sexta-feira, 8 de maio de 2009

Entre o passado e o futuro, a vida e o tempo são meus donos


Nunca gostei da palavra adeus. Ela me parece forte demais. Deixa no ar uma ligação direta com o findar de uma existência de amizades. Tem o cheiro apavorante de um quarto de enfermo. Soa como uma despedida da vida. Prefiro, quando me despeço, dizer, um até mais, um até breve.

Faz um ano e meio que estou no overmundo onde fui acolhido com muitas mãos de flores, com muitas línguas perfumadas, com doces olhares de bondade sobre o que aqui escrevi. A vida ensinou-me a não tomar decisões precipitadas, ingratas. Achei, por isso, que seria mais prudente tirar umas "férias" do overmundo, um projeto cultural profundamente bem elaborado, mas, cujas janelas, ultimamente, por onde entrava o sol ardente da liberdade estão sendo decoradas com cortinas pintadas com a cor do luto da inimizade, da injustiça, das ofensas pessoais..

Em lugar de poesias que falam de amor, vejo e leio textos que valorizam o ódio. O rancor. O desprezo. Palavras que, definitivamente, não fazem parte do meu dicionário, da minha vida. Se um dia resolver voltar, espero que suas portas por onde entraram tantas delícias de muitas almas poetas, sensíveis, talentosas, continuem abertas para novamente abrigar as letras de esperanças escritas pelas mãos do meu coração.

Aqui comecei e escrevi um livro. Uma glória. Uma vitória, um sonho, para quem aprendeu a desejar pouco da vida. Não fujo no meio da noite, não sou desleal com os amigos, com este projeto que cobriu muitas das minhas dores com o teto da cultura. Saio num meio de tarde aspirando uma brisa que parece querer me dizer que a desesperança no amanhã nunca é para sempre.

Para tantos que não me conhecem, peço emprestadas muitas das minhas próprias palavras que usei na introdução do meu livro- Entre o Riso e Pranto- para dizer que aqui escrevi cartas para o tempo, para a vida, para meus amores e desamores, para as ingratidões do destino. Falei para as calçadas enluaradas, para as caçadas em busca da felicidade. Fiz poemas para as estrelas. Bisbilhotei minha infância. Mandei cartas sem fim para minhas saudades. Clamei para a volta da esperança. Ansiei pela eternidade. Pela felicidade plena.

Escrevi doces recados para os pássaros. Tentei esconder o ontem. Pedi aos céus sinais de luz. Espalhei orações. Fabriquei a fé. Perdi-a nas noites escuras. Recuperei-a ao nascer de muitas alvoradas. Dei vida para muitos cansados telhados. Mandei um beijo interminável para Belém do Pará. Amei muitas manhãs de chuvas. Apaixonei-me pelo sol poente. Odiei-o por me trazer tantas tristezas.

Enviei carta dura para a morte. Exaltei a vida, o amor com todas as suas ilusões e desilusões. Cobrei do ciúme exagerado uma nova postura. Aconselhei os corações ateus. Tentei abrir a fechadura espiritual de muitas almas. Sonhei ser santo. Sofri ao ver tantos indigentes deixando suas moribundas digitais em tantas portas que não se abriam.

Rasguei o ventre da terra. Vi muitos meninos desnudos brincando de nada. Inventei e reinventei sonhos. Copiei as esperanças alheias. Brindei bebendo pingos de luar, gotas de orvalho. Com a revolta que irrompe da injustiça, critiquei o Pai Noel por injuriar os sonhos dourados de muitas crianças pobres, por prometer e não cumprir. Senti como são longas e ingratas as asas do tempo.

Castiguei os corações desgovernados. Falei para a razão e a emoção. Pedi explicações sobre a diferença de amor e saudade. Ouvi no começo da primavera o primeiro canto de um sabiá. Escrevi uma grande carta para os múltiplos encantamentos da vida. Supliquei para a esperança acelerar seus passos. Senti como somos indiferentes com a dor que mora ao nosso lado. Vi que as cidades são grandes teatros de mentiras e assim mesmo, numa insensatez da minha alma, ansiei ser cidade quando espiava, um dia, meu particular horizonte de saudades.

Espalhei tantas cartas pelas ruas escuras. Muitas os ventos as levaram. Outras o tempo as escondeu, tantas a vida as reescreveu. Um dia resolvi sair pelas calçadas, pelas esquinas, pelas praças, recolhendo, sob a luz das estrelas ou sob a luz do sol ardente, retalhos de cada uma delas que pudessem contar um pedaço da minha vida que, mesmo andando entre a tristeza e a felicidade, é esperança que não cessa, é amor que não se acaba.

Entendi que a vida é feita de momentos, de pedaços, de sonhos que nascem no coração e acordam nos parapeitos das janelas. Muitos ficam, empoeirados nas prateleiras da alma, outros viram realidade e constroem, mesmo entre o riso e o pranto, um livro, que o danado do tempo jamais conseguirá fazer cair no esquecimento humano e para sempre ficará guardado nas páginas do banco de cultura deste site. Hoje sou sonho completo. Sou lábios que agradecem a Deus as bondades que me ofertou. Sou grato aos amigos que aqui garimpei. Sou grato ao Overmundo, por ter me permitido ser páginas escritas com os olhos da alma e com as mãos do coração

Não sei por quanto tempo ficarei ausente dessas “férias” forçadas. A vida e o tempo são meus donos. Talvez, se um dia voltar, e, se assim me for permitido, muita coisa tenha mudado, muitas vitórias tenham sido conquistadas, afinal, não se abre, impunemente, ao sopro dos ventos, uma mão carregada de pó de ouro.

Nenhum comentário: