"A tecnologia digital é a arte de criar necessidades desnecessárias que se tornam absolutamente imprescindíveis." (Joelmir Beting)
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
22 anos sem Chico Mendes
A data de hoje relembra um dos mais tristes episódios vividos pela sociedade acreana. O assassinato do líder sindical Chico Mendes, 44 anos, há 22 de dezembro de 1988 com tiros de escopeta no peito na porta dos fundos de sua casa, quando saía de casa para tomar banho.
Chico Mendes (nome completo: Francisco Alves Mendes Filho) foi um dos mais importantes ambientalistas (pessoas que lutam em defesa da preservação do meio ambiente) brasileiros. Nasceu na cidade de Xapuri (estado do Acre) no dia 15 de dezembro de 1944. Trabalhou na região da Amazônia, desde criança, com seu pai, como seringueiro (produzindo borracha). Tornou-se vereador e sindicalista.
A história do líder seringueiro
Chico Mendes, ainda criança,começou seu aprendizado do ofício de seringueiro, acompanhando o pai em excursões pela mata. Só aprendeu a ler aos 19 e 20 anos, já que na maioria dos seringais não havia escolas, nem os proprietários de terras tinham intenção de criá-las em suas propriedades. [1]
Iniciou a vida de líder sindical em 1975, como secretário geral do recém-fundado Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia. A partir de 1976 participou ativamente das lutas dos seringueiros para impedir o desmatamento através dos "empates" - manifestações pacíficas em que os seringueiros protegem as árvores com seus próprios corpos. Organizava também várias ações em defesa da posse da terra pelos habitantes nativos.
Em 1977 participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, e foi eleito vereador pelo MDB local. Recebe então as primeiras ameaças de morte, por parte dos fazendeiros, e começa a ter problemas com seu próprio partido, que não se identificava com suas lutas.
Em 1979 Chico Mendes reúne lideranças sindicais, populares e religiosas na Câmara Municipal, transformando-a em um grande foro de debates. Acusado de subversão, é submetido a duros interrogatórios. Sem apoio, não consegue registrar a denúncia de tortura que sofrera em dezembro daquele ano.
Representantes dos povos da floresta (seringueiros, índios, quilombolas) apresentam reivindicações durante 2º Encontro Nacional, em BrasíliaChico Mendes foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores e um dos seus dirigentes no Acre, tendo participado de comícios com Lula na região. Em 1980 foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional a pedido de fazendeiros da região, que procuraram envolvê-lo no assassinato de um capataz de fazenda, possivelmente relacionado ao assassinato do presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Brasiléia, Wilson Sousa Pinheiro.
Em 1981 Chico Mendes assume a direção do Sindicato de Xapuri, do qual foi presidente até sua morte. Candidato a deputado estadual pelo PT nas eleições de 1982, não consegue se eleger.
Acusado de incitar posseiros à violência, foi julgado pelo Tribunal Militar de Manaus, e absolvido por falta de provas, em 1984.
Liderou o 1º. Encontro Nacional dos Seringueiros, em outubro de 1985, durante o qual foi criado o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), que se tornou a principal referência da categoria. Sob sua liderança a luta dos seringueiros pela preservação do seu modo de vida adquiriu grande repercussão nacional e internacional. A proposta da "União dos Povos da Floresta" em defesa da Floresta Amazônica busca unir os interesses dos indígenas, seringueiros, castanheiros, pequenos pescadores, quebradeiras de coco babaçu e populações ribeirinhas, através da criação de reservas extrativistas. Essas reservas preservam as áreas indígenas e a floresta, além de ser um instrumento da reforma agrária desejada pelos seringueiros.
Em 1987, Chico Mendes recebeu a visita de alguns membros da ONU, em Xapuri, que puderam ver de perto a devastação da floresta e a expulsão dos seringueiros causadas por projetos financiados por bancos internacionais. Dois meses depois leva estas denúncias ao Senado norte-americano e à reunião de um banco financiador, o BID. Os financiamentos a esses projetos são logo suspensos. Na ocasião, Chico Mendes foi acusado por fazendeiros e políticos locais de "prejudicar o progresso", o que aparentemente não convence a opinião pública internacional. Alguns meses depois, Mendes recebe vários prêmios internacionais, destacando-se o Global 500, oferecido pela ONU, por sua luta em defesa do meio ambiente.
