"A tecnologia digital é a arte de criar necessidades desnecessárias que se tornam absolutamente imprescindíveis." (Joelmir Beting)
terça-feira, 14 de abril de 2009
A “Sarça Ardente” revelada
A palavra páscoa deriva do hebraico "pesach", nome que significa literalmente "passagem". É uma alusão à passagem dos hebreus pelo Mar Vermelho, o que determinou a sua afirmação enquanto povo. Num nível simbólico a travessia do mar Vermelho, simboliza que a orientação divina é capaz de nos fazer ultrapassar o impossível.
No Novo Testamento, conta-se que a ressurreição de Jesus ocorreu durante a comemoração do "pesach" e simbolicamente recebeu o significado de que Ele também havia "passado" através do impossível, ou seja, a própria morte.
Uma história que quase todo mundo conhece, mas que pode ser observada sob um novo ângulo.
A história bíblica conta que Moisés subiu o Monte Sinai e lá, diante de uma "Sarça Ardente", teve as revelações divinas com as quais conduziu o seu povo. "E vendo o Senhor que ele se virara para ver, chamou-o do meio da sarça, e disse: Moisés, Moisés! Respondeu ele: Eis-me aqui". (Exôdo. Cap. 3).
A Bíblia não traz detalhes de como teria sido esta conversa entre Moisés e a "Sarça Ardente"; ou se preferir entre Moisés e Deus, mas de algum modo tendo uma planta como ponte.
Foi em virtude deste acontecimento que Moisés passou a referir-se à Deus, como aquele que habita na sarça o que fez pela primeira vez durante a bênção das tribos de Israel (Deuteronômio 33:16).
O professor israelense Beni Shanon causou protestos no mundo religioso ao sugerir que o profeta Moisés teria ingerido Ayahuasca. O professor teve contato com a bebida em 1991 na Amazônia Brasileira, mais exatamente em Rio Branco, Acre. Exceto pelo fato de que as plantas da ayahuasca não vingam no solo desértico do Oriente Médio, a teoria merece no mínimo destaque, afinal partiu de um israelense (e portanto, em tese descendente do próprio Moisés) e professor da Universidadede Jerusalém.
Pesquisadores do inovador campo da consciência associam que importantes "passagens" da humanidade tenham ocorrido através da liberação do DMT (dimetil-triptamina) no organismo. O DMT é uma substância produzida pelo próprio corpo, o que justifica a denominação de enteógeno (ente=ser) ao invés de alucinógeno.
Jejuns prolongados, determinadas doenças, vigília prolongada entre outras privações seriam capazes de estimular a produção do DMT pelo organismo.
Uma das reações do DMT no organismo seria a percepção ampliada do Universo e a sensação de que os limites humanos, normalmente experimentados no dia-a-dia, seriam apenas produtos de nossas projeções mentais, sem relação intrínseca com a realidade subjacente. Em outras palavras, o universo revelado pelo DMT é aquele onde os milagres são possíveis.
O DMT pode ter também a sua produção estimulada através da ingestão de determinadas plantas.
"Sarça" é uma espécie de nome genérico para um tipo de arbusto espinhoso, da família das acácias. Na verdade, botanicamente, a sarça seria mais aparentada da Jurema, do que da Ayahuasca. Não por acaso, a Jurema, planta espinhosa do sertão nordestino é também utilizada como forma de conexão com o mundo espiritual em rituais indígenas.
A figura utilizada na Bíblia, tendo a sarça "um fogo que não consome", pode parecer um tanto quanto estranho ou deveras milagroso para a maioria das pessoas. Mas não é de fato, tão sobrenatural assim, para quem faz ou fez o uso da Ayahuasca, para citar uma (a nossa, brasileira e amazônica) entre outras centenas de plantas já catalogadas, capazes de elevar a consciência humana.
Depois disso fica difícil acreditar que Deus só tenha se manifestado no Monte Sinai, para o povo Hebreu, e que o restante deste lindo planeta com incontáveis culturas e tradições esteja desprovido da presença divina. Acreditar nisto seria o mesmo que fechar os olhos para a realidade.
Lá diante do povo Yawanawá, a história de Moisés, me veio de outro modo. Lembrei que os hebreus viviam como escravos, trabalhando na terra dos outros, e tendo que esconder sua própria cultura, alheios à história dos seus ancestrais.
Então Moisés subiu a montanha e lá no Monte Sinai, através de uma planta, conversou com Deus e este lhe ordenou que retirasse seu povo da escravidão e o conduzisse pelo deserto até a Terra Prometida, também fez severas recomendações com relação ao culto religioso quer deveria seguir a mesma forma da aliança selada anteriormente com seus ancestrais: Abraão, Isaac e Jacó.
Lá nos Yawanawá, existe um terreiro sagrado, onde cresce uma de suas plantas sagradas. O Mucá. É lá, de joelhos no chão e pés descalços, que as lideranças espirituais da tribo recebem as instruções e orientações para conduzirem suas vidas pessoais e da comunidade. É através de suas plantas sagradas que vêm buscando se re-conectarem com a verdade de seus ancestrais.
Graças à orientação recebida através destas plantas sagradas é que os povos indígenas vão se transformando, de ex-escravos do sistema patronal e de uma cultura e religião alheia à sua própria, em protagonistas de sua própria história. Deixando para traz um passado de opressão e atravessando o Mar Vermelho, realizando no seu dia-a-dia o milagre do impossível: renascendo das suas próprias cinzas.
Um presente que nos foi legado pelos povos indígenas desta região e que hoje é compartilhado por milhares de pessoas em todo mundo e que tem permitido também, que muita gente possa também renascer de suas próprias cinzas, ajudando a abrir os olhos para o verdadeiro milagre que é a vida e o Universo em que vivemos.
Saber contar uma história, é tudo.
Leandro Altheman
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