita nas clausuras - postava-se imóvel, na porta do colégio, numa pose paternal e severa, com os braços erguidos e as mãos oferecidas para os alunos que chegavam. Passavam por ele duas filas de dezenas de meninos, beijando servilmente suas mãos abençoadas. Havia algo de veadagem naquilo, aquela negra batina imóvel, divina, como um manequim, as mãos beijadas com chilreios e devoção por mais de quinhentos meninos de calças curtas. Eu ainda me lembro do vago cheiro de sabonete e cuspe no dorso cabeludo da
mão do padre. Centenas de meninos de pernas nuas eram pastoreados por tristes noviços e "irmãos leigos". Só se pensava em sexo naquele colégio. Eu via as mães dos alunos, lindas, com seus penteados e decotes imitando a Jane
Russel ou Ava Gardner, fazendo charme para os padres na força de seus verdes anos, enlouquecidos pela castidade obrigatória. E eu me perguntava: "Meu Deus...por que padre não pode casar?" Lembro-me do tremor dos jovens
padres, excitados pelas madames pintadíssimas, indo se trancar em negras clausuras, entregues ao "vício solitário", indo depois bater no peito e chorar sua culpa diante das imagens silenciosas.
E esses mesmos padres nos diziam: "Cada vez que você se masturba, morrem milhões de pessoas que iam nascer. É um genocídio!". E nós, além do pecado, sofríamos a vergonha de ser pequenos "hitlers" de banheiro. Eu pensava: "Por que tanta onda sobre nossos pobres pintinhos, por que essa energia que sinto em minha carne é feia, criminosa?" Vivíamos ajoelhados em confessionários, ouvindo envergonhados a voz e o hálito do triste sacerdote nos sentenciando a dezenas de "ave-marias" e "padre-nossos".
Tudo era sexo no colégio; essa palavra terrível estava em toda parte, como uma ameaça vermelha; o diabo nos espreitava até detrás das estátuas de Santa Tereza em êxtase, nas coxas dos anjinhos nus, nos seios fervorosos das beatas acendendo velas.
A pedofilia na igreja é consequência direta do celibato. É óbvio que se a força máxima da vida é esmagada, a igreja vira uma máquina de perversões.
Claro. E de homosexualismo, visível em qualquer internato religioso. Outro dia, o Contardo Calligaris escreveu com precisão que a pedofilia não está só na carne do jovem assediado; a pedofilia é mais geral, abstrata, no prazer do domínio sobre os mais fracos, na pedagogia infantilizante das jovens "ovelhas" - como nos chamam os pastores de Deus - imoladas em sua
inocência.
Eu vi o diabo naquele colégio: rostos angustiados, berros severos e excessivos nas aulas, castigos sádicos, perseguições a uns e carinhos protetores a outros.
Eu mesmo fui assediado por um padre famoso (que muitos colegas meus da época se lembram) que era notório comedor de menininhos; ele fazia mágicas e teatrinhos, para ser popular entre os meninos e, um dia, tentou me beijar num canto da clausura. Criado na malandragem das ruas, fugi em pânico. E falei disso em confissão com outro padre, que mudou de assunto, como se fosse uma impressão minha, como se a pedofilia fosse uma prática necessária à manutenção do celibato, exatamente como os cardeais americanos estão fazendo hoje. O problema da igreja com o sexo leva-a a uma compreensão quebrada da vida, leva-a a aceitar a Aids, a condenar o aborto, o controle social da natalidade e a outros erros maiores - superestruturas desta falência originária, desse vazio fundamental.
Lembro-me da descrição da eternidade no inferno, onde queimaríamos para sempre, sob o garfo dos diabos, condenados por uma reles punhetinha:
"Imaginem que o planeta seja um grande diamante, o metal mais duro do universo. De cem em cem anos, um passarinho vem voando e dá uma bicadinha na Terra. O dia em que toda a Terra for esfarinhada pelas bicadinhas, esse é a duração da eternidade" . E eu sofria, me esvaindo nos banheiros, pensando naquele passarinho que bicava o mundo, enquanto eu acariciava o outro medroso passarinho se preparando para uma vida de traumas e medos.
O prazer era um crime. A partir daí, tudo ficava poluído, manchado de culpa; a alegria virava falta de seriedade, a liberdade era um erro, as meninas eram seres inatingíveis com seus peitinhos e bundinhas. Até hoje, vivo dividido entre as santas e as "impuras"; quantas dores senti na vida pelo cultivo destes ensinamentos, que transformava as mulheres em perigos horrendos, "Liliths" demoníacas, tão ameaçadoras quanto o imenso desejo que tinhamos por elas. A mulher, como Eva, era a origem de todos os males.
Delas saía a vida e a morte, delas saía o prazer pecaminoso, o mal do mundo.
Esta base criminal gera desde a "burka" até o "striptease", numa antítese simétrica.
Hoje piorou. O mundo virou uma incessante paisagem de bundas e seios nus, de pornografia na publicidade, que nos espreita no trânsito, nas ruas, na TV. Já imaginaram esses padres vendo a Feiticeira e a Tiazinha, de terço na mão, trancados em escuras celas, sob o voto de castidade? Essa é a minha idéia de inferno.
Uma das grandes desvantagens da igreja católica diante de outras religiões é o celibato. Daí, em cascata, surgem problemas que justificam a queda do prestígio da igreja na era do espetáculo e da desconstrução de certezas.
Rabinos casam, pastores protestantes casam. Budistas "do it", xintoistas "do it", indis "do it', mesmo muçulmanos "do it". "Let's do it", pobres padres trêmulos de desejo, no meu remoto passado jesuíta e no presente do sexo massificado.
MENINOS, EU VI... MENINOS, EU VI...
VOCÊS VIRAM TAMBÉM, MAS ACHO QUE ESQUECERAM.
Eu vi as empregadas gritando, a cozinheira chorando, o rádio dando a notícia: "Getúlio deu um tiro no peito!"
Eu, pequeno, imaginava o peito sangrando - como é que um homem sai da presidência para o nada?
Meninos, eu ouvi, anos depois, no estribo de um bonde:
"O Jânio renunciou!"
Como? Tomou um porre e foi embora depois de proibir o biquíni, briga de galo e de dar uma medalha para o Che, eu vi a história andando em marcha a ré e eu entendi ali, com o Jânio saindo, que os bons tempos da utopia de JK tinham acabado, que alguma coisa suja e negra estava a caminho como um trem fantasma andando pra trás.
Depois, meninos, eu vi o fogo queimar a UNE, onde chegaria o "socialismo tropical", em abril de 64, quando fugi pela janela dos fundos, enquanto o General Mourão Filho tomava a cidade, dizendo:
"Não sei nada. Sou apenas uma vaca fardada!"
Eu vi, meninos, como num pesadelo, a população festejando a vitória do fascismo, com velas na janela e rosários na mão; vi a capa do "O Cruzeiro" com o novo presidente da República de boné verde, baixinho, feio, quem era?
Era o Castelo Branco e senti que surgia ali um outro Brasil desconhecido e, aí, eu vi as pedras, os anúncios, os ônibus, os postes, o meio-fio, os pneus dos carros, como um filme de horror; Eu, que vivera até então de palavras utópicas, estava sendo humilhado pela invasão do terrível mundo das coisas reais.
Depois, vi a tristeza dos dias militares, "Brasil ame-o ou deixe-o", a Transamazônica arrombando a floresta, vi o rosto patético de Costa e Silva,a gargalhada da primeira perua Yolanda, mandando o marido fechar o Congresso.
Vi e ouvi Jorge Curi na TV, numa noite imunda e ventosa de dezembro lendo o AI-5, o fim de todas as liberdades, a morte espreitando nas esquinas, a gente enlouquecendo e fugindo pela rua em câmera lenta, criminosos na própria terra;
Depois, vi o rosto terrível do Médici, frio como um vampiro, com sua mulher do lado, muito magra, infeliz, vi tudo misturado com a Copa do mundo de 70, Pelé, Tostão, Rivelino e porrada, tortura, sangue dos amigos guerrilheiros heróicos e loucos, eu sentindo por eles respeito e desprezo, pela coragem e pela burrice de querer vencer o Exército com estilingues;
Não vi, mas muitos viram meu amigo Stuart Angel morrendo com a boca no cano de descarga de um jipe, dentro de um quartel, na frente dos pelotões, enquanto, em S.Paulo, Herzog era pendurado numa corda e os publicitários enchiam o rabo de dinheiro com as migalhas do "milagre" brasileiro, enquanto as cachoeiras de Sete Quedas desapareciam de repente;
Depois eu vi os órgãos genitais do General Figueiredo, sobressaindo em sua sunguinha preta, ele fazendo ginástica, nu, para a nação contemplar, era nauseante ver o presidente pulando a cavalo, truculento, devolvendo o país falido aos paisanos, para nós pagarmos a conta da dívida externa.
Vi, as grandes marchas pelas "diretas" e vi, estarrecido, um micróbio chegando para mudar nossa história, um micróbio andando pela rua, de galochas e chapéu, entrando na barriga do Tancredo na hora da posse e matando o homem, diante de nosso desespero.
E eu vi então a democracia restaurada pelo bigodão de Sarney, o homem da ditadura, de jaquetão, posando de oligarca esclarecido;
Vi o fracasso do Plano Cruzado, depois eu vi a volta de todos os vícios nacionais, o clientelismo, a corrupção, a impossibilidade de governar o país, a inflação chegando a 80 por cento num único mês.
Meninos, eu vi as maquininhas do supermercado fazendo tlec tlec tlec como matracas fúnebres de nossa tragédia.
Eu vi tanta coisa, meninos, eu vi a inflação comer salários dos mais pobres a 2% ao dia.
Eu vi o massacre de miseráveis pela fome, ou melhor, eu não vi os milhões de mortos pela correção monetária, não vi porque eles morriam silenciosamente, longe da burguesia e da mídia.
Mas vi os bancos ganhando bilhões no over e no spread , dólares no colchão, a sensação de perda diária de valor da vida.
Eu vi a decepção com a democracia, pois tudo tinha piorado, eu vi de repente o Collor vindo de longe, fazendo um cooper em direção a nosso destino, bonito, jovem, fascinando os otários da nação, que entraram numa onda política "aveadada", dizendo:
"Ele é macho, bonito e vai nos salvar...".
Eu vi o Collor tascar a grana do país todo e depois a nação passar dois anos "de quatro", olhando pelo buraco da fechadura da Casa da Dinda, para saber o que nos esperava.
Eu vi Rosane Collor chorando porque o presidente tirara a aliança.
Eu vi a barriga de Joãozinho Malta, irmão da primeira-dama, dando tiros nas pessoas, eu vi a piscina azul no meio da caatinga, eu vi depois a sinistra careca de PC juntando o bilhão do butim.
Eu vi Zélia dançando o bolero com Cabral em cima de nossa cara, eu vi a guerra dos irmãos Collor, Fernando contra Pedro e, depois, como numa saga grega, eu vi o câncer corroendo-lhe a cabeça.
Eu vi o impeachment , eu vi tanta coisa, meninos, e depois eu vi, por acaso, por mero acaso, por uma paixão de Itamar, eu vi o FHC chegar ao poder, com a única tentativa de racionalidade política de nossa história num antro de fisiológicos e ignorantes.
E, aí, eu vi a maior campanha de oposição de nossa época, implacável, sabotadora, eu vi a inveja repulsiva da Academia contra ele, eu vi a traição de seus aliados, todos unidos contra as reformas, uns agarrados na corrupção e outros na sobrevida de suas doenças ideológicas infantis.
E agora eu vejo o estranho desejo de regresso ao mundo do atraso, do erro e das velhas utopias. Vejo a direita se organizando para cooptar a oposição, comendo-a, vejo um exército de oligarcas se preparando para a vingança, vejo ACM, Barbalhos e Sarneys prontos para tomar o Congresso de assalto, para impedir qualquer mudança e voltar aos bons tempos da zona geral.
Meninos, vocês viram também, mas acho que esqueceram.
Eu vi as empregadas gritando, a cozinheira chorando, o rádio dando a notícia: "Getúlio deu um tiro no peito!"
Eu, pequeno, imaginava o peito sangrando - como é que um homem sai da presidência para o nada?
Meninos, eu ouvi, anos depois, no estribo de um bonde:
"O Jânio renunciou!"
Como? Tomou um porre e foi embora depois de proibir o biquíni, briga de galo e de dar uma medalha para o Che, eu vi a história andando em marcha a ré e eu entendi ali, com o Jânio saindo, que os bons tempos da utopia de JK tinham acabado, que alguma coisa suja e negra estava a caminho como um trem fantasma andando pra trás.
Depois, meninos, eu vi o fogo queimar a UNE, onde chegaria o "socialismo tropical", em abril de 64, quando fugi pela janela dos fundos, enquanto o General Mourão Filho tomava a cidade, dizendo:
"Não sei nada. Sou apenas uma vaca fardada!"
Eu vi, meninos, como num pesadelo, a população festejando a vitória do fascismo, com velas na janela e rosários na mão; vi a capa do "O Cruzeiro" com o novo presidente da República de boné verde, baixinho, feio, quem era?
Era o Castelo Branco e senti que surgia ali um outro Brasil desconhecido e, aí, eu vi as pedras, os anúncios, os ônibus, os postes, o meio-fio, os pneus dos carros, como um filme de horror; Eu, que vivera até então de palavras utópicas, estava sendo humilhado pela invasão do terrível mundo das coisas reais.
Depois, vi a tristeza dos dias militares, "Brasil ame-o ou deixe-o", a Transamazônica arrombando a floresta, vi o rosto patético de Costa e Silva,a gargalhada da primeira perua Yolanda, mandando o marido fechar o Congresso.
Vi e ouvi Jorge Curi na TV, numa noite imunda e ventosa de dezembro lendo o AI-5, o fim de todas as liberdades, a morte espreitando nas esquinas, a gente enlouquecendo e fugindo pela rua em câmera lenta, criminosos na própria terra;
Depois, vi o rosto terrível do Médici, frio como um vampiro, com sua mulher do lado, muito magra, infeliz, vi tudo misturado com a Copa do mundo de 70, Pelé, Tostão, Rivelino e porrada, tortura, sangue dos amigos guerrilheiros heróicos e loucos, eu sentindo por eles respeito e desprezo, pela coragem e pela burrice de querer vencer o Exército com estilingues;
Não vi, mas muitos viram meu amigo Stuart Angel morrendo com a boca no cano de descarga de um jipe, dentro de um quartel, na frente dos pelotões, enquanto, em S.Paulo, Herzog era pendurado numa corda e os publicitários enchiam o rabo de dinheiro com as migalhas do "milagre" brasileiro, enquanto as cachoeiras de Sete Quedas desapareciam de repente;
Depois eu vi os órgãos genitais do General Figueiredo, sobressaindo em sua sunguinha preta, ele fazendo ginástica, nu, para a nação contemplar, era nauseante ver o presidente pulando a cavalo, truculento, devolvendo o país falido aos paisanos, para nós pagarmos a conta da dívida externa.
Vi, as grandes marchas pelas "diretas" e vi, estarrecido, um micróbio chegando para mudar nossa história, um micróbio andando pela rua, de galochas e chapéu, entrando na barriga do Tancredo na hora da posse e matando o homem, diante de nosso desespero.
E eu vi então a democracia restaurada pelo bigodão de Sarney, o homem da ditadura, de jaquetão, posando de oligarca esclarecido;
Vi o fracasso do Plano Cruzado, depois eu vi a volta de todos os vícios nacionais, o clientelismo, a corrupção, a impossibilidade de governar o país, a inflação chegando a 80 por cento num único mês.
Meninos, eu vi as maquininhas do supermercado fazendo tlec tlec tlec como matracas fúnebres de nossa tragédia.
Eu vi tanta coisa, meninos, eu vi a inflação comer salários dos mais pobres a 2% ao dia.
Eu vi o massacre de miseráveis pela fome, ou melhor, eu não vi os milhões de mortos pela correção monetária, não vi porque eles morriam silenciosamente, longe da burguesia e da mídia.
Mas vi os bancos ganhando bilhões no over e no spread , dólares no colchão, a sensação de perda diária de valor da vida.
Eu vi a decepção com a democracia, pois tudo tinha piorado, eu vi de repente o Collor vindo de longe, fazendo um cooper em direção a nosso destino, bonito, jovem, fascinando os otários da nação, que entraram numa onda política "aveadada", dizendo:
"Ele é macho, bonito e vai nos salvar...".
Eu vi o Collor tascar a grana do país todo e depois a nação passar dois anos "de quatro", olhando pelo buraco da fechadura da Casa da Dinda, para saber o que nos esperava.
Eu vi Rosane Collor chorando porque o presidente tirara a aliança.
Eu vi a barriga de Joãozinho Malta, irmão da primeira-dama, dando tiros nas pessoas, eu vi a piscina azul no meio da caatinga, eu vi depois a sinistra careca de PC juntando o bilhão do butim.
Eu vi Zélia dançando o bolero com Cabral em cima de nossa cara, eu vi a guerra dos irmãos Collor, Fernando contra Pedro e, depois, como numa saga grega, eu vi o câncer corroendo-lhe a cabeça.
Eu vi o impeachment , eu vi tanta coisa, meninos, e depois eu vi, por acaso, por mero acaso, por uma paixão de Itamar, eu vi o FHC chegar ao poder, com a única tentativa de racionalidade política de nossa história num antro de fisiológicos e ignorantes.
E, aí, eu vi a maior campanha de oposição de nossa época, implacável, sabotadora, eu vi a inveja repulsiva da Academia contra ele, eu vi a traição de seus aliados, todos unidos contra as reformas, uns agarrados na corrupção e outros na sobrevida de suas doenças ideológicas infantis.
E agora eu vejo o estranho desejo de regresso ao mundo do atraso, do erro e das velhas utopias. Vejo a direita se organizando para cooptar a oposição, comendo-a, vejo um exército de oligarcas se preparando para a vingança, vejo ACM, Barbalhos e Sarneys prontos para tomar o Congresso de assalto, para impedir qualquer mudança e voltar aos bons tempos da zona geral.
Meninos, vocês viram também, mas acho que esqueceram.
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
ESSA É BOA "Tocando fogo no circo"
Até que enfim a colunista social Jocely Abreu encontrou alguém a altura dela em antipatia - o empresário Marcos Frota, dono do Grande Circo Popular do Brasil, que cumpre temporada em Rio Branco.
Jocely faz um programa na TV e chegou com cara de fanzoca diante do ex-ator. Ele aproveitou para deitar e rolar.
- Ruth, você é uma mulher do Rio de Janeiro, de São Paulo, e não dessa bosta - teria dito Frota a uma funcionária do circo, referindo-se ao Acre, segundo relato no blog da colunista.
Desde que chegou ao Acre, Marcos Frota tenta convencer o secretário Cassiano Marques (o careca da foto), de Turismo, a conduzí-lo para audiência com Binho Marques, que é o governador "dessa bosta" no extremo-oeste do país.
Frota e o governo já se declararam parceiros (leia) em projetos relacionados a circo.
Tá rindo de quê, Jocely?
Marcos Frota agora deve uma explicação antes que algum acreano maluco resolva tocar fogo no circo dele. O blog está aberto, sem cobrança de ingresso.
Leia mais sobre a trombadada dos antipáticos no Blog da Jô.
◙ Atualização às 9h45 de sexta-feira 10: Vamos torcer para não acabar em pizza a promessa de exibição na TV das imagens de Marcos Frota fazendo obscenidades com o microfone do programa Geração Gazeta. Recebi da simpatíssima Jocely Abreu a seguinte mensagem:
- Adorei você ter postado no seu blog o episódio do Sr. Marcos Frota. Ao menos lhe chamou atenção diante de tanta coisa mais importante que você deve ter pra divulgar, caro colega. Só quero dizer aos seus "ouvintes" que o Altino Machado esqueceu de avisar que a fotinha minha com o sr. Marcos Frota é montagem. Mas aproveito para vender meu peixe: assistam segunda-feira a segunda parte da historinha no Geração Gazeta! Abraços, simpático Altino - um apaixonado pelo Acre!
Leiam mais no Blog da Jô o relato dela sobre o pedido de desculpas gravado por Marcos Frota na TV Gazeta. Prova que o antipático falou mesmo aquele "montinho". Resta saber se o senador Tião Viana vai destinar emenda ao orçamento (veja) para inflar o circo e se o empresário será recebido pelo governador Binho Marques.
Raimundão, Ícone do PT, não é eleito em Xapuri
A história de luta no movimento social do campo, o parentesco com Chico Mendes e a amizade com o presidente Lula não foram suficientes para levar o vice-presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais do Acre, Raimundo Mendes de Barros, o Raimundão, ao seu quinto mandato de vereador no município de Xapuri. Com 214 votos, o primo do líder sindical Chico Mendes, considerado como um “patrimônio” do PT do Acre, teve que se contentar com a 1ª suplência na coligação liderada pelo seu partido.
Se mostrando abatido com o resultado das eleições, Raimundão agradeceu os votos recebidos, na manhã da última quarta-feira (8), através da emissora de rádio local. Fez questão, no entanto, de afirmar que o maior objetivo era eleger o candidato a prefeito Bira Vasconcelos, quem ele acredita que vai transformar a atual realidade do município. “Estou triste por perder a eleição, mas muito feliz porque nosso maior objetivo, que era o de eleger o companheiro Bira, foi atingido. O Bira vai mudar Xapuri”, disse ele.
Aos 63 anos de idade, Raimundo de Barros foi um dos braços direitos nos “empates” liderados por Chico Mendes nos anos 80. Eleito vereador por quatro vezes seguidas, disputou a prefeitura de Xapuri em 2004, quando foi derrotado pelo atual prefeito Vanderley Viana de Lima. Em 2006, mais uma disputa eleitoral, desta vez para deputado estadual, quando o PT, inexplicavelmente, lançou dois candidatos ao cargo – o outro foi o cientista Ermício Sena. Ambos perderam, deixando Xapuri sem um representante na Assembléia Legislativa.
Nesta eleição, reclamou da perseguição que lhe foi imposta por seus adversários de campanha, segundo ele. Creditou a isso a sua derrota nas urnas no momento em que pretendia retornar para mais um mandato na câmara. “Fui duramente perseguido pelos meus adversários, que atiraram contra mim um monte de calúnias, denegrindo minha história de luta em favor dos trabalhadores desse estado”, protestou ele.
Em 1985, Raimundão participou do I Encontro Nacional de Seringueiros, em Brasília, onde foi fundado o Conselho Nacional de Seringueiros, do qual foi eleito o tesoureiro da primeira diretoria. Nessa função, viajou por todo o Acre e no Amazonas e Rondônia, ajudando a organizar os seringueiros de toda a região. Em 1988, Raimundão foi eleito vereador pelo Partido dos Trabalhadores (PT), tendo sido reeleito para mais três mandatos consecutivos.
Por 16 anos foi vereador, mas, mesmo nessa função, nunca deixou de participar ativamente do movimento sindical, tendo, inclusive, nesse período, sido presidente do STR de Xapuri. Também não deixou de participar ativamente dos “empates” na região, antes e depois do assassinato de Chico Mendes.
Em 1994, já vereador no segundo mandato, Raimundão participou da organização e realização do ‘empate’ no Seringal Nova Esperança, em Xapuri, no último grande ‘empate’ na região. Embora liderança reconhecida e militante, Raimundão nunca perdeu suas raízes. Sobre os planos para o futuro, Raimundão pretende continuar atuando na militância política e no movimento dos trabalhadores rurais. Nas horas vagas vai cuidar da sua colocação de seringa (colocação Rio Branco), no seringal Floresta, que virou uma pequena vila, concentrando várias famílias de seringueiros, companheiros de luta e de organização, mantendo a escola, o posto de saúde e o núcleo da cooperativa.
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
"PORTO WALTER É 13"
PORTO WALTER REALIZOU NO ÚLTIMO DIA 13 UM SÁBADO COM UM SOL DE RACHAR A MULERA COMO DIZIAM OS MAIS ANTIGOS AO MEIO DIA UMA DAS MAIORES DEMONSTRÇÕES DE APOIO A CANDIDATURA A REELEIÇÃO DE NEUZARI E GADELHA A PREFEITURA. POR COINSCIDÊNICA OU NÃO, JUSTAMENTE UM DIA 13 NA FESTA DO 13 O GOVERNADOR, JUNTAMENTE COM O PRESIDENTE DA ASSEMBLÉIA O DEPUTADO EDVALDO MAGALHÃES E A DEPUTADA ESTADUAL PERPETUA DE SÁ FORAM RECEPCIONADOS NO AEROPORTO DE PORTO WALTER POR UMA MUTIDÃO QUE OS AGUARDAVAM PARA PERCORRRER AS PRINCIPAIS RUAS DA CIDADE E REALIZAREM UM GRANDE ATO PÚBLICO NA PRAÇA VICENTE LOPES... "O POVO DEMONSTROU QUE SABE O QUE QUER DISSE O GOVERNADOR E ACRESCENTOU QUE FOI EM PORTO WALTER QUE PELA PRIMEIRA VEZ ELE REALIZOU UM COMÍCIO DEBAIXO DE CHUVA E AGORA VOLTAVA PRA REALIZAR UM DEBAIXO DE UM SOL DE RACHAR", SALIENTOU AINDA QUE ESSA DIFERENÇA QUEM FAZ É O POVO QUE NÃO FOGE DOS EMBATES POLÍTICOS, POVO AGUERIDO E CORAJOSO QUE NÃO QUER DEIXAR A PREEFEITURA CAIR EM MÃOS ERRADAS DE NOVO...ENTÃO VIVA PORTO WALTER E VIVA A FRENTE POPULAR PORTOWALTENSE.
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
Sinteac realiza manifesto pela mobilização do Piso Salarial
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sinteac) e representantes das escolas públicas realizaram ontem no...
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sinteac) e representantes das escolas públicas realizaram ontem no centro de Rio Branco um manifesto para pedir mais agilidade na implantação do Piso Salarial Profissional Nacional (PSPN).A manifestação acontece simultaneamente em onze estados com a realização de atos públicos, panfletagem, seminários e reuniões, entre outros eventos e faz parte do Dia Nacional de Mobilização, que tem como tema “O Piso é Lei, Faça valer !”A campanha encabeçada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e conta com o apoio nas capitais dos sindicatos dos professores e profissionais em educação com a proposta de cobrar a implementação do piso salarial nacional de R$ 950 para professores que cursaram o ensino médio. No Acre, a mobilização aconteceu em frente ao Senadinho onde participaram além dos representantes das escolas de Rio Branco, representantes do interior mais próximo da capital.De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Acre (Sinteac), Manoel Lima, o Conselho Deliberativo da entidade aprovou a campanha conjunta para que os funcionários de apoio também recebam o piso salarial nacional estabelecido pela legislação aos professores. Lima avaliou a manifestação como positiva e ressaltou que o Sinteac vem desenvolvendo um trabalho sério onde o foco principal é os direitos dos trabalhadores, “A mobilização foi um ato pacífico com a representação de todas as escolas de Rio Branco e algumas do interior, não paralisamos e nem prejudicamos as aulas de nenhuma escola ao contrario do que muitas pessoas disseram. Somos um sindicato sério e comprometido com a nossa categoria, não estamos aqui brincando de sindicato, estamos é lutando pelos direitos dos nossos educadores”, desabafou o sindicalista.
A CNTE destaca que a paralisação de ontem é apenas a primeira etapa de uma ampla campanha nacional que busca garantir o cumprimento da lei. Até o final do ano, sempre no dia 16, serão realizados atos públicos, assembléias, mobilizações e paralisações em defesa do piso.A mobilização contínua é uma forma de inibir ações dos estados para derrubar pontos da lei do piso. As eleições municipais de outubro também vão contribuir em função do desgaste que representam. Após as eleições municipais serão organizadas caravanas a Brasília para pressionar o Congresso contra projetos de lei que possam propor alteração da legislação do piso e audiências públicas em Câmaras de Vereadores e Assembléias Legislativas para debater a implantação do PSPN.
Angelim continua na frente, mas pode ter segundo turno em Rio Branco
O jornal ACTV da Tv Acre divulgou nesta terça-feira oresultado de mais uma pesquisa do Ibope, para saber a intenção de voto do riobranquense. E descobriu que Raimundo Angelim, apesar de ter caído quase 6 pontos percentuais entre a primeira pesquisa [julho] e a de agora, continua com boa margem de vantagem para o segundo colocado, Sérgio Petecão. Se as eleições para prefeito de Rio Branco fossem hoje, não haveria segundo turno e o candidato da Frente Popular, Raimundo Angelim (PT) seria eleito com 51% dos votos e Petecão ficaria em segundo com 23%. O candidato do PSDB, Tião Bocalon aparece com 13%, enquanto que Rocha, do PSOL tem 1%. Segundo a pesquisa do Ibope-Rede Amazônica 6% dos entrevistados votariam em braço ou anulariam o voto e 9% responderam que ainda não sabem em quem votar.Da redação ac24horas Rio Branco, Acre
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
"Tirem suas conclusões, e veja como esse babaca foi infeliz em sua declaração"
Marqueteiro do PMDB insinua que Vagner Sales (seu candidato) mente e as mulheres de Cruzeiro do Sul são prostitutas.
O texto foi retirado da coluna do Editor da folha do acre, mas por motivos que somente Deus e a cúpula do PMDB sabe, foi deletado do site.
Amado mano potiguar, a demora, ás vezes, se faz necessária. Nunca se justifica, mas carece de existir. É na demora que me reciclo e me entrego aos prazeres do ócio, da irresponsabilidade, do paraíso da rede e da delícia da cerveja bem gelada que, simplesmente, bebê-la, precisa ser profissão e ofício bem remunerado. Cá estou pelas bandas do Juruá, na fronteira peruana com o Amazonas quase infinito (metáfora sem-vergonha), sorvendo a caboclagem das morenas politicamente incorretas que, decididamente, não gostam de ver pau em pé. Cruzeiro do Sul é uma cidade interessante, acidentada, parece nossa Petrópolis, tantos são os morros. Encontrei por cá o Fé em Deus. Disse ele que se morasse aqui ficaria rico alugando skate no topo das ladeiras e vendendo iodo e mercúrio cromo nos sopés. O Igarapé Preto, com sua água gelada, mais parece um poço de espermas, embora seja altamente propício para curar ressacas. Cruzeiro do Sul não é uma Sodoma, mas não é hipócrita. Com certeza, moraria aqui, se a paixão me tocaiasse. Por esses dias me senti um Mário Quintana, morando em hotel, escrevendo poemas em bares e cheio de amor platônico pelas brunas lombardis da vida. Essa metáfora, nada sem vergonha, representa a vida onde somos hóspedes e vítimas das trágicas paixões. Escrever é o que resta, o que importa, o que é preciso. Por esses dias também encontrei por aqui um tenente coronel bastante famoso. Ele atende pelo nome de Marcos Pontes e já esteve no espaço sideral, o que nos dá uma baita inveja porque não se trata de metáfora, mas palavra literal. Fazia ele um material para uma rede nacional de TV sobre a proteção da Amazônia. É boa pinta e boa praça. Querido mano potiguar, é vero que vou ficar por aqui, todo o período eleitoral, escrevendo as agruras e as delícias de um candidato ungido pelos miseráveis e predestinado à vitória, vivendo a experiência inédita de marqueteiro interiorano, incapaz de descobrir, e compreender, qual um Renato Russo amazônico, por que a mentira, às vezes, deixa a pessoa mais forte. Aqui, no extremo oeste brasileiro, a vida não é drummoniana ou itabirana, a vida aqui é cheia de energia, de daime, de vacina de sapo, de tacacá, de farinha de primeira, de feijão arromba-homem, de morena trigueira (que também arromba homem), de mandim, de açaí e de olhares de soslaio, que não significam desdém, mas indício de alguma mensagem secreta criptografada pelas retinas das meninas que não são tão meninas assim. Cruzeiro do Sul, mano potiguar, me apetece, mas Rio Branco não é um quadro na parede, mas uma verdade pungente que me assola o coração, quando penso num menino de três aninhos me olhando com a ternura que nunca pensei merecer. Devo voltar, mano potiguar. Voltar para minhas dores, minhas saudades, minhas esquinas, meus oficiais de justiça, meus bêbados, meus inimigos e minhas indulgências. De lá, te escrevo, afinal, notícias são minhas matérias primas. Um beijo na Liberdade, outro nas meninas, e mais um nos poucos amigos. Antonio Stélio - Editor do site folhadoacre.com e MARQUETEIRO DA CAMPANHA DO CANDIDATO DO PMDB A PREFEITURA DE CRUZEIRO DO SUL, VAGNER SALES.
O texto foi retirado da coluna do Editor da folha do acre, mas por motivos que somente Deus e a cúpula do PMDB sabe, foi deletado do site.
Amado mano potiguar, a demora, ás vezes, se faz necessária. Nunca se justifica, mas carece de existir. É na demora que me reciclo e me entrego aos prazeres do ócio, da irresponsabilidade, do paraíso da rede e da delícia da cerveja bem gelada que, simplesmente, bebê-la, precisa ser profissão e ofício bem remunerado. Cá estou pelas bandas do Juruá, na fronteira peruana com o Amazonas quase infinito (metáfora sem-vergonha), sorvendo a caboclagem das morenas politicamente incorretas que, decididamente, não gostam de ver pau em pé. Cruzeiro do Sul é uma cidade interessante, acidentada, parece nossa Petrópolis, tantos são os morros. Encontrei por cá o Fé em Deus. Disse ele que se morasse aqui ficaria rico alugando skate no topo das ladeiras e vendendo iodo e mercúrio cromo nos sopés. O Igarapé Preto, com sua água gelada, mais parece um poço de espermas, embora seja altamente propício para curar ressacas. Cruzeiro do Sul não é uma Sodoma, mas não é hipócrita. Com certeza, moraria aqui, se a paixão me tocaiasse. Por esses dias me senti um Mário Quintana, morando em hotel, escrevendo poemas em bares e cheio de amor platônico pelas brunas lombardis da vida. Essa metáfora, nada sem vergonha, representa a vida onde somos hóspedes e vítimas das trágicas paixões. Escrever é o que resta, o que importa, o que é preciso. Por esses dias também encontrei por aqui um tenente coronel bastante famoso. Ele atende pelo nome de Marcos Pontes e já esteve no espaço sideral, o que nos dá uma baita inveja porque não se trata de metáfora, mas palavra literal. Fazia ele um material para uma rede nacional de TV sobre a proteção da Amazônia. É boa pinta e boa praça. Querido mano potiguar, é vero que vou ficar por aqui, todo o período eleitoral, escrevendo as agruras e as delícias de um candidato ungido pelos miseráveis e predestinado à vitória, vivendo a experiência inédita de marqueteiro interiorano, incapaz de descobrir, e compreender, qual um Renato Russo amazônico, por que a mentira, às vezes, deixa a pessoa mais forte. Aqui, no extremo oeste brasileiro, a vida não é drummoniana ou itabirana, a vida aqui é cheia de energia, de daime, de vacina de sapo, de tacacá, de farinha de primeira, de feijão arromba-homem, de morena trigueira (que também arromba homem), de mandim, de açaí e de olhares de soslaio, que não significam desdém, mas indício de alguma mensagem secreta criptografada pelas retinas das meninas que não são tão meninas assim. Cruzeiro do Sul, mano potiguar, me apetece, mas Rio Branco não é um quadro na parede, mas uma verdade pungente que me assola o coração, quando penso num menino de três aninhos me olhando com a ternura que nunca pensei merecer. Devo voltar, mano potiguar. Voltar para minhas dores, minhas saudades, minhas esquinas, meus oficiais de justiça, meus bêbados, meus inimigos e minhas indulgências. De lá, te escrevo, afinal, notícias são minhas matérias primas. Um beijo na Liberdade, outro nas meninas, e mais um nos poucos amigos. Antonio Stélio - Editor do site folhadoacre.com e MARQUETEIRO DA CAMPANHA DO CANDIDATO DO PMDB A PREFEITURA DE CRUZEIRO DO SUL, VAGNER SALES.
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
Amar não é apoderar-se do outro para completar-se, mas dar-se ao outro para completá-lo."
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
"VEJA ESSA IMAGEM"
terça-feira, 9 de setembro de 2008
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
As coisas que Arnaldo Jabor não disse
Poucos dias depois de o próprio Arnaldo Jabor recusar a autoria de mais um texto que circula com seu nome por e-mail, o dito cujo chegou até mim. Ainda que eu seja grande fã do que escreve o Jabor, é difícil não simpatizar com alguém que é vilipendiado dessa maneira. Vamos a alguns absurdos do texto.
Brasileiro é um povo solidário. Mentira. Brasileiro é babaca. Elege para o cargo mais importante do Estado um sujeito que não tem escolaridade e preparo nem para ser gari, só porque tem uma história de vida sofrida.
Acho justo dizer que o presidente Lula nunca priorizou a própria educação, mas isso é irrelevante aqui. Ele não foi eleito “por ter uma história de vida sofrida”, mas por fazer promessas populistas.
Pagar 40% de sua renda em tributos e ainda dar esmola para pobre na rua ao invés de cobrar do governo uma solução para pobreza.
Sócrates já dizia no diálogo platônico Górgias: é melhor sofrer a injustiça do que praticar a injustiça. A questão das esmolas divide os liberais: de um lado estão aqueles que vêem tudo do ponto de vista dos incentivos e de outro aqueles que acham que a caridade é parte importante de suas vidas particulares. Dou esmolas, mesmo que pague impostos: o ladrão levou 40% da minha renda, não 100%. Crer que o governo vá acabar com a pobreza algum dia (como se fosse apenas a questão de achar a política certa) é tão ingênuo quanto acreditar que o sistema carcerário possa tornar as pessoas melhores.
Aceitar que ONGs de direitos humanos fiquem dando pitaco na forma como tratamos nossa criminalidade...
Com ou sem antipatia pelas ONGs, se passarmos a acreditar que alguma parte da população ficou sem direitos humanos, nós é que viramos criminosos.
Uma coisa é dizer que o verdadeiro objetivo das ONGs é desagregar a sociedade. Outra coisa é abandonar os direitos humanos. Eles não são incompatíveis com o combate duro e implacável ao crime.
Brasileiro é um povo trabalhador. Mentira.Brasileiro é vagabundo por excelência. (...)O brasileiro, ao mesmo tempo em que fica indignado ao ver um deputado receber 20 mil por mês para trabalhar 3 dias e coçar o saco o resto da semana, também sente inveja e sabe lá no fundo que se estivesse no lugar dele faria o mesmo.
Francamente, creio que todas as acusações genéricas podem ser voltadas contra quem as profere. Invejoso é o autor do texto.
Mas podemos dizer que existe um ressentimento justo em sua acusação. A verdadeira elite brasileira está em grande parte do funcionalismo público, cujo trabalho independe do mercado, isto é, independe de sua utilidade para outras pessoas.
A ineficiência e a inutilidade (a inexistência de demanda) de muitos dos serviços estatais gera a impressão de que o funcionalismo público é, em si, uma espécie de variante legítima do crime, com a ressalva de a barreira de entrada no funcionalismo é grande (concursos difíceis) e a de entrada no crime propriamente dito é menor.
Na verdade, o funcionalismo público se torna uma variante socialmente aceita do crime por causa do desejo de planejamento universal, e só pode ser sustentado na escala brasileira porque a maior parte do povo é extremamente trabalhador. E, voltando ao que disse, não se pode censurar o escravo por ressentir-se do senhor...
Um povo que se conforma em receber uma esmola do governo de 90 reais mensais para não fazer nada e não aproveita isso para alavancar sua vida (realidade da brutal maioria dos beneficiários do bolsa família) não pode ser adjetivado de outra coisa que não de vagabundo.
Essa afirmação contém o mesmo erro da condenação das esmolas. Se vivêssemos num sistema perfeito em que a mendicância decorresse exclusivamente da vagabundagem, as esmolas seriam apenas um incentivo à vagabundagem.
Se o governo fica com 40% da renda, podemos dizer que, desses R$90, R$36 voltam para o governo na forma de impostos. R$54 num clima de insegurança jurídica quanto ao direito de propriedade realmente são melhor gastos pensando apenas no dia de hoje.
E, francamente, não parece insensato supor que num sinal de trânsito movimentado de qualquer metrópole brasileira se possa levantar o mesmo dinheiro em um único dia.
Brasileiro é um povo honesto. Mentira.Já foi; hoje é uma qualidade em baixa. Se você oferecer 50 euros a um policial europeu para ele não te autuar, provavelmente irá preso.Não por medo de ser pego, mas porque ele sabe ser errado aceitar propinas.O brasileiro, ao mesmo tempo em que fica indignado com o mensalão, pensa intimamente o que faria se arrumasse uma boquinha dessas, quando na realidade isso sequer deveria passar por sua cabeça.
Bem, isso é puramente imaginário. Com todo o respeito, creio que há policiais na Europa que aceitam propinas, assim como há os que não aceitam. O bem e o mal no mundo não correspondem à Europa e ao Brasil.
Uma coisa, também, é dizer que todos pensamos no que faríamos se ficássemos subitamente ricos ou arrumássemos “uma boquinha” legítima – uma herança, rendas etc. Isso parece verossímil. Mas nem todos os brasileiros têm a ambição de ser corruptos. Se realmente a maioria das pessoas desistisse da honestidade, não haveria governo hobbesiano que chegasse para manter a ordem, e isso mantendo o pressuposto absolutamente miraculoso de que os agentes da lei e da ordem nunca seriam eles mesmos corruptos.
Precisamos, isso sim, de um sistema jurídico que permita que o trabalho honesto colha seus frutos em vez de vê-los roubados por planejadores centrais com belos pretextos.
Brasileiro é um povo solidário. Mentira. Brasileiro é babaca. Elege para o cargo mais importante do Estado um sujeito que não tem escolaridade e preparo nem para ser gari, só porque tem uma história de vida sofrida.
Acho justo dizer que o presidente Lula nunca priorizou a própria educação, mas isso é irrelevante aqui. Ele não foi eleito “por ter uma história de vida sofrida”, mas por fazer promessas populistas.
Pagar 40% de sua renda em tributos e ainda dar esmola para pobre na rua ao invés de cobrar do governo uma solução para pobreza.
Sócrates já dizia no diálogo platônico Górgias: é melhor sofrer a injustiça do que praticar a injustiça. A questão das esmolas divide os liberais: de um lado estão aqueles que vêem tudo do ponto de vista dos incentivos e de outro aqueles que acham que a caridade é parte importante de suas vidas particulares. Dou esmolas, mesmo que pague impostos: o ladrão levou 40% da minha renda, não 100%. Crer que o governo vá acabar com a pobreza algum dia (como se fosse apenas a questão de achar a política certa) é tão ingênuo quanto acreditar que o sistema carcerário possa tornar as pessoas melhores.
Aceitar que ONGs de direitos humanos fiquem dando pitaco na forma como tratamos nossa criminalidade...
Com ou sem antipatia pelas ONGs, se passarmos a acreditar que alguma parte da população ficou sem direitos humanos, nós é que viramos criminosos.
Uma coisa é dizer que o verdadeiro objetivo das ONGs é desagregar a sociedade. Outra coisa é abandonar os direitos humanos. Eles não são incompatíveis com o combate duro e implacável ao crime.
Brasileiro é um povo trabalhador. Mentira.Brasileiro é vagabundo por excelência. (...)O brasileiro, ao mesmo tempo em que fica indignado ao ver um deputado receber 20 mil por mês para trabalhar 3 dias e coçar o saco o resto da semana, também sente inveja e sabe lá no fundo que se estivesse no lugar dele faria o mesmo.
Francamente, creio que todas as acusações genéricas podem ser voltadas contra quem as profere. Invejoso é o autor do texto.
Mas podemos dizer que existe um ressentimento justo em sua acusação. A verdadeira elite brasileira está em grande parte do funcionalismo público, cujo trabalho independe do mercado, isto é, independe de sua utilidade para outras pessoas.
A ineficiência e a inutilidade (a inexistência de demanda) de muitos dos serviços estatais gera a impressão de que o funcionalismo público é, em si, uma espécie de variante legítima do crime, com a ressalva de a barreira de entrada no funcionalismo é grande (concursos difíceis) e a de entrada no crime propriamente dito é menor.
Na verdade, o funcionalismo público se torna uma variante socialmente aceita do crime por causa do desejo de planejamento universal, e só pode ser sustentado na escala brasileira porque a maior parte do povo é extremamente trabalhador. E, voltando ao que disse, não se pode censurar o escravo por ressentir-se do senhor...
Um povo que se conforma em receber uma esmola do governo de 90 reais mensais para não fazer nada e não aproveita isso para alavancar sua vida (realidade da brutal maioria dos beneficiários do bolsa família) não pode ser adjetivado de outra coisa que não de vagabundo.
Essa afirmação contém o mesmo erro da condenação das esmolas. Se vivêssemos num sistema perfeito em que a mendicância decorresse exclusivamente da vagabundagem, as esmolas seriam apenas um incentivo à vagabundagem.
Se o governo fica com 40% da renda, podemos dizer que, desses R$90, R$36 voltam para o governo na forma de impostos. R$54 num clima de insegurança jurídica quanto ao direito de propriedade realmente são melhor gastos pensando apenas no dia de hoje.
E, francamente, não parece insensato supor que num sinal de trânsito movimentado de qualquer metrópole brasileira se possa levantar o mesmo dinheiro em um único dia.
Brasileiro é um povo honesto. Mentira.Já foi; hoje é uma qualidade em baixa. Se você oferecer 50 euros a um policial europeu para ele não te autuar, provavelmente irá preso.Não por medo de ser pego, mas porque ele sabe ser errado aceitar propinas.O brasileiro, ao mesmo tempo em que fica indignado com o mensalão, pensa intimamente o que faria se arrumasse uma boquinha dessas, quando na realidade isso sequer deveria passar por sua cabeça.