Ao longo de 1988 participa da implantação das primeiras reservas extrativistas criadas no Estado do Acre. Ameaçado e perseguido por ações organizadas após a instalação da UDR no Estado, Mendes percorre o Brasil, participando de seminários, palestras e congressos onde denuncia a ação predatória contra a floresta e as violências dos fazendeiros contra os trabalhadores da região.
Após a desapropriação do Seringal Cachoeira, em Xapuri, propriedade de Darly Alves da Silva, agravam-se as ameaças de morte contra Chico Mendes que por várias vezes denuncia publicamente os nomes de seus prováveis responsáveis. Deixa claro às autoridades policiais e governamentais que corre risco de perder a vida e que necessita de garantias.
No 3º Congresso Nacional da CUT, volta a denunciar sua situação, similar à de vários outros líderes de trabalhadores rurais em todo o país. Atribui a responsabilidade pela violência à UDR. A tese que apresenta em nome do Sindicato de Xapuri, Em Defesa dos Povos da Floresta, é aprovada por aclamação pelos quase seis mil delegados presentes. Ao término do Congresso, Mendes é eleito suplente da direção nacional da CUT. Assumiria também a presidência do Conselho Nacional dos Seringueiros a partir do 2º Encontro Nacional da categoria, marcado para março de 1989, porém não sobreviveu até aquela data.
Em 22 de dezembro de 1988, exatamente uma semana após completar 44 anos, Chico Mendes foi assassinado com tiros de escopeta no peito na porta dos fundos de sua casa, quando saía de casa para tomar banho. Chico anunciou que seria morto em função de sua intensa luta pela preservação da Amazônia, e buscou proteção, mas as autoridades e a imprensa não deram atenção. Casado com Ilzamar Mendes (2ª esposa), deixou dois filhos, Sandino e Elenira, na época com dois e quatro anos de idade, respectivamente. Em 1992 foi reconhecida através de exames de DNA uma terceira filha.
Após o assassinato de Chico Mendes mais de trinta entidades sindicalistas, religiosas, políticas, de direitos humanos e ambientalistas se juntaram para formar o "Comitê Chico Mendes". Eles exigiam providencias e através de articulação nacional e internacional pressionaram os órgãos oficiais para que o crime fosse punido. Em dezembro de 1990, a justiça brasileira condenou os fazendeiros Darly Alves da Silva e Darcy Alves Ferreira, responsáveis por sua morte, a 19 anos de prisão. Darly fugiu em fevereiro de 1993 e escondeu-se num assentamento do INCRA, no interior do Pará, chegando mesmo a obter financiamento público do Banco da Amazônia sob falsa identidade. Só foi recapturado em junho de 1996. A falsidade ideológica rendeu-lhe uma segunda condenação: mais dois anos e 8 meses de prisão
Jairo Carioca, Da redação de ac24horas
Rio Branco, Acre
Inclusão Digital: Sete mil estudantes do ensino médio receberam netbook
O governador Binho Marques lançou nesta quarta-feira, 08, na Escola Armando Nogueira, o Programa Ensinomedio.ac.Trata-se de um programa inédito de inclusão digital, que disponibilizará mais de sete mil netbook para estudantes do ensino médio de todos os 22 municípios do Acre.
A iniciativa, além de proporcionar a mais de sete mil estudantes a inserção desses jovens aos computadores, também incentivará a utilização das novas tecnologias como forma de ampliar sua inclusão digital, aumentar a taxa de conclusão e reduzir os índices de abandono e repetência neste nível de ensino. Os alunos da rede pública que conseguirem entrar na universidade ainda poderão usufruir do equipamento através de um novo termo de adesão.