Bem, isso é puramente imaginário. Com todo o respeito, creio que há policiais na Europa que aceitam propinas, assim como há os que não aceitam. O bem e o mal no mundo não correspondem à Europa e ao Brasil.
Uma coisa, também, é dizer que todos pensamos no que faríamos se ficássemos subitamente ricos ou arrumássemos “uma boquinha” legítima – uma herança, rendas etc. Isso parece verossímil. Mas nem todos os brasileiros têm a ambição de ser corruptos. Se realmente a maioria das pessoas desistisse da honestidade, não haveria governo hobbesiano que chegasse para manter a ordem, e isso mantendo o pressuposto absolutamente miraculoso de que os agentes da lei e da ordem nunca seriam eles mesmos corruptos.
Precisamos, isso sim, de um sistema jurídico que permita que o trabalho honesto colha seus frutos em vez de vê-los roubados por planejadores centrais com belos pretextos.
"Sindrome do ninho vazio"
Da saída do filho de casa, à morte e à separação.
Saiba o que é e como agir para não entrar em depressão diante de seus filhos. A dor acaba quando a ordem familiar for refeita.
Foram anos se dedicando a criação dos seus filhos até o dia em que eles resolveram cair no mundo. Na casa que antes era cheia de vozes, o silêncio passa a reinar. Não tem como evitar, este é o ciclo da vida. Mas para que você não se deprima diante do crescimento dos seus filhos, saiba como agir quando a síndrome do ninho vazio bater a sua porta.
O ninho vazio é algo pontual e que tem hora certa para acabar. "Pode haver uma base depressiva, mas a síndrome ocorre a partir de um evento, como a saída do filho de casa ou até mesmo a morte. E sua duração se estende do momento da separação até a inclusão de uma nova ordem familiar", explica a psicóloga Silvana Martani.
No entanto, de acordo com a também psicóloga Sueli Castillo, se essa tristeza se prolongar e for caracterizada também por uma falta de objetivos, a situação pode se transformar em depressão. Há ainda um agravante para as mulheres já maduras: a menopausa. "O período do climatério, culminando com a menopausa, afeta a mulher. Ela sente-se envelhecida, sua função reprodutora não existe mais, sua auto-estima abaixa, a imagem que vê no espelho não lhe agrada e sente-se muito fragilizada emocionalmente", descreve Sueli.
Características da personalidade também interferem na forma como a separação é encara. "As pessoas dramáticas sofrem mais, como em tudo na vida", afirma Silvana. E, segundo a profissional, ninguém se prepara para uma separação, mesmo que ela seja programada. "Todos sentem, mas quanto melhor tiver sido a elaboração da separação, melhor as pessoas envolvidas vão lidar com a dor", conclui.
A intensidade do sentimento de perda depende ainda de outros fatores, como por exemplo o motivo da saída do filho da casa dos pais. "Se a separação for por bons motivos, como casamento, faculdade ou mesmo para morar sozinho, desde que os pais participem do processo, tudo é mais tranqüilo. Mas se for dolorosa, por causa de brigas ou morte, o sentimento de dor dura mais", explica Silvana.
Enfim sós novamenteE o que fazer com tanto tempo livre? Se sua vida não foi estruturada apenas em torno do seu filho, fica fácil seguir adiante nessa nova fase. Trabalhos, cursos, programas com amigos e por que não reacender a chama e aproveitar a vida com o maridão?
Esse resgate, segundo a psicoterapeuta Suely Molitérno, vai depender se o casal cultivou a relação a dois durante toda a vida. "Quase sempre a mulher tende a "abandonar" o parceiro quando tem seus filhos, dedicando-se somente a eles, colaborando para que a vida a dois não sobreviva até o período do esvaziamento do ninho", explica.
A psicóloga Silvana Martani deixar claro que não é mais possível viver como dois pombinhos recém-casados. "Não existe um retorno. Este é um novo momento, onde o casal deve encontrar outros prazeres", esclarece.
Sueli Castillo compartilha o pensamento de Silvana e acrescenta que o casal precisa conviver a dois sem cobranças referentes ao passado.
Como os filhos podem ajudar?Nessa fase é essencial uma inversão de papéis: os filhos precisam "consolar" os pais, principalmente a mãe. "Explique que você não deixou de amá-la e que esta é apenas uma nova fase, sendo que o mais importante é a qualidade da relação e não a quantidade", aconselha Sueli Castillo.
Para Silvana Martani, existe uma regra básica de coerência: "Tudo o que o filho promete tem que cumprir. Este é um vínculo de honestidade". De acordo com a psicóloga, muitos filhos falam que vão ligar todo dia, que vão almoçar junto com os pais uma vez por semana, mas não concretizam essas promessas. "Não fale o que você não vai cumprir", indica.
Saiba o que é e como agir para não entrar em depressão diante de seus filhos. A dor acaba quando a ordem familiar for refeita.
Foram anos se dedicando a criação dos seus filhos até o dia em que eles resolveram cair no mundo. Na casa que antes era cheia de vozes, o silêncio passa a reinar. Não tem como evitar, este é o ciclo da vida. Mas para que você não se deprima diante do crescimento dos seus filhos, saiba como agir quando a síndrome do ninho vazio bater a sua porta.
O ninho vazio é algo pontual e que tem hora certa para acabar. "Pode haver uma base depressiva, mas a síndrome ocorre a partir de um evento, como a saída do filho de casa ou até mesmo a morte. E sua duração se estende do momento da separação até a inclusão de uma nova ordem familiar", explica a psicóloga Silvana Martani.
No entanto, de acordo com a também psicóloga Sueli Castillo, se essa tristeza se prolongar e for caracterizada também por uma falta de objetivos, a situação pode se transformar em depressão. Há ainda um agravante para as mulheres já maduras: a menopausa. "O período do climatério, culminando com a menopausa, afeta a mulher. Ela sente-se envelhecida, sua função reprodutora não existe mais, sua auto-estima abaixa, a imagem que vê no espelho não lhe agrada e sente-se muito fragilizada emocionalmente", descreve Sueli.
Características da personalidade também interferem na forma como a separação é encara. "As pessoas dramáticas sofrem mais, como em tudo na vida", afirma Silvana. E, segundo a profissional, ninguém se prepara para uma separação, mesmo que ela seja programada. "Todos sentem, mas quanto melhor tiver sido a elaboração da separação, melhor as pessoas envolvidas vão lidar com a dor", conclui.
A intensidade do sentimento de perda depende ainda de outros fatores, como por exemplo o motivo da saída do filho da casa dos pais. "Se a separação for por bons motivos, como casamento, faculdade ou mesmo para morar sozinho, desde que os pais participem do processo, tudo é mais tranqüilo. Mas se for dolorosa, por causa de brigas ou morte, o sentimento de dor dura mais", explica Silvana.
Enfim sós novamenteE o que fazer com tanto tempo livre? Se sua vida não foi estruturada apenas em torno do seu filho, fica fácil seguir adiante nessa nova fase. Trabalhos, cursos, programas com amigos e por que não reacender a chama e aproveitar a vida com o maridão?
Esse resgate, segundo a psicoterapeuta Suely Molitérno, vai depender se o casal cultivou a relação a dois durante toda a vida. "Quase sempre a mulher tende a "abandonar" o parceiro quando tem seus filhos, dedicando-se somente a eles, colaborando para que a vida a dois não sobreviva até o período do esvaziamento do ninho", explica.
A psicóloga Silvana Martani deixar claro que não é mais possível viver como dois pombinhos recém-casados. "Não existe um retorno. Este é um novo momento, onde o casal deve encontrar outros prazeres", esclarece.
Sueli Castillo compartilha o pensamento de Silvana e acrescenta que o casal precisa conviver a dois sem cobranças referentes ao passado.
Como os filhos podem ajudar?Nessa fase é essencial uma inversão de papéis: os filhos precisam "consolar" os pais, principalmente a mãe. "Explique que você não deixou de amá-la e que esta é apenas uma nova fase, sendo que o mais importante é a qualidade da relação e não a quantidade", aconselha Sueli Castillo.
Para Silvana Martani, existe uma regra básica de coerência: "Tudo o que o filho promete tem que cumprir. Este é um vínculo de honestidade". De acordo com a psicóloga, muitos filhos falam que vão ligar todo dia, que vão almoçar junto com os pais uma vez por semana, mas não concretizam essas promessas. "Não fale o que você não vai cumprir", indica.
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
Carta de suicidio encontrada ao lado do corpo de Kurt.
Para Buda.
"Falando pela voz de um simplório experiente que obviamente preferia ser um queixoso castrado e infantil. Esta nota deverá ser bem fácil de compreender. Todos os avisos dos cursos de punck rock 101, ao longo dos anos. Desde a minha primeira introdução à, diremos, ética associada à independência e à aceitação na vossa comunidade, provaram-se verdadeiros. Há anos que não sinto a excitação de ouvir, ou mesmo criar música, nem sequer compor e escrever. Sinto-me culpado, para além daquilo que as palavras exprimir. Por exemplo, quando estamos no backstage e as luzes se apagam e o barulho ensurdecedor do público começa, não me impressiona da mesma forma que impressionava Freddy Mercury, que parecia adorar e saborear o amor e adulação do público, o que é algo que eu admiro e invejo nele. A realidade é: Não sou capaz de vos enganar. Nenhum de vocês. É simples, não seria justo nem para vocês nem para mim. O pior crime que eu imagino cometer seria enganar as pessoas, ludibrificando-as e fingindo que me estava a divertir a 100%.Ás vezes parece-me que preciso de um toque de gongue para me empurrar para o palco. Tenho tentado tudo ao meu alcance para apreciar isso ( e ainda tento, Deus, acreditem que tento, mas não é suficiente).Reconheço que eu e nós influenciámos e divertimos muita gente.Eu devo ser um desses narcisistas que só dá valor às coisas quando as perde. Sou muito susceptível. Tenho de estar já um pouco entorpecido para recuperar o entusiasmo que tinha quando era criança.Nas últimas 3 tournées consegui dar muito mais estima às pessoas que conheci pessoalmente e aos fãs da nossa música, mas mesmo assim não consegui ultrapassar a frustração, a culpa e a empatia que sinto por toda a gente. Há algo de bom em todos nós e eu simplesmente amo demasiado as pessoas. Amo-as tanto que faz-me sentir tão triste. O tristonho, susceptível, insensível, peixes, Jesus meu! Porque é que não gozas a cena? Eu não sei!Tenho por mulher uma deusa que transpira ambição e empatia… e uma filha que me faz lembrar demasiado de como eu costumava ser. Cheia de amor e alegria, metendo-se com toda a gente que encontra porque todas as pessoas são boas e ninguém lhe fará mal. E isso aterroriza-me ao ponto de quase não funcionar, não consigo imaginar que Frances poderá vir a ser o infeliz, auto-destrutivo, death rocker, em que eu me tornei. E correu-me tudo bem, tão bem e estou agradecido, mas desde os sete anos que odeio todos os seres humanos, de uma forma geral. Só porque parece tão fácil às pessoas conviverem e terem empatia. Empatia! Só porque eu amo e sinto pena das pessoas em excesso, talvez por isso.Agradeço-vos a todos da boca do meu estômago ardente e nauseado, as vossas cartas e a vossa preocupação ao longo dos últimos anos. Sou uma pessoa demasiado excêntrica, instável, criança! Perdi a paixão e lembrem-se: é melhor arder que esvanecer.Paz, amor, Empatia!Frances e Courtney estarei no vosso altarPor favor Courtney continuaPara FrancesPela sua vida que será bem mais feliz sem mim…Amo-vos, AMO-VOS"…
07/04/1994: Kurt Cobain, líder da banda Nirvana, suicida-se no auge da fama
Em 07/04/1994: Kurt Cobain, líder da banda Nirvana, comete suicídio no auge da fama com um tiro de espingarda na cabeça, sendo encontrado apenas cerca de dois dias depois. O corpo foi achado por um eletricista contratado para instalar equipamentos de segurança que arrombou uma janela após desconfiar que havia algo errado. Ao lado do cadáver foi encontrada uma nota de suicídio escrita com tinta vermelha, endereçada à mulher Courtney Love e à filha Frances. A grande quantidade de heroína encontrada em seu corpo leva um grupo mais desconfiado a supor que Kurt foi assassinado (por não ser possível a alguém tão dopado colocar a arma na cabeça e puxar o gatilho).
O último show do NIRVANA aconteceu no Terminal Einz, em Munique, Alemanha, em 1 de março. Um Kurt completamente estafado e com a voz visivelmente desgastada determina férias instantâneas - shows marcados para os dias 2 e 3 são cancelados e, depois, adiados para abril, quando a turnê européia teria sua segunda parte. Cobain é diagnosticado com bronquite e com uma grave laringite. Cobain vai para Roma, Itália, para descansar, se medicar e encontrar com Courtney Love. Courtney chega a Roma no dia 3 e encontra Kurt no Hotel Excelsior. O casal passou várias semanas sem se ver. As expectativas de Kurt pelo reencontro levam um banho de água gelada quando Courtney diz que está exausta e quer dormir. Quando ela acorda na manhãzinha do dia 4, Kurt está no chão, com o nariz sangrando. Ele havia tomado champanhe e cerca de 50 pílulas do tranqüilizante Rohypnol. Kurt deixa uma carta de despedida com três folhas, caracterizando a tentativa de sucídio. Mas, oficialmente, o fato é divulgado como uma dose excessiva e acidental de medicamentos. Na carta, Kurt diz que Courtney não o ama mais, e que ele preferia morrer a passar por mais um divórcio (o primeiro foi o de seus pais). Internado no hospital Umberto I, Kurt sai do coma no dia 5 e é transferido para o American Hospital, também em Roma. Recebe alta no dia 8 e volta para os Estados Unidos no dia 12.
Em 18 de março, Courtney chama a polícia de Seattle porque Kurt se trancou em um quarto da casa com um revólver. Os policiais conversam com ele, que afirma não ser um suicida e querer apenas ficar longe da esposa. Quatro armas que Cobain tem na casa são confiscadas.
Love planeja intervir seriamente nos problemas de Kurt, preocupada com seu vício em heroína. Dez pessoas envolveram-se no trabalho, incluindo colegas, amigos, executivos da gravadora e Dylan Carlson, um dos amigos mais íntimos de Kurt. Danny Goldberg, empresário do Nirvana, descreveu Cobain como sendo "extremamente relutante" e que "ele negava que estava fazendo qualquer coisa auto-destrutiva". Contudo, Cobain concordou em se internar no Exodus, em Los Angeles, Califórnia, que aconteceu em 30 de março. Courtney estava na mesma cidade promovendo o novo disco do Hole, "Live Through This". No dia 1º, por volta das 19:30h, Kurt saiu pelas portas dos fundos da Exodus sob o pretexto de fumar um cigarro e escalou o muro de pouco menos de dois metros de altura. E fugiu. Duas horas depois, Kurt usou seu cartão de crédito para comprar uma passagem de primeira classe para Seattle no vôo 788 da Delta. Antes de embarcar, ligou para a Seattle Limusine e marcou para ser apanhado no aeroporto - pediu explicitamente para que não enviassem uma limusine. Tentou falar com Courtney, mas ela não estava - deixou uma mensagem dizendo que havia ligado. Ela já o estava procurando em Los Angeles assim que soube que Kurt sairia do Exodus. Ficou convencida de que ele irira comprar drogas e provavelmente ter uma overdose. Kurt chegou em casa à 1:45h da manhã do sábado, 2 de abril. Ali, passou um tempo com o casal Cali e Jessica Hooper, colegas que estavam hospedados na casa. Horas depois, Kurt chamou um táxi e tentou comprar munição. Vendo que as lojas ainda estavam fechadas, Kurt desistiu e provavelmente se hospedou no motel Crest ou no Quest - que ficavam próximos de um de seus traficantes. Naquele dia ele também foi até a Seattle Guns e comprou uma caixa de cartuchos de espingarda calibre 20.
Com o intuito de descobrir o paradeiro de Kurt, Courtney cancelou todos os seus cartões de crédito. Nos dois dias que se seguiram, houve notícias dispersas de que Kurt havia sido visto. Na noite de domingo, 3, ele foi visto no restaurante Cactus, jantando com uma mulher magra, provavelmente sua traficante, Caitlin Moore, e um homem não identificado. Naquele domingo, Courtney ligou para detetives particulares das Páginas Amarelas de Los Angeles, até que encontrou um que estava trabalhando naquele fim de semana. Tom Grant e seu assistente Ben Klugman a visitaram naquela tarde. Ela disse que seu marido havia fugido do centro de reabilitação, que estava preocupada com a saúde dele e pediu a Grant que vigiasse o apartamento da traficante Caitlin Moore, onde ela imaginava que Kurt poderia estar. Grant subcontratou um detetive de Seattle, dando-lhe ordens para observar a casa de Dylan Carlson e o apartamento de Caitlin. A vigilância foi montada naquele mesmo domingo. Entretanto, os detetives não montaram guarda imediatamente na casa de Kurt, que ficava no Lake Washington Boulevard.
Na segunda-feira, 4, Courtney pediu que a polícia verificasse a casa em Lake Washington. Os policiais passaram por lá várias vezes, mas não viram nenhum movimento. Naquele dia, à noite, Cali saiu de casa, deixando Jessica sozinha no quarto dele. Por volta da meia-noite, ela ouviu ruídos. "Ouvi passos no andar de cima e no corredor", lembra ela. Gritou um "oi" mas não ouviu resposta. Estima-se que era Kurt chegando naquele começo de madrugada. Cali só voltou depois das três da manhã, e ele e Jessica dormiram até tarde da manhã seguinte.
Na tarde de terça-feira, 5, Courtney mandou Eric Erlandson, seu amigo e guitarrista do Hole, ir até a casa do Lake Washington procurar por Kurt. Ele encontrou-se com Cali e Jessica e os três procuraram por Kurt, armas e drogas. Tentativas todas em vão. Ninguém pensou em procurar na garagem e na estufa, e Erlandson saiu apressado rumo à casa em Carnation, onde a irmã de Kurt morava na ocasião. Na quarta, 6, Jessica e Cali deixaram a casa dos Cobain, mas na tarde de quinta, 7, Courtney conseguiu falar com o casal e ordenou que procurasse por Kurt mais uma vez na casa do Lake Washington. Os dois foram até lá juntos com uma amiga, Bonnie Dillard. Não encontraram nada e deixaram um bilhete com um sermão para Kurt e mandando-o procurar por Courtney. Logo que foram embora, Dillard mencionou que talvez tivesse visto algo perto da garagem, mas, amedontrados, ninguém quis voltar para checar.
Dois dias antes, 5, nas horas que antecediam a alvorada de terça feira, Kurt Cobain havia despertado em sua cama. Os travesserios ainda tinham o cheiro do perfume de Courtney. No quarto, o aroma misturou-se com o cheiro ligeiramente picante da heroína cozida - este também era um cheiro que o despertava.
Kurt havia dormido com suas roupas do corpo. Vestia sua camiseta da banda Half Japanese e suas calças Levi's favoritas. Vestiu e amarrou os cadarços do par de tênis Converse que possuia, caminhou até o aparelho de som e colocou para tocar um disco do R.E.M., "Automatic for the People". Acendeu um Camel Light e caiu de costas na cama com um bloco tamanho ofício apoiado em seu peito e uma caneta vermelha de ponta fina. Ele já havia escrito uma longa carta pessoal à sua esposa e filha, rapidamente rabiscada, enquanto estava no Exodus. Ele havia trazido o papel até Seattle e havia enfiado sob um dos travesseiros impregnados de perfume. "Você sabe, eu amo você. Eu amo Frances. Eu sinto muitíssimo. Por favor, não venha atrás de mim. Eu sinto muito, muito, muito.", eram algumas das palavras que Kurt havia escrito, enchendo uma página inteira com esse pedido de perdão. "Eu estarei lá", continuou ele. "Eu protegerei você. Não sei para onde estou indo. Simplesmente não posso ficar mais aqui."
Tinha sido muito difícil escrever aquele bilhete, mas ele sabia que esta segunda carta seria igualmente importante e ele precisaria ter cuidado com as palavras. Ele endereçava "Para Boddah", o nome de seu amigo de infância imaginário. Quando soltou a caneta, havia enchido a página inteira, exceto por cinco centímetros. Ele fumara três cigarros redigindo o bilhete. As palavras não tinham saído com facilidade e havia erros de grafia e sentenças pela metade. Ele assinou dizendo "paz, amor e empatia. Kurt Cobain". Escreveu ainda mais uma linha - "Frances e Courtney, eu estarei em seu altar" - e enfiou o papel e a caneta no bolso esquerdo do casaco.
Ele se levantou da cama e entrou no closet, onde retirou uma tábua da parede. Neste cubículo secreto havia uma arma dentro de uma capa de náilon bege, uma caixa de cartuchos de espingarda e uma caixa de charutos Tom Moore. Ele repôs a tábua, enfiou os cartuchos no bolso, agarrou a caixa de charutos e aninhou a pesada espingarda sobre seu antebraço esquerdo. Em um closet do corredor, ele apanhou duas toalhas - ele não precisava delas, mas sabia que alguém precisaria. Desceu silenciosamente os dezenove degraus da larga escadaria. Estava a cerca de um metro do quarto de Cali e não queria que ninguém o visse. Ele havia refletido sobre tudo isso, traçado um mapa com a mesma premeditação que dedicava às capas de seus discos e a seus vídeos. Haveria sangue, muito sangue, e uma bagunça que ele não queria em casa. Principalmente, ele não queria assombrar aquele lar, deixar sua filha com o tipo de pesadelos com que ele havia sofrido.
Quando se dirigia para a cozinha, passou pela soleira da porta onde ele e Courtney haviam começado a acompanhar o quanto Frances havia crescido. Apenas uma linha estava ali agora, uma pequena marca de lápis com o nome dela a cerca de 79 centímetros acima do chão. Kurt nunca mais veria outra marcas mais altas naquela parede, mas estava convencido de que a vida de sua filha seria melhor sem ele.
Na cozinha, ele abriu a porta de sua geladeira Traulson de aço inox de 10 mil dólares e apanhou uma lata de cerveja de raizes da Barq, tomando cuidado para não soltar a espingarda. Levando essa carga macabra - cerveja de raízes, toalhas, uma caixa de heroína e uma espingarda, tudo o que mais tarde seria encontrando num arranjo de plantas bizarro -, ele abriu a porta para o quintal e atravessou o pequeno pátio. A aurora estava rompendo e a neblina pairava próximo do chão. A maioria das manhãs em Aberdeen eram exatamente assim: nevoentas, orvalhadas, úmidas. Ele jamais veria Aberdeen novamente; jamais escalaria efetivamente até o topo da caixa d'água no "Morro do Think of Me"; jamais compraria a fazenda que sonhava em Grays Harbor; jamais acordaria novamente numa sala de espera de hospital tendo fingido ser um visitante para só encontrar um lugar quente para dormir; jamais veria novamente sua mãe, irmã, pai, mulher ou filha. Ele trilhou os cerca de vinte passos até a estufa, galgou os degraus de madeira e abriu o conjunto de portas francesas dos fundos. O piso era de linóleo: seria fácil de limpar.
Ele sentou-se no chão da estrutura de cômodo único, olhando para as portas da frente. Ninguém conseguiria vê-lo ali, a menos que estivesse trepado nas árvores atrás de sua propriedade, e isto não era provável. Não queria mais ver o interior de um hospital novamente, não queria um médico de jaleco branco apalpando-o, não queria ter um endoscópio em seu estômago dolorido. Ele estava acabado para aquilo tudo, acabado para o seu estômago, ele não poderia estar mais acabado. Como um grande diretor de filmes, ele havia planejado este momento até os mínimos detalhes, ensaiando esta cena ao mesmo tempo como diretor e como ator. No curso dos anos, tinha havido muitos ensaios finais, passagens de raspão que quase seguiam este caminho, fosse por acidente ou, às vezes, por querer, como em Roma. Talvez fora sempre isto que ele guardava vagamente em sua cabeça, como um ungüento precioso, como a única cura para uma dor que jamais passaria. Ele não se importava com a liberação do desejo, ele desejava a libertação da dor.
Ficou sentado pensando coisas que só ele sabia por vários minutos. Fumou cinco Camel Light e sorveu vários goles de sua cerveja. Tirou o bilhete do bolso, estendeu-o no chão do linóleo e tinha de escrever em letras maiores, que não saíram tão perfeitas, por causa da superfície que ele estava: "Por favor, vá em frente, Courtney, por Frances, pela vida dela que será muito mais feliz sem mim. Eu te amo. Eu te amo". Essas últimas palavras haviam completado a folha. Depositou o bilhete no alto de um monte de terra para vasos e fincou a caneta no meio, para que, como uma estaca, segurasse o papel no alto, sobre a terra.
Tirou a espingarda da capa de náilon macia. Dobrou cuidadosamente a capa, como um garotinho separando suas melhores roupas de domingo depois da missa. Tirou a jaqueta, estendeu-a sobre a capa e colocou as duas toalhas no alto desse monte. Ele foi até a pia e apanhou uma pequena quantidade de água para o seu fogareiro de droga e sentou-se novamente. Abriu a caixa com 25 cartuchos de espingarda e tirou três, enfiando-os na câmara da arma. Moveu o mecanismo da Remington para qu e um único cartucho estivesse na câmara. Retirou a trava de segurança da arma.
Fumou seu último Camel Light. Tomou mais um gole da Barq. Lá fora, estava começando um dia nublado - era um dia como aquele em que ele chegara a este mundo, 27 anos, um mês e dezesseis dias antes. Ele agarrou a caixa de charutos e tirou um pequeno saco plástico que continha cem dólares de heroína preta mexicana - era um bocado de heroína. Ele pegou cerca de metade, um chumaço do tamanho de uma borracha de lápis e o colocou na colher. Sistemática e habilmente, preparou a heroína e a seringa, injetando-a logo acima do cotovelo, não muito longe de seu "K" tatuado. Devolveu os instrumentos para a caixa e se sentiu uma nuvem, rapidamente flutuando para longe deste lugar. O jainismo pregava que havia trinta céus e sete infernos, todos dispostos em camadas ao longo de nossas vidas; se ele tivesse sorte, este seria seu sétimo e último inferno. Afastou para o lado seus instrumentos, flutuando cada vez mais rápido, sentindo sua respiração se reduzir. Ele tinha de se apressar agora: tudo estava se tornando nebuloso e um matiz verde-água enquadrava cada objeto. Agarrou a pesada espingarda, encostou o cano contra o céu de sua boca. Faria barulho; ele tinha certeza disso. Disparou. E então ele se foi.
O corpo de Kurt Cobain foi encontrado pelo eletricista Gary Smith, que chegou à casa do Lake Washington para instalar um novo sistema de segurança. Às 8:40h da sexta-feira, 8, Smith estava perto da estufa e olhou para dentro dela. "Eu vi um corpo estendido lá no chão. Pensei que fosse um manequim. Depois notei que havia sangue na orelha direita. Vi uma espingarda estendida ao longo de seu peito, apontando para seu queixo", relatou Gary. Ele ligou para a polícia e, em seguida, para sua empresa.
Enquanto isso, em Los Angeles, Courtney havia sido internada no Exodus na quinta-feira, 7, para reabilitação. Na sexta, recebeu a notícia da morte de Kurt através da colega Rosemary Carroll. Courtney deixou a cidade num Learjet com Frances, Rosemary, Eric Erlandson e a babá Jeackie Farry. Quando chegaram à casa do Lake Washington, ela estava cercada por equipes dos telejornais.
Foi possível identificar o cadáver como sendo de Kurt, embora seu aspecto fosse macabro: as centenas de bolinhas de chumbo do cartucho da espingarda haviam espandido sua cabeça e o haviam desfigurado. A polícia retirou as digitais do corpo e as impressões batiam com àquelas já arquivadas no caso da prisão por violência doméstica.
A autópsia encontrou traços de benzodiazepinas (tranquilizantes) e heroína no sangue de Kurt. O nível de heroína era tão algo que mesmo ele - famoso pela enorme quantidade que tomava - não poderia ter sobrevivido por muito mais tempo do que aquele que levou para disparar a arma.
Courtney estava inconsolável. Quando os policiais finalmente deixaram o local, e com apenas um guarda de segurança como testemunha, ela reconstitiu os últimos passos de Kurt, entrou na estufa - que ainda tinha de ser limpa - e mergulhou as mãos em seu sangue. No chão, ajoelhada, ela rezou e gemeu de dor, erguendo as mãos cobertas de sangue para o céu e gritou: "Por quê?!". Ela encontrou um pequeno fragmento do crânio de Kurt com cabelo preso a ele. Ela lavou e passou xampu nesse horripilante suvenir.
No sábado, 9, Courtney foi até a agência funerária para ver o corpo de Kurt antes de ser cremado - ela já tinha solicidado que fossem feito moldes de gesso de suas mãos. Grohl tambem foi convidado e declinou, mas Krist compareceu, chegando antes de Courtney. Ele passou alguns momentos a sós com seu velho amigo e desatou a chorar. Quando ele saía, Courtney foi introduzida na sala de inspeção. Kurt estava sobre uma mesa, vestido com suas roupas mais elegantes, mas seus olhos tinham sido costurados. Era a primeira vez em dez dias que a Courtney viu o marido e foi a última vez que seus corpos físicos ficaram juntos. Ela acariciou seu rosto, falou com ele e cortou uma mecha de seus cabelos. Depois, baixou as calças dele e cortou uma mecha de seus pêlos púbicos. Finalmente, ela subiu em cima de seu corpo, abraçando-o com as pernas e recostou a cabeça em seu peito e lamentou: "Por quê, por quê?".
Diversas cerimônias foram realizadas em memória de Kurt. Umas das mais notáveis aconteceu numa tarde de domingo: uma vigília pública foi realizada no Pavilhão da Bandeira do Seattle Centre e reuniu 7 mil pessoas, que levaram velas, flores, cartazes e algumas camisas de flanela em chamas. Um conselheiro de suicídio discursou e incentivou os jovens em dificuldades a pedirem ajuda, enquanto os DJs lcocais trocavam recordações. Uma mensagem curta de Krist foi divulgada, bem como uma fita de Courtney, que leu também a carta de despedida de Kurt.
O corpo de Kurt Cobain foi cremado e Courtney recebeu a urna com as cinzas uma semana depois. Ela pegou um punhado e o enterrou sob um salgueiro na frente da casa. Em maio, colocou o resto numa mochila de ursinho e viajou até o mosteiro budista Namgyal, perto de Ítaca, estado de Nova York, onde procurou consagração para as cinzas e absolvição pra si mesma. Os monges abençoaram os restos e usaram um punhado para fazer uma escultura comemorativa.