O Programa Ensinomedio.ac consiste na cessão temporária de equipamentos portáteis de informática tipo netbook aos alunos concluintes do Ensino Médio das unidades de ensino da rede pública estadual. Para ter direito à máquina, o aluno tem que estar devidamente matriculado e com freqüência regular.
Ao todo, 47 escolas em todo o Estado receberão computadores portáteis. Armando Nogueira e Barão do Rio Branco terão o maior número de netbook, com 435 e 587, respectivamente. Em Cruzeiro do Sul, as cinco escolas de ensino médio estaduais receberão no total, 821 máquinas. Os investimentos no programa são da ordem de R$ 5 milhões de reais, sendo 1,2 milhões com recursos próprios e o restante financiado pelo BNDES.
A Política de inclusão digital no Acre teve início em 2006 com o programa denominado Comunidade Digital, que compreende centros comunitários denominados Telecentros, disponíveis em todos os municípios do Estado do Acre.
Telecentros são Espaços públicos localizados em comunidades e locais estratégicos, estruturados com computadores para cursos de iniciação a microinformática, oficinas temáticas e acesso à Internet, sob orientação e acompanhamento de monitores capacitados.
O programa Comunidade Digital foi inserido em um projeto amplo, denominado de Floresta Digital para a construção de uma rede digital com cobertura em todas os municípios do Acre e o Programa Ensinomedio.ac faz parte desta revolução digital que o Estado vivencia.
Números do Programa Ensinomedio.ac :
7.065 netbook
Escolas atendidas: 47 instituições de ensino médio nos 22 municípios
Investimentos: R$ 5 milhões
Binho lança Ensinomedio.ac, que repassa mais de 7 mil netbooks ao ensino médio.
Inserido no contexto do programa Floresta Digital, maior ação de inclusão digital da Amazônia, o programa Ensinomedio.ac foi lançado nesta quarta-feira, 8, pelo governador Binho Marques em cerimônia realizada no Colégio Estadual Armando Nogueira. Com investimentos superiores a R$5 milhões, o Ensinomedio.ac começou a distribuição de 7.065 netbooks para estudantes do último ano do ensino médio de todos os 22 municípios do Acre. Diretores de escolas representantes das regionais Alto Acre, Purus, Envira/Tarauacá, Baixo Acre e Juruá receberam os equipamentos que chegarão às mãos dos alunos no próximo ano letivo.
Estão sendo distribuídas 40 toneladas de equipamentos. “Nosso povo é um grande exemplo de superação. Isso que está acontecendo é o sucesso de um movimento por uma educação pública para todos”, disse o governador ao associar o Ensinomedio.ac com os avanços do ensino nos últimos doze anos e do futuro da mobilização em favor de uma escola universalizada e de alta qualidade. “Nossa missão não é simples. Nosso desejo é construir uma sociedade nova, um outro modelo de sociedade”, completou Binho Marques.
A iniciativa proporciona a inserção dos estudantes ao mundo da informática, incentivando a utilização das novas tecnologias, aumentar a taxa de conclusão e reduzir os índices de abandono e repetência no ensino médio. Os alunos da rede pública que conseguirem entrar na universidade ainda poderão continuar utilizando o equipamento através de um novo termo de adesão, assinado pela família do estudante beneficiado.
O Programa Ensinomedio.ac consiste na cessão temporária de equipamentos portáteis de informática tipo netbook aos alunos concluintes do Ensino Médio das unidades de ensino da rede pública estadual. Para ter direito à máquina, o aluno tem que estar devidamente matriculado e com freqüência regular. Os netbooks são uma versão menor e mais leve dos notebooks. Eles são mais para acesso à web e podem realizar diversas outras atividades. Eles também rodam um sistema operacional que controla o hardware e os programas – no caso trata-se do Linux, de licença pública. Usam processadores e placas de vídeo integradas bem simples. Os netbooks do Ensinomedio.ac usa processador Atom N450 da Intel, de até 1 GB de RAM e HD de 160 mb. A tela é de LCD com 10 polegadas, com web cam e wi-fi. A marca é Positivo.