A maior parte dos restos mortais de Kurt ficou depositada em uma urna no endereço do Lake Washington, até 1997, quando Courtney vendeu casa, mas insistiu num arcordo que lhe permite voltar um dia e remover o salgueiro.
Por fim, Frances Bean Cobain, então com seis anos de idade, espalhou as cinzas do pai no riacho McLane, em Olympia, Washington - elas dissolveram e flutuaram na corrente. Em diversos sentidos, este era, também, um local adequado para o descanso.
Em 18 de março, Courtney chama a polícia de Seattle porque Kurt se trancou em um quarto da casa com um revólver. Os policiais conversam com ele, que afirma não ser um suicida e querer apenas ficar longe da esposa. Quatro armas que Cobain tem na casa são confiscadas.
Love planeja intervir seriamente nos problemas de Kurt, preocupada com seu vício em heroína. Dez pessoas envolveram-se no trabalho, incluindo colegas, amigos, executivos da gravadora e Dylan Carlson, um dos amigos mais íntimos de Kurt. Danny Goldberg, empresário do Nirvana, descreveu Cobain como sendo "extremamente relutante" e que "ele negava que estava fazendo qualquer coisa auto-destrutiva". Contudo, Cobain concordou em se internar no Exodus, em Los Angeles, Califórnia, que aconteceu em 30 de março. Courtney estava na mesma cidade promovendo o novo disco do Hole, "Live Through This". No dia 1º, por volta das 19:30h, Kurt saiu pelas portas dos fundos da Exodus sob o pretexto de fumar um cigarro e escalou o muro de pouco menos de dois metros de altura. E fugiu. Duas horas depois, Kurt usou seu cartão de crédito para comprar uma passagem de primeira classe para Seattle no vôo 788 da Delta. Antes de embarcar, ligou para a Seattle Limusine e marcou para ser apanhado no aeroporto - pediu explicitamente para que não enviassem uma limusine. Tentou falar com Courtney, mas ela não estava - deixou uma mensagem dizendo que havia ligado. Ela já o estava procurando em Los Angeles assim que soube que Kurt sairia do Exodus. Ficou convencida de que ele irira comprar drogas e provavelmente ter uma overdose. Kurt chegou em casa à 1:45h da manhã do sábado, 2 de abril. Ali, passou um tempo com o casal Cali e Jessica Hooper, colegas que estavam hospedados na casa. Horas depois, Kurt chamou um táxi e tentou comprar munição. Vendo que as lojas ainda estavam fechadas, Kurt desistiu e provavelmente se hospedou no motel Crest ou no Quest - que ficavam próximos de um de seus traficantes. Naquele dia ele também foi até a Seattle Guns e comprou uma caixa de cartuchos de espingarda calibre 20.
Com o intuito de descobrir o paradeiro de Kurt, Courtney cancelou todos os seus cartões de crédito. Nos dois dias que se seguiram, houve notícias dispersas de que Kurt havia sido visto. Na noite de domingo, 3, ele foi visto no restaurante Cactus, jantando com uma mulher magra, provavelmente sua traficante, Caitlin Moore, e um homem não identificado. Naquele domingo, Courtney ligou para detetives particulares das Páginas Amarelas de Los Angeles, até que encontrou um que estava trabalhando naquele fim de semana. Tom Grant e seu assistente Ben Klugman a visitaram naquela tarde. Ela disse que seu marido havia fugido do centro de reabilitação, que estava preocupada com a saúde dele e pediu a Grant que vigiasse o apartamento da traficante Caitlin Moore, onde ela imaginava que Kurt poderia estar. Grant subcontratou um detetive de Seattle, dando-lhe ordens para observar a casa de Dylan Carlson e o apartamento de Caitlin. A vigilância foi montada naquele mesmo domingo. Entretanto, os detetives não montaram guarda imediatamente na casa de Kurt, que ficava no Lake Washington Boulevard.
Na segunda-feira, 4, Courtney pediu que a polícia verificasse a casa em Lake Washington. Os policiais passaram por lá várias vezes, mas não viram nenhum movimento. Naquele dia, à noite, Cali saiu de casa, deixando Jessica sozinha no quarto dele. Por volta da meia-noite, ela ouviu ruídos. "Ouvi passos no andar de cima e no corredor", lembra ela. Gritou um "oi" mas não ouviu resposta. Estima-se que era Kurt chegando naquele começo de madrugada. Cali só voltou depois das três da manhã, e ele e Jessica dormiram até tarde da manhã seguinte.
Na tarde de terça-feira, 5, Courtney mandou Eric Erlandson, seu amigo e guitarrista do Hole, ir até a casa do Lake Washington procurar por Kurt. Ele encontrou-se com Cali e Jessica e os três procuraram por Kurt, armas e drogas. Tentativas todas em vão. Ninguém pensou em procurar na garagem e na estufa, e Erlandson saiu apressado rumo à casa em Carnation, onde a irmã de Kurt morava na ocasião. Na quarta, 6, Jessica e Cali deixaram a casa dos Cobain, mas na tarde de quinta, 7, Courtney conseguiu falar com o casal e ordenou que procurasse por Kurt mais uma vez na casa do Lake Washington. Os dois foram até lá juntos com uma amiga, Bonnie Dillard. Não encontraram nada e deixaram um bilhete com um sermão para Kurt e mandando-o procurar por Courtney. Logo que foram embora, Dillard mencionou que talvez tivesse visto algo perto da garagem, mas, amedontrados, ninguém quis voltar para checar.
Dois dias antes, 5, nas horas que antecediam a alvorada de terça feira, Kurt Cobain havia despertado em sua cama. Os travesserios ainda tinham o cheiro do perfume de Courtney. No quarto, o aroma misturou-se com o cheiro ligeiramente picante da heroína cozida - este também era um cheiro que o despertava.
Kurt havia dormido com suas roupas do corpo. Vestia sua camiseta da banda Half Japanese e suas calças Levi's favoritas. Vestiu e amarrou os cadarços do par de tênis Converse que possuia, caminhou até o aparelho de som e colocou para tocar um disco do R.E.M., "Automatic for the People". Acendeu um Camel Light e caiu de costas na cama com um bloco tamanho ofício apoiado em seu peito e uma caneta vermelha de ponta fina. Ele já havia escrito uma longa carta pessoal à sua esposa e filha, rapidamente rabiscada, enquanto estava no Exodus. Ele havia trazido o papel até Seattle e havia enfiado sob um dos travesseiros impregnados de perfume. "Você sabe, eu amo você. Eu amo Frances. Eu sinto muitíssimo. Por favor, não venha atrás de mim. Eu sinto muito, muito, muito.", eram algumas das palavras que Kurt havia escrito, enchendo uma página inteira com esse pedido de perdão. "Eu estarei lá", continuou ele. "Eu protegerei você. Não sei para onde estou indo. Simplesmente não posso ficar mais aqui."
Tinha sido muito difícil escrever aquele bilhete, mas ele sabia que esta segunda carta seria igualmente importante e ele precisaria ter cuidado com as palavras. Ele endereçava "Para Boddah", o nome de seu amigo de infância imaginário. Quando soltou a caneta, havia enchido a página inteira, exceto por cinco centímetros. Ele fumara três cigarros redigindo o bilhete. As palavras não tinham saído com facilidade e havia erros de grafia e sentenças pela metade. Ele assinou dizendo "paz, amor e empatia. Kurt Cobain". Escreveu ainda mais uma linha - "Frances e Courtney, eu estarei em seu altar" - e enfiou o papel e a caneta no bolso esquerdo do casaco.
Ele se levantou da cama e entrou no closet, onde retirou uma tábua da parede. Neste cubículo secreto havia uma arma dentro de uma capa de náilon bege, uma caixa de cartuchos de espingarda e uma caixa de charutos Tom Moore. Ele repôs a tábua, enfiou os cartuchos no bolso, agarrou a caixa de charutos e aninhou a pesada espingarda sobre seu antebraço esquerdo. Em um closet do corredor, ele apanhou duas toalhas - ele não precisava delas, mas sabia que alguém precisaria. Desceu silenciosamente os dezenove degraus da larga escadaria. Estava a cerca de um metro do quarto de Cali e não queria que ninguém o visse. Ele havia refletido sobre tudo isso, traçado um mapa com a mesma premeditação que dedicava às capas de seus discos e a seus vídeos. Haveria sangue, muito sangue, e uma bagunça que ele não queria em casa. Principalmente, ele não queria assombrar aquele lar, deixar sua filha com o tipo de pesadelos com que ele havia sofrido.
Quando se dirigia para a cozinha, passou pela soleira da porta onde ele e Courtney haviam começado a acompanhar o quanto Frances havia crescido. Apenas uma linha estava ali agora, uma pequena marca de lápis com o nome dela a cerca de 79 centímetros acima do chão. Kurt nunca mais veria outra marcas mais altas naquela parede, mas estava convencido de que a vida de sua filha seria melhor sem ele.
Na cozinha, ele abriu a porta de sua geladeira Traulson de aço inox de 10 mil dólares e apanhou uma lata de cerveja de raizes da Barq, tomando cuidado para não soltar a espingarda. Levando essa carga macabra - cerveja de raízes, toalhas, uma caixa de heroína e uma espingarda, tudo o que mais tarde seria encontrando num arranjo de plantas bizarro -, ele abriu a porta para o quintal e atravessou o pequeno pátio. A aurora estava rompendo e a neblina pairava próximo do chão. A maioria das manhãs em Aberdeen eram exatamente assim: nevoentas, orvalhadas, úmidas. Ele jamais veria Aberdeen novamente; jamais escalaria efetivamente até o topo da caixa d'água no "Morro do Think of Me"; jamais compraria a fazenda que sonhava em Grays Harbor; jamais acordaria novamente numa sala de espera de hospital tendo fingido ser um visitante para só encontrar um lugar quente para dormir; jamais veria novamente sua mãe, irmã, pai, mulher ou filha. Ele trilhou os cerca de vinte passos até a estufa, galgou os degraus de madeira e abriu o conjunto de portas francesas dos fundos. O piso era de linóleo: seria fácil de limpar.
Ele sentou-se no chão da estrutura de cômodo único, olhando para as portas da frente. Ninguém conseguiria vê-lo ali, a menos que estivesse trepado nas árvores atrás de sua propriedade, e isto não era provável. Não queria mais ver o interior de um hospital novamente, não queria um médico de jaleco branco apalpando-o, não queria ter um endoscópio em seu estômago dolorido. Ele estava acabado para aquilo tudo, acabado para o seu estômago, ele não poderia estar mais acabado. Como um grande diretor de filmes, ele havia planejado este momento até os mínimos detalhes, ensaiando esta cena ao mesmo tempo como diretor e como ator. No curso dos anos, tinha havido muitos ensaios finais, passagens de raspão que quase seguiam este caminho, fosse por acidente ou, às vezes, por querer, como em Roma. Talvez fora sempre isto que ele guardava vagamente em sua cabeça, como um ungüento precioso, como a única cura para uma dor que jamais passaria. Ele não se importava com a liberação do desejo, ele desejava a libertação da dor.
Ficou sentado pensando coisas que só ele sabia por vários minutos. Fumou cinco Camel Light e sorveu vários goles de sua cerveja. Tirou o bilhete do bolso, estendeu-o no chão do linóleo e tinha de escrever em letras maiores, que não saíram tão perfeitas, por causa da superfície que ele estava: "Por favor, vá em frente, Courtney, por Frances, pela vida dela que será muito mais feliz sem mim. Eu te amo. Eu te amo". Essas últimas palavras haviam completado a folha. Depositou o bilhete no alto de um monte de terra para vasos e fincou a caneta no meio, para que, como uma estaca, segurasse o papel no alto, sobre a terra.
Tirou a espingarda da capa de náilon macia. Dobrou cuidadosamente a capa, como um garotinho separando suas melhores roupas de domingo depois da missa. Tirou a jaqueta, estendeu-a sobre a capa e colocou as duas toalhas no alto desse monte. Ele foi até a pia e apanhou uma pequena quantidade de água para o seu fogareiro de droga e sentou-se novamente. Abriu a caixa com 25 cartuchos de espingarda e tirou três, enfiando-os na câmara da arma. Moveu o mecanismo da Remington para qu e um único cartucho estivesse na câmara. Retirou a trava de segurança da arma.
Fumou seu último Camel Light. Tomou mais um gole da Barq. Lá fora, estava começando um dia nublado - era um dia como aquele em que ele chegara a este mundo, 27 anos, um mês e dezesseis dias antes. Ele agarrou a caixa de charutos e tirou um pequeno saco plástico que continha cem dólares de heroína preta mexicana - era um bocado de heroína. Ele pegou cerca de metade, um chumaço do tamanho de uma borracha de lápis e o colocou na colher. Sistemática e habilmente, preparou a heroína e a seringa, injetando-a logo acima do cotovelo, não muito longe de seu "K" tatuado. Devolveu os instrumentos para a caixa e se sentiu uma nuvem, rapidamente flutuando para longe deste lugar. O jainismo pregava que havia trinta céus e sete infernos, todos dispostos em camadas ao longo de nossas vidas; se ele tivesse sorte, este seria seu sétimo e último inferno. Afastou para o lado seus instrumentos, flutuando cada vez mais rápido, sentindo sua respiração se reduzir. Ele tinha de se apressar agora: tudo estava se tornando nebuloso e um matiz verde-água enquadrava cada objeto. Agarrou a pesada espingarda, encostou o cano contra o céu de sua boca. Faria barulho; ele tinha certeza disso. Disparou. E então ele se foi.
O corpo de Kurt Cobain foi encontrado pelo eletricista Gary Smith, que chegou à casa do Lake Washington para instalar um novo sistema de segurança. Às 8:40h da sexta-feira, 8, Smith estava perto da estufa e olhou para dentro dela. "Eu vi um corpo estendido lá no chão. Pensei que fosse um manequim. Depois notei que havia sangue na orelha direita. Vi uma espingarda estendida ao longo de seu peito, apontando para seu queixo", relatou Gary. Ele ligou para a polícia e, em seguida, para sua empresa.
Enquanto isso, em Los Angeles, Courtney havia sido internada no Exodus na quinta-feira, 7, para reabilitação. Na sexta, recebeu a notícia da morte de Kurt através da colega Rosemary Carroll. Courtney deixou a cidade num Learjet com Frances, Rosemary, Eric Erlandson e a babá Jeackie Farry. Quando chegaram à casa do Lake Washington, ela estava cercada por equipes dos telejornais.
Foi possível identificar o cadáver como sendo de Kurt, embora seu aspecto fosse macabro: as centenas de bolinhas de chumbo do cartucho da espingarda haviam espandido sua cabeça e o haviam desfigurado. A polícia retirou as digitais do corpo e as impressões batiam com àquelas já arquivadas no caso da prisão por violência doméstica.
A autópsia encontrou traços de benzodiazepinas (tranquilizantes) e heroína no sangue de Kurt. O nível de heroína era tão algo que mesmo ele - famoso pela enorme quantidade que tomava - não poderia ter sobrevivido por muito mais tempo do que aquele que levou para disparar a arma.
Courtney estava inconsolável. Quando os policiais finalmente deixaram o local, e com apenas um guarda de segurança como testemunha, ela reconstitiu os últimos passos de Kurt, entrou na estufa - que ainda tinha de ser limpa - e mergulhou as mãos em seu sangue. No chão, ajoelhada, ela rezou e gemeu de dor, erguendo as mãos cobertas de sangue para o céu e gritou: "Por quê?!". Ela encontrou um pequeno fragmento do crânio de Kurt com cabelo preso a ele. Ela lavou e passou xampu nesse horripilante suvenir.