Ao todo, 47 escolas em todo o Estado receberão computadores portáteis. Armando Nogueira e Barão do Rio Branco terão o maior número de netbooks, com 435 e 587, respectivamente. Em Cruzeiro do Sul, as cinco escolas de ensino médio estaduais receberão no total, 821 máquinas. Os investimentos no programa são da ordem de R$ 5 milhões de reais, sendo 1,2 milhões com recursos próprios e o restante financiado pelo BNDES.
Estiveram presentes o vice-prefeito de Rio Branco, Eduardo Farias; o presidente da Câmara de Vereadores de Rio Branco, Elias Campos; o presidente do Conselho de Diretores de Escolas Públicas (Codep), Wilson Guimarães, gestores e estudantes.
A Política de inclusão digital no Acre teve início em 2006 com o programa denominado Comunidade Digital, que compreende centros comunitários denominados Telecentros, disponíveis em todos os municípios do Estado do Acre. Telecentros são espaços públicos localizados em comunidades e locais estratégicos, estruturados com computadores para cursos de iniciação a microinformática, oficinas temáticas e acesso à Internet, sob orientação e acompanhamento de monitores capacitados. Devido à envergadura da política educacional do Acre, a secretária de Educação, Maria Correia, fez analogia a uma casa antiga que passa por uma reforma sem que seus moradores tenham se mudado. A comparação se refere a um processo em andamento, que ainda tem muito trabalho pela frente. “Quando a gente vê um programa como este é o moderno chegando à casa antiga mesmo a obra não estando pronta”, disse.
A revolução do conhecimento com o Floresta Digital
O Ensinomedio.ac faz parte da revolução tecnológica vivenciada pelo Acre através do Floresta Digital, que visa a construção de uma rede de comunicação de dados em banda larga com aceso gratuito à Internet para o cidadão na área urbana de todas as cidades, e em 100 pontos de comunidades isoladas.
A rede Floresta Digital será utilizada para prover desde o acesso público gratuito à Internet para o cidadão, como também disponibilizar os recursos de governo eletrônico –o projeto Governo Único ou EGoverno. Com isso, governo e cidadão contam com mais um canal de interação através da rede Floresta Digital que será um meio de desenvolvimento econômico, social e intelectual ao promover mais acesso a grande rede de comunicação mundial, a Internet.
FICHA TÉCNICA DO NETBOOK
Computador portátil Positivo
1 giga de memória, HD 160
Processador Atom N450 Intel
Tela LCD 10´´, web cam, rede wirelles
Sistema operacional Linux 3.0 com BR Office e Conteúdo MEC (vídeos, áudio, mídias e textos relacionados ao terceiro ano do EM)
Diretores exaltam programa
Diretores que receberam os equipamentos e irão distribuí-los em suas escolas guardam grande expectativa em relação ao programa Ensinomedio.ac. A professora Ivani Oliveira Lima, da escola Iris Céllia Cabanellas Zanini, de Assis Brasil, vê evolução no processo de aprendizagem especialmente entre os alunos de menor poder aquisitivo. “Esta iniciativa vai incentivar os alunos de baixa renda. Vai ser muito importante”, disse ela.
O diretor da escola Borges de Aquino, Erickson Araújo da Costa, anunciou que há um clima de euforia entre os cerca de oitenta alunos que serão beneficiados com os netbooks. “É uma satisfação para os estudantes poderem entrar no mundo da tecnologia”, afirmou. Clícia Pantoja, diretora da escola dom Júlio Matiolli, de Sena Madureira, representou os diretores da Regional Purus, avaliou as amplas possibilidades que se abrem a partir do acesso ao netbook. “É um anseio da juventude ter um campo maior para pesquisas”, disse Clícia.
O QUE ELES DISSERAM
“Esse programa vem nos facilitar acesso aos sites de pesquisas”.
Raildson Braga, estudante do ensino médio no Cean
“Mudou tudo. Isso é fantástico. Sou muito grato em ter tido o senhor, Binho Marques, como governador”.