No sábado, 9, Courtney foi até a agência funerária para ver o corpo de Kurt antes de ser cremado - ela já tinha solicidado que fossem feito moldes de gesso de suas mãos. Grohl tambem foi convidado e declinou, mas Krist compareceu, chegando antes de Courtney. Ele passou alguns momentos a sós com seu velho amigo e desatou a chorar. Quando ele saía, Courtney foi introduzida na sala de inspeção. Kurt estava sobre uma mesa, vestido com suas roupas mais elegantes, mas seus olhos tinham sido costurados. Era a primeira vez em dez dias que a Courtney viu o marido e foi a última vez que seus corpos físicos ficaram juntos. Ela acariciou seu rosto, falou com ele e cortou uma mecha de seus cabelos. Depois, baixou as calças dele e cortou uma mecha de seus pêlos púbicos. Finalmente, ela subiu em cima de seu corpo, abraçando-o com as pernas e recostou a cabeça em seu peito e lamentou: "Por quê, por quê?".
Diversas cerimônias foram realizadas em memória de Kurt. Umas das mais notáveis aconteceu numa tarde de domingo: uma vigília pública foi realizada no Pavilhão da Bandeira do Seattle Centre e reuniu 7 mil pessoas, que levaram velas, flores, cartazes e algumas camisas de flanela em chamas. Um conselheiro de suicídio discursou e incentivou os jovens em dificuldades a pedirem ajuda, enquanto os DJs lcocais trocavam recordações. Uma mensagem curta de Krist foi divulgada, bem como uma fita de Courtney, que leu também a carta de despedida de Kurt.
O corpo de Kurt Cobain foi cremado e Courtney recebeu a urna com as cinzas uma semana depois. Ela pegou um punhado e o enterrou sob um salgueiro na frente da casa. Em maio, colocou o resto numa mochila de ursinho e viajou até o mosteiro budista Namgyal, perto de Ítaca, estado de Nova York, onde procurou consagração para as cinzas e absolvição pra si mesma. Os monges abençoaram os restos e usaram um punhado para fazer uma escultura comemorativa.
A maior parte dos restos mortais de Kurt ficou depositada em uma urna no endereço do Lake Washington, até 1997, quando Courtney vendeu casa, mas insistiu num arcordo que lhe permite voltar um dia e remover o salgueiro.
Por fim, Frances Bean Cobain, então com seis anos de idade, espalhou as cinzas do pai no riacho McLane, em Olympia, Washington - elas dissolveram e flutuaram na corrente. Em diversos sentidos, este era, também, um local adequado para o descanso.
domingo, 31 de agosto de 2008
Um Vice de prestígio
No processo ensino-aprendizagem, em qualquer contexto em que se esteja inserido, é necessário que se conheça as categorias que integram este processo como elementos fundamentais para um melhor aproveitamento da aprendizagem. É necessário ter clareza sobre o conjunto. Cercado desses ingredientes o jovem professor Edvan Pinheiro, formado em pedagogia pela Universidade Federal do Acre (Ufac), se apresenta como candidato à vice-prefeito de Marechal Thaumaturgo pelo Partido Comunista do Brasil (PC do B).
Aos 30 anos de idade Edvan Pinheiro entrou na vida pública, quando assumiu por força de concurso público a coordenação de educação do Estado em Marechal Thaumaturgo. Ele está afastado da função em virtude da candidatura.
Edvan Pinheiro se diz orgulhoso dos avanços no setor educacional no município onde segundo ele, 100% da população com idade escolar têm acesso à escola. E destaca o fato de haver ensino médio nas comunidades Belfort, Foz do Breu, Triunfo, Foz do Bajé e Foz do Tejo.
“Esses 100% precisam ser aperfeiçoados. Lembro-me que na minha infância tive que sair daqui, para estudar em Porto Walter, mesmo morando na sede da então Vila. Agora a realidade é outra, temos inclusive ensino superior”, revela.
Em uma rápida conversa ele foi categórico: pode ser que quem esteja lendo este texto há de dizer, mas o professor quer ser político por quê? A resposta também foi rápida, fazemos parte de um projeto político é verdade.
A realidade nos mostra que, a possibilidade de participar de um novo ciclo administrativo instiga a imaginação de fortalecer a área de Educação, além de outros seguimentos da administração pública.
O prefeito Itamar de Sá, a custa de muito esforço, trouxe o progresso para essa região, resultado de parcerias com o governo, essa é uma luta que não pode parar.
Aos 30 anos de idade Edvan Pinheiro entrou na vida pública, quando assumiu por força de concurso público a coordenação de educação do Estado em Marechal Thaumaturgo. Ele está afastado da função em virtude da candidatura.
Edvan Pinheiro se diz orgulhoso dos avanços no setor educacional no município onde segundo ele, 100% da população com idade escolar têm acesso à escola. E destaca o fato de haver ensino médio nas comunidades Belfort, Foz do Breu, Triunfo, Foz do Bajé e Foz do Tejo.
“Esses 100% precisam ser aperfeiçoados. Lembro-me que na minha infância tive que sair daqui, para estudar em Porto Walter, mesmo morando na sede da então Vila. Agora a realidade é outra, temos inclusive ensino superior”, revela.
Em uma rápida conversa ele foi categórico: pode ser que quem esteja lendo este texto há de dizer, mas o professor quer ser político por quê? A resposta também foi rápida, fazemos parte de um projeto político é verdade.
A realidade nos mostra que, a possibilidade de participar de um novo ciclo administrativo instiga a imaginação de fortalecer a área de Educação, além de outros seguimentos da administração pública.
O prefeito Itamar de Sá, a custa de muito esforço, trouxe o progresso para essa região, resultado de parcerias com o governo, essa é uma luta que não pode parar.
PT joga no lixo a luta de Chico Mendes
No dia 22 de dezembro de 1988 chegava ao fim a vida de um homem simples da floresta, que ganhou o Brasil e o mundo em sua defesa pela preservação da Amazônia. Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes, teve sua vida ceifada a mando de fazendeiros e madeireiros que estavam ficando incomodados com os famosos “empates” – corrente humana formada por seringueiros que impedia o avanço de tratores e motosserras dentro da mata.Assim, Chico Mendes chamou a atenção do mundo sobre a ação devastadora dos madeireiros. Junto com outros esquerdistas da época, Chico Mendes organizou a criação do Partido dos Trabalhadores no Acre. Chico teve o apoio do até então insignificante sindicalista e presidente do PT, Luis Inácio Lula da Silva – hoje o chefe do País.O PT então decidiu abraçar a causa de Chico Mendes, o desenvolvimento sustentável com a criação das reservas extrativistas, e adotá-la como política de governo em 1999, quando Jorge Viana assumiu o poder no Acre.No ano que se lembra os 20 anos da morte do líder seringueiro, este mesmo Partido dos Trabalhadores que criou a tal “florestania” joga toda a luta de Chico Mendes, literalmente, na lata do lixo. A festa do PT para receber o apoio de madeireiros é simplesmente vergonhosa e digna de todo repúdio por parte dos petistas que não possuem cargo-comissionado para carregar a estrela vermelha e que ainda acreditam na ideologia do partido.Este apoio dos madeireiros que o candidato Raimundo Angelim recebeu na sexta-feira, nada mais é uma prova do fisiologismo em que está o Partido dos Trabalhadores hoje no Acre e no Brasil. Chico Mendes deve ter se retorcido em sua tumba ao ver petistas e devastadores da floresta abraçados e mais amigos do que nunca.Agora sim está explicado a razão por que se vê tantos caminhões carregados de tora de madeira cruzando as noites de Rio Branco e as estradas acreanas. Basta andar um pouco pela escuridão do Anel Viário para se ver caminhões e mais caminhões transportando, sabe-se lá com as ATPF (Autorização de Transporte de Produto Florestal), árvores centenárias da Amazônia que foram arrancadas.
sexta-feira, 29 de agosto de 2008
A felicidade é a empada do "Bigode"
Nossa visão de alegria é não ver o mal do mundo. No fim de ano todo mundo começa a falar: “Feliz natal, feliz ano novo!”. Mas, ser feliz, como? O sujeito passou o ano todo quebrando a cara, reclamando da mulher, batendo nos filhos, lutando contra o desemprego, sendo humilhado pelos patrões, e aí, chega o fim do ano e todo mundo diz: “Seja feliz!” E aí o sujeito tem de estampar um sorriso alvar no rosto, uma baba simpática, um olhar vazado de luz bondosa, faz uma arvorezinha de Natal com bolotas coloridas, mata um peru magro e pensa: “Sou feliz!” “O ano que vem vai melhorar!”
Felicidade muda com a época. Antigamente, a felicidade era uma missão, a conquista de algo maior que nos coroasse de louros, a felicidade demandava o “sacrifício”, a luta por cima de obstáculos. Felicidade se construía – por sabedoria ou esforço criávamos condições de paz e alegria em nossas vidas.
Hoje, felicidade é ser desejado. Felicidade é ser consumido, é entrar num circuito comercial de sorrisos e festas e virar um objeto de consumo. Hoje, confundimos nosso destino com o destino das coisas... Uma salsicha é feliz? Os peitos de silicone são felizes?A felicidade não é mais interna, contemplativa, não é a calma vivência do instante, ou a visão da beleza. A felicidade é ter um “bom funcionamento”. Marshall McLuhan falou que os meios de comunicação são extensões de nossos braços, olhos e ouvidos. Hoje, inverteram-se. Nós é que somos extensões das coisas. Fulano é a extensão de um banco, sicrano comporta-se como um celular, beltrana rebola feito um liquidificador. Assim como a mulher deseja ser um objeto de consumo, como um eletrodoméstico, um “avião”, uma máquina peituda, bunduda. Claro que mulheres lindas nos despertam fantasias sacanas mas, em seguida, pensamos: “E depois? Vou ter de conversar...e aí?” Como conversar com um “avião” maravilhoso, mas idiota? (aliás, dizem que uma das vantagens do Viagra é que, esperando o efeito, os homens conversam com as mulheres sobre tudo, até topam “discutir a relação”).
Mas, o homem também quer ser “coisa”, só que mais ativa, como uma metralhadora, uma Ferrari, um torpedo inteligente e, mais que tudo, um grande pênis voador, pássaro superpotente, mas irresponsável, frívolo, que pousa e voa de novo, sem flacidez e sem angústias. Seu prazer é cumulativo, feito de apropriações indébitas, dando-lhe o glamour de uma eterna juventude que afasta a idéia de morte ou velhice.E eu não falo isso como crítica. Não. Eu tenho inveja, a verde, viscosa e sinistra inveja dessa ausência de angústia, dessa ignorância gargalhante que adivinho sob os seios de mulheres gostosérrimas ou nos peitos raspados de garotões lindos. Quero ser feliz, mas carrego comigo lentidões, traumas, conflitos. Sinto-me aquém dos felizes de hoje. Posso ter uma crise de depressão em meio a uma orgia, não tenho o dom da gargalhada frouxa, posso broxar no auge de uma bacanal. Fui educado por jesuítas e pai severo, para quem o riso era quase um pecado. O narcisismo de butique de hoje reprime dúvidas e tristezas óbvias. Eles têm medo do medo e praticam uma espécie de fobia eufórica, uma síndrome de pânico ao avesso: gargalhadas de pavor. E ainda atribuem uma estranha “profundidade” a esta superficialidade, porque, hoje, esse diletantismo tem o charme raso de ser uma sabedoria elegante e “pós-tudo”. Mas, falo, falo e não digo o essencial. Hoje, a felicidade é entrar num pavilhão de privilegiados. Eu queria não pensar, queria ser um imbecil completo sem angústias – (meus inimigos dirão: “Você tem tudo pra isso. Sou uma esponja que se deixa tocar por tudo, desde a crise da dívida pública até o muro da Cisjordânia. Lembro a personagem de Eça de Queiroz que dizia: “Como posso ser feliz se a Polônia sofre?”
Hoje, a felicidade está na relação direta com a capacidade de não ver, de negar, de “forcluir” como dizem os lacanianos. Felicidade é uma lista de negativas. Não ter câncer, não ler jornal, não olhar os meninos miseráveis no sinal, não ver cadáveres na tv, não ter coração. O mundo está tão sujo e terrível que a felicidade é se transformar num clone de si mesmo, num andróide sem sentimentos, sem esperança, sem futuro, só vivendo um presente longo, como uma “rave” sem fim. Pedem-me previsões para o ano que vem. Tudo pode acontecer. Quem imaginaria o 11 de Setembro?
Osama nos legou o fatalismo dos árabes. Daqui para frente, teremos de aprender com eles a dizer: “-Maktub!” – tudo estava escrito, nada nos surpreenderá mais. Só nos resta a orientalização, a religião evangélica louca ou a “objetificação” do consumo. Ou então, viver a felicidade das pequenas coisas. Outro dia, eu estava comendo uma empada de palmito na porta da Globo (na Kombi do “Bigode”, que faz as melhores empadas do mundo) quando, sem quê nem porquê, fui invadido por uma infinita ventura, uma felicidade que nunca tive. Durou uns minutos. Não sei a razão; acho que foi um protesto do corpo, um cansaço da depressão. Mas, logo depois, passou e voltei ao duro show da vida.
Hoje felicidade é o brilho de um solitário que suga o prazer, sem conflitos, sem afetos profundos, mas sempre com um sorriso simpático e congelado, porque é mais “comercial” ser alegre do que o velho herói dos anos 60, que carregava a dor do mundo. O herói feliz acha que não precisa de ninguém, que todos devem se aprisionar em seu charme, mas ele é ninguém. Para o herói criado pela mídia, o mundo é um grande pudim a ser comido. Feliz natal e feliz ano novo.
Felicidade muda com a época. Antigamente, a felicidade era uma missão, a conquista de algo maior que nos coroasse de louros, a felicidade demandava o “sacrifício”, a luta por cima de obstáculos. Felicidade se construía – por sabedoria ou esforço criávamos condições de paz e alegria em nossas vidas.
Hoje, felicidade é ser desejado. Felicidade é ser consumido, é entrar num circuito comercial de sorrisos e festas e virar um objeto de consumo. Hoje, confundimos nosso destino com o destino das coisas... Uma salsicha é feliz? Os peitos de silicone são felizes?A felicidade não é mais interna, contemplativa, não é a calma vivência do instante, ou a visão da beleza. A felicidade é ter um “bom funcionamento”. Marshall McLuhan falou que os meios de comunicação são extensões de nossos braços, olhos e ouvidos. Hoje, inverteram-se. Nós é que somos extensões das coisas. Fulano é a extensão de um banco, sicrano comporta-se como um celular, beltrana rebola feito um liquidificador. Assim como a mulher deseja ser um objeto de consumo, como um eletrodoméstico, um “avião”, uma máquina peituda, bunduda. Claro que mulheres lindas nos despertam fantasias sacanas mas, em seguida, pensamos: “E depois? Vou ter de conversar...e aí?” Como conversar com um “avião” maravilhoso, mas idiota? (aliás, dizem que uma das vantagens do Viagra é que, esperando o efeito, os homens conversam com as mulheres sobre tudo, até topam “discutir a relação”).
Mas, o homem também quer ser “coisa”, só que mais ativa, como uma metralhadora, uma Ferrari, um torpedo inteligente e, mais que tudo, um grande pênis voador, pássaro superpotente, mas irresponsável, frívolo, que pousa e voa de novo, sem flacidez e sem angústias. Seu prazer é cumulativo, feito de apropriações indébitas, dando-lhe o glamour de uma eterna juventude que afasta a idéia de morte ou velhice.E eu não falo isso como crítica. Não. Eu tenho inveja, a verde, viscosa e sinistra inveja dessa ausência de angústia, dessa ignorância gargalhante que adivinho sob os seios de mulheres gostosérrimas ou nos peitos raspados de garotões lindos. Quero ser feliz, mas carrego comigo lentidões, traumas, conflitos. Sinto-me aquém dos felizes de hoje. Posso ter uma crise de depressão em meio a uma orgia, não tenho o dom da gargalhada frouxa, posso broxar no auge de uma bacanal. Fui educado por jesuítas e pai severo, para quem o riso era quase um pecado. O narcisismo de butique de hoje reprime dúvidas e tristezas óbvias. Eles têm medo do medo e praticam uma espécie de fobia eufórica, uma síndrome de pânico ao avesso: gargalhadas de pavor. E ainda atribuem uma estranha “profundidade” a esta superficialidade, porque, hoje, esse diletantismo tem o charme raso de ser uma sabedoria elegante e “pós-tudo”. Mas, falo, falo e não digo o essencial. Hoje, a felicidade é entrar num pavilhão de privilegiados. Eu queria não pensar, queria ser um imbecil completo sem angústias – (meus inimigos dirão: “Você tem tudo pra isso. Sou uma esponja que se deixa tocar por tudo, desde a crise da dívida pública até o muro da Cisjordânia. Lembro a personagem de Eça de Queiroz que dizia: “Como posso ser feliz se a Polônia sofre?”
Hoje, a felicidade está na relação direta com a capacidade de não ver, de negar, de “forcluir” como dizem os lacanianos. Felicidade é uma lista de negativas. Não ter câncer, não ler jornal, não olhar os meninos miseráveis no sinal, não ver cadáveres na tv, não ter coração. O mundo está tão sujo e terrível que a felicidade é se transformar num clone de si mesmo, num andróide sem sentimentos, sem esperança, sem futuro, só vivendo um presente longo, como uma “rave” sem fim. Pedem-me previsões para o ano que vem. Tudo pode acontecer. Quem imaginaria o 11 de Setembro?
Osama nos legou o fatalismo dos árabes. Daqui para frente, teremos de aprender com eles a dizer: “-Maktub!” – tudo estava escrito, nada nos surpreenderá mais. Só nos resta a orientalização, a religião evangélica louca ou a “objetificação” do consumo. Ou então, viver a felicidade das pequenas coisas. Outro dia, eu estava comendo uma empada de palmito na porta da Globo (na Kombi do “Bigode”, que faz as melhores empadas do mundo) quando, sem quê nem porquê, fui invadido por uma infinita ventura, uma felicidade que nunca tive. Durou uns minutos. Não sei a razão; acho que foi um protesto do corpo, um cansaço da depressão. Mas, logo depois, passou e voltei ao duro show da vida.
Hoje felicidade é o brilho de um solitário que suga o prazer, sem conflitos, sem afetos profundos, mas sempre com um sorriso simpático e congelado, porque é mais “comercial” ser alegre do que o velho herói dos anos 60, que carregava a dor do mundo. O herói feliz acha que não precisa de ninguém, que todos devem se aprisionar em seu charme, mas ele é ninguém. Para o herói criado pela mídia, o mundo é um grande pudim a ser comido. Feliz natal e feliz ano novo.
Hoje, só as bestas quadradas serão felizes
Fui ver o filme Amélie Poulain, que está estourando nas bilheterias mundo afora. Disseram-me que era "esperançoso, um refrigerio para o aterrorizante mundo atual". Armei-me de pipocas e mergulhei no escuro. Adorei. O filme é uma perfumaria , mas eu amei. Durante duas horas, esqueci de mim mesmo. E descobri a verdade inapelável: eu quero, eu preciso me "alienar", como se dizia antigamente. A "alienação" virou uma necessidade social. O filme é uma fábula simpática de uma "neo-Poliana", uma chapliniana mocinha cheia de compaixão, que modifica a vida dos fracassados e infelizes.
Saí do cinema pensando: Amélie, eu quero ser outro. Não quero ser mais eu. Eu não me agüento mais, quero me "alienar", virar, se necessário, uma besta feliz. Eu fazia filmes, mas a vida me levou a virar jornalista, profissão que adoro, mas que me obriga a uma incessante observação do dia-a-dia, fazendo-me amargurado, num crescente rancor por um país que não se conserta, como queria minha geração romântica. Por isso, Amélie Poulain, venha me modificar, me faça sorrir alvamente, me traga a baba dos idiotas, venha Forrest Gump, me vidre os olhos de parvoice, venha Prof. Pangloss, me ensinar a cultivar o jardinzinho dos babacas.
Enquanto milhões de árabes se acotovelam em Meca, unidos na única certeza de Alá, nós estamos sós. Não temos Alá; só temos o cinema americano, nossas religiões são ralas, não nos prostam a rezar para Meca, como lagartixas felizes cinco vezes por dia; vivemos dentro da angustiante democracia liberal, que nos amaldiçoa com esta liberdade inútil. Por isso, Amélie Poulain me inspirou uma lista de conselhos de auto-ajuda para nos devolver uma abjeta e deliciosíssima felicidade neste mundo sinistro.
Eia! Avante, românticos sofredores, cidadãos nostálgicos do Bem, aqui vai um Alcorão substituto, um guia de sobrevivência na selva global. O princípio básico é o "Não" - a negação de evidências, a técnica de nada ver, a "conduta de evitação", como fazem os fóbicos. "Não" olhar a miséria nas ruas, evitar os menininhos nos sinais cariocas, principalmente a nova invenção dos pequenos desgraçados, fazendo malabarismos com três bolinhas para ganhar esmola, menininhos esfarrapados diante de BMWs indiferentes.
"Não" olhar mães com nenéns no colo nos meios-fios e, se por acaso, entrarem em nosso campo de visão, imediatamente convocar a moral de classe média de que "essas mães podiam trabalhar, mas não o fazem por preguiça de enfrentar um tanque de roupa". "Não" ver noticiários, nem ler os jornais ácidos e veristas; não ver, por exemplo, os desgraçados sem-teto que serão expulsos à bala no Pará, enquanto o Jarbas Barbalho tem habeas-corpus. Diante da injustiça, blindar-se, lixar a alma, laquear o coração.
Mas, não pensem que somente a "alienação" é um bom procedimento. Podemos ser felizes também com "ideologias". Por exemplo, diante da tal "globalização" da economia, podemos ter duas atitudes. Uma, é acreditar, lívidos de certeza, que o livre mercado vai tirar o homem de suas dores e que a riqueza choverá sobre os emergentes, como festas da uva. Esperança neoliberal. Ou, então, cheios de entusiasmo, como em Porto Alegre, acreditar que homens e mulheres com camisetas de Guevara e tocando o tambor de Mercedes Soza ou com as "veias abertas" de amor pela América Latina, como Galeano, conseguirão reverter a exclusão e a fome, apenas pelo dom mágico das palavras de ordem. Esperança de "esquerda".
São as delícias do auto-engano: nas duas posições, de olhos vidrados, arfantes de certezas, evitaremos o incômodo de ver a evidente vitória do capitalismo mais bruto. Dica de felicidade: esquecer a Arte. Isso mesmo. Essa tal de "Arte" que sempre nos evocou um ideal de harmonia, essa saudade da natureza da qual nos exilamos, essa fome de eternidade tem de acabar de uma vez por todas. Abaixo Bach, Goya, Shakespeare, Rimbaud e toda uma lista negra de velhos idiotas. Devemos nos banhar nos filmes americanos, nas audições de axé music, de pagodes e raps, de bundas e garrafas, até o momento em que, tomados pela revelação pós-moderna, exclamarmos em lágrimas: "Sim, sim, Schwarzenegger, sim, techno music, sim Celine Dion, sim Phillipe Starck, sim Grisham, sim, eu vi a luz! Aleluia!" Outra dica: tirar da cabeça o velho hábito ocidental do criticismo. Aceitar tudo que nos é oferecido, com lábios trêmulos de gratidão: "Sim, sim, Silvio Santos, sim, Ratinho, sim, Edir Macedo, sim, obedecemos..."
Há muitas formas de ser feliz. Pode ser pela adesão ao princípio do "melhor dos mundos", das pequenas maravilhas do cotidiano: "Ohh... como é belo o amor à vida que esses favelados têm..." ou por uma transposição fatalista meio oriental : "Ohh... esta enchente que matou 200 estava escrita - deve ter um lado bom..." Também é possível ser feliz pela entrega total a uma infelicidade, a um pessimismo absoluto tipo Cioran, pela deliciosa alegria dos céticos, pelo desprezo pela vida lá fora. Sem esquecer os "militantes imaginários" que torcem pelo "bem do Homem", como pelo Palmeiras, com a consciência limpa, em casa, de pijama.
Meus mandamentos de felicidade atual não caberiam neste artigo. Mas as regras básicas são: esquecer os outros e só atentar para si : "Eu sou mais eu..." Entregar-se ao consumo: "A felicidade é meu jeans Calvin Klein." Entregar-se ao narcisismo radical: "Não há popozuda mais siliconada na Avenida." A busca da ignorância mais negra: "Não me venha com papos-cabeça!" Ou mesmo a adesão ao mais remoto feudo-cabeça: "Fora Mallarmé, o resto é lixo..."
E só assim, "alienados", com os olhos bem tapados, com o coração lacrado, com o cultivo da estupidez, com a devoção à baba elástica e bovina dos imbecis, poderemos chegar à revelação final e, num rasgo de felicidade, amar para sempre a beleza do excremento!
Saí do cinema pensando: Amélie, eu quero ser outro. Não quero ser mais eu. Eu não me agüento mais, quero me "alienar", virar, se necessário, uma besta feliz. Eu fazia filmes, mas a vida me levou a virar jornalista, profissão que adoro, mas que me obriga a uma incessante observação do dia-a-dia, fazendo-me amargurado, num crescente rancor por um país que não se conserta, como queria minha geração romântica. Por isso, Amélie Poulain, venha me modificar, me faça sorrir alvamente, me traga a baba dos idiotas, venha Forrest Gump, me vidre os olhos de parvoice, venha Prof. Pangloss, me ensinar a cultivar o jardinzinho dos babacas.
Enquanto milhões de árabes se acotovelam em Meca, unidos na única certeza de Alá, nós estamos sós. Não temos Alá; só temos o cinema americano, nossas religiões são ralas, não nos prostam a rezar para Meca, como lagartixas felizes cinco vezes por dia; vivemos dentro da angustiante democracia liberal, que nos amaldiçoa com esta liberdade inútil. Por isso, Amélie Poulain me inspirou uma lista de conselhos de auto-ajuda para nos devolver uma abjeta e deliciosíssima felicidade neste mundo sinistro.
Eia! Avante, românticos sofredores, cidadãos nostálgicos do Bem, aqui vai um Alcorão substituto, um guia de sobrevivência na selva global. O princípio básico é o "Não" - a negação de evidências, a técnica de nada ver, a "conduta de evitação", como fazem os fóbicos. "Não" olhar a miséria nas ruas, evitar os menininhos nos sinais cariocas, principalmente a nova invenção dos pequenos desgraçados, fazendo malabarismos com três bolinhas para ganhar esmola, menininhos esfarrapados diante de BMWs indiferentes.
"Não" olhar mães com nenéns no colo nos meios-fios e, se por acaso, entrarem em nosso campo de visão, imediatamente convocar a moral de classe média de que "essas mães podiam trabalhar, mas não o fazem por preguiça de enfrentar um tanque de roupa". "Não" ver noticiários, nem ler os jornais ácidos e veristas; não ver, por exemplo, os desgraçados sem-teto que serão expulsos à bala no Pará, enquanto o Jarbas Barbalho tem habeas-corpus. Diante da injustiça, blindar-se, lixar a alma, laquear o coração.
Mas, não pensem que somente a "alienação" é um bom procedimento. Podemos ser felizes também com "ideologias". Por exemplo, diante da tal "globalização" da economia, podemos ter duas atitudes. Uma, é acreditar, lívidos de certeza, que o livre mercado vai tirar o homem de suas dores e que a riqueza choverá sobre os emergentes, como festas da uva. Esperança neoliberal. Ou, então, cheios de entusiasmo, como em Porto Alegre, acreditar que homens e mulheres com camisetas de Guevara e tocando o tambor de Mercedes Soza ou com as "veias abertas" de amor pela América Latina, como Galeano, conseguirão reverter a exclusão e a fome, apenas pelo dom mágico das palavras de ordem. Esperança de "esquerda".
São as delícias do auto-engano: nas duas posições, de olhos vidrados, arfantes de certezas, evitaremos o incômodo de ver a evidente vitória do capitalismo mais bruto. Dica de felicidade: esquecer a Arte. Isso mesmo. Essa tal de "Arte" que sempre nos evocou um ideal de harmonia, essa saudade da natureza da qual nos exilamos, essa fome de eternidade tem de acabar de uma vez por todas. Abaixo Bach, Goya, Shakespeare, Rimbaud e toda uma lista negra de velhos idiotas. Devemos nos banhar nos filmes americanos, nas audições de axé music, de pagodes e raps, de bundas e garrafas, até o momento em que, tomados pela revelação pós-moderna, exclamarmos em lágrimas: "Sim, sim, Schwarzenegger, sim, techno music, sim Celine Dion, sim Phillipe Starck, sim Grisham, sim, eu vi a luz! Aleluia!" Outra dica: tirar da cabeça o velho hábito ocidental do criticismo. Aceitar tudo que nos é oferecido, com lábios trêmulos de gratidão: "Sim, sim, Silvio Santos, sim, Ratinho, sim, Edir Macedo, sim, obedecemos..."
Há muitas formas de ser feliz. Pode ser pela adesão ao princípio do "melhor dos mundos", das pequenas maravilhas do cotidiano: "Ohh... como é belo o amor à vida que esses favelados têm..." ou por uma transposição fatalista meio oriental : "Ohh... esta enchente que matou 200 estava escrita - deve ter um lado bom..." Também é possível ser feliz pela entrega total a uma infelicidade, a um pessimismo absoluto tipo Cioran, pela deliciosa alegria dos céticos, pelo desprezo pela vida lá fora. Sem esquecer os "militantes imaginários" que torcem pelo "bem do Homem", como pelo Palmeiras, com a consciência limpa, em casa, de pijama.
Meus mandamentos de felicidade atual não caberiam neste artigo. Mas as regras básicas são: esquecer os outros e só atentar para si : "Eu sou mais eu..." Entregar-se ao consumo: "A felicidade é meu jeans Calvin Klein." Entregar-se ao narcisismo radical: "Não há popozuda mais siliconada na Avenida." A busca da ignorância mais negra: "Não me venha com papos-cabeça!" Ou mesmo a adesão ao mais remoto feudo-cabeça: "Fora Mallarmé, o resto é lixo..."
E só assim, "alienados", com os olhos bem tapados, com o coração lacrado, com o cultivo da estupidez, com a devoção à baba elástica e bovina dos imbecis, poderemos chegar à revelação final e, num rasgo de felicidade, amar para sempre a beleza do excremento!
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