Wilson Guimarães, presidente do Codep´
“Não encontro palavras para agradecer a Deus pelo que está sendo feito na educação. Este momento deve sim ser registrado com letras maiúsculas para que as pessoas não se esqueçam”.
Elias Campos, presidente da Câmara de Vereadores de Rio Branco
“Até 1999, o segundo grau não existia em oito municípios do Acre. Agora temos este programa, que é um grande avanço na construção dessa casa que é a educação”.
Eduardo Farias, vice-prefeito de Rio Branco
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
"A BALSA DOS DERROTADOS"
Essa foi uma semana dura para alguns parlamentares brasileiros, derrotados nas últimas eleições. Em especial para algumas figuras antológicas do Senado Federal. Um após o outro, foram subindo à tribuna de honra e proferindo seus emocionados discursos de despedida.
Alguns realmente abrem lacunas no cenário político nacional, mas a grande maioria já vai tarde. A balsa dos derrotados apitou no porto fétido do Senado Federal e já podemos ver os lenços úmidos sacudindo nas janelas. Enquanto isso, nos obscuros corredores, marmotas seguem brindando em deboche a derrota alheia. Mas não sem antes pedir um aparte para alfinetar: “Vossa Excelência nos fará falta”, ou “o nobre colega passará à história”, ou ainda “o preclaro amigo deixa aqui um grande irmão”. Que palhaçada!
Para o bem e para o mal, o Senado Federal estará diferente na próxima legislatura. Alguns deixam suas cadeiras para assumir os laureados mandatos de governador em seus estados de origem, como é o caso do goiano Marconi Perillo e do capixaba Renato Casagrande. Outros estão de malas prontas graças às retumbantes derrotas que sofreram, como o aguerrido amazonense Arthur Virgílio, e o cearense Tasso Jereissati. Há sempre o discurso de que a maioria perdeu ganhando e coisa e tal. Mas é isso: perderam a eleição e perderam suas cadeiras privilegiadas. É a vida. E se não fosse assim, Romários e Tiriricas nunca chegariam lá. É a democracia.
O ápice, o gran finale, ficou por conta da ex-presidenciável Marina Silva. Trajando um de seus conhecidos vestidos étnicos, emoldurado com um ecologicamente correto colar de coco, ela emocionou o país em um longo discurso de quase duas horas. Lembrou sua trajetória, deixou lágrimas rolarem ao falar de sua saída do PT, agradeceu ao PV e falou, falou, falou muito. O presidente da sessão, também em despedida da cadeira, senador Mão Santa, concedeu-lhe todas as escusas pelo extrapolar do tempo e parlamentares se estapearam por uma oportunidade de apartear e dar uma choradinha ao microfone no adeus à seringueira acreana que fez história na República.
E foi na História que Marina buscou suas melhores palavras. Para encerrar, foi a um fato que remonta sua primeira participação na casa, 16 anos atrás, quando subiu à tribuna e deixou sua filha caçula sentada na cadeira. O então presidente da sessão, o ex-senador sul-mato-grossense Júlio Campos, solicitou a retirada do plenário daquela criança de três anos de idade, batendo o pé que o regimento interno não permitia ali “a presença de pessoas estranhas”. Num frenético embate institucional, a menina deu muito trabalho aos seguranças, num dos mais bravos atos de desobediência civil já protagonizados no Senado Federal. Tal filha, tal mãe. Emocionou-se. Emocionou-nos. Mas era hora de ir embora.
Quis a ironia do destino e o maquiavelismo histórico que a ex-senadora Marina Silva, ao encerrar seu longo discurso à margem do poluído rio, fosse sucedida pelo “impeachado” ex-presidente Fernando Collor. Prova inconteste de que essa lenga-lenga de que é possível perder ganhando não passa de um discurso consolador do mais baixo calibre. Porque no fim, quem perde, perde. Marina, no dito popular dos acreanos aos que são derrotados nas urnas, “seguiu na balsa”. Perdeu a eleição, perdeu o mandato de senadora, perdeu a tribuna oficial para seu verbo. Os 20 milhões de votos que teve, serão devidamente arquivados pelo Tribunal Superior Eleitoral. Em seu lugar ficaram todos os Collors, Sarneys, Renans e todo azar de peixes-mortos que empobrecem e nauseabundam o legislativo brasileiro. Quem perde, perde. Perdeu Marina. Perdemos nós. E a balsa já está partindo.
Helder Caldeira - Escritor, colunista político, palestrante
heldercaldeira@estadao.com.br
Alguns realmente abrem lacunas no cenário político nacional, mas a grande maioria já vai tarde. A balsa dos derrotados apitou no porto fétido do Senado Federal e já podemos ver os lenços úmidos sacudindo nas janelas. Enquanto isso, nos obscuros corredores, marmotas seguem brindando em deboche a derrota alheia. Mas não sem antes pedir um aparte para alfinetar: “Vossa Excelência nos fará falta”, ou “o nobre colega passará à história”, ou ainda “o preclaro amigo deixa aqui um grande irmão”. Que palhaçada!
Para o bem e para o mal, o Senado Federal estará diferente na próxima legislatura. Alguns deixam suas cadeiras para assumir os laureados mandatos de governador em seus estados de origem, como é o caso do goiano Marconi Perillo e do capixaba Renato Casagrande. Outros estão de malas prontas graças às retumbantes derrotas que sofreram, como o aguerrido amazonense Arthur Virgílio, e o cearense Tasso Jereissati. Há sempre o discurso de que a maioria perdeu ganhando e coisa e tal. Mas é isso: perderam a eleição e perderam suas cadeiras privilegiadas. É a vida. E se não fosse assim, Romários e Tiriricas nunca chegariam lá. É a democracia.
O ápice, o gran finale, ficou por conta da ex-presidenciável Marina Silva. Trajando um de seus conhecidos vestidos étnicos, emoldurado com um ecologicamente correto colar de coco, ela emocionou o país em um longo discurso de quase duas horas. Lembrou sua trajetória, deixou lágrimas rolarem ao falar de sua saída do PT, agradeceu ao PV e falou, falou, falou muito. O presidente da sessão, também em despedida da cadeira, senador Mão Santa, concedeu-lhe todas as escusas pelo extrapolar do tempo e parlamentares se estapearam por uma oportunidade de apartear e dar uma choradinha ao microfone no adeus à seringueira acreana que fez história na República.
E foi na História que Marina buscou suas melhores palavras. Para encerrar, foi a um fato que remonta sua primeira participação na casa, 16 anos atrás, quando subiu à tribuna e deixou sua filha caçula sentada na cadeira. O então presidente da sessão, o ex-senador sul-mato-grossense Júlio Campos, solicitou a retirada do plenário daquela criança de três anos de idade, batendo o pé que o regimento interno não permitia ali “a presença de pessoas estranhas”. Num frenético embate institucional, a menina deu muito trabalho aos seguranças, num dos mais bravos atos de desobediência civil já protagonizados no Senado Federal. Tal filha, tal mãe. Emocionou-se. Emocionou-nos. Mas era hora de ir embora.
Quis a ironia do destino e o maquiavelismo histórico que a ex-senadora Marina Silva, ao encerrar seu longo discurso à margem do poluído rio, fosse sucedida pelo “impeachado” ex-presidente Fernando Collor. Prova inconteste de que essa lenga-lenga de que é possível perder ganhando não passa de um discurso consolador do mais baixo calibre. Porque no fim, quem perde, perde. Marina, no dito popular dos acreanos aos que são derrotados nas urnas, “seguiu na balsa”. Perdeu a eleição, perdeu o mandato de senadora, perdeu a tribuna oficial para seu verbo. Os 20 milhões de votos que teve, serão devidamente arquivados pelo Tribunal Superior Eleitoral. Em seu lugar ficaram todos os Collors, Sarneys, Renans e todo azar de peixes-mortos que empobrecem e nauseabundam o legislativo brasileiro. Quem perde, perde. Perdeu Marina. Perdemos nós. E a balsa já está partindo.
Helder Caldeira - Escritor, colunista político, palestrante
